2006-05-11
Emoções e Lugares da História
Edifício da ex-PIDE/DGS na Rua António Maria Cardoso, Lisboa
Foto do Site do Jornal República
José Pacheco Pereira assina, no PÚBLICO de hoje, a sua habitual crónica. Fala-nos de quão desejável seria podermos tratar o nosso passado colectivo com a isenção e o distanciamento que a presença e intervenção das pessoas envolvidas nos acontecimentos narrados dificulta. Utiliza a expressão “puramente histórico” para resolver a tensão memória–história a contento daquilo a que chama equilíbrio, expulsando a dimensão emocional do registo e interpretação dos factos, etc.
Depois dá o exemplo da sede da PIDE, na António Maria Cardoso, e do projecto de ali se vir a fazer um museu do fascismo. Acha inadequada a pretensão – sobretudo em período de vacas magras – pois poder-se-ia, com vantagem (na opinião dele), criar novas valências no Forte de Peniche e resolver tudo de modo muito mais prático.
Todavia, como ele certamente sabe, os produtos com que julgamos o passado carregam sentidos que vão além das conveniências imediatas e parcelares.
Peniche, será sempre o sítio em que o regime fascista mantinha sob prisão muitos daqueles e daquelas que o afrontavam séria e radicalmente. Por isso, ainda que de modo subliminar, sempre passará por aquelas muralhas a sombra da ditadura na sua fase poderosa e triunfal. Enquanto que, pela sede da PIDE, na António Maria Cardoso, onde se centralizava o terrorismo de Estado, - e onde os pides, no próprio dia 25 de Abril de 1974, desesperados, ainda mataram 4 pessoas e feriram outras 45, antes de se renderem - passará sempre um vento de derrota do regime. Era ali que os agentes do Estado Novo se sentiam em segurança; ali processavam as informações provenientes de uma vasta rede de informadores; ali torturavam afirmando que a lei não alcançava aqueles andares…
Suponho que mesmo daqui a muitos, muitos anos, o suporte da memória fará a sua diferença. E o ser dentro da cidade, no coração da baixa, também tornará mais espessa e significativa a fronteira entre a ditadura e a democracia.
A história diz respeito, também, às emoções, aos sentidos e às diferenças dos lugares do poder.
Comments:
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Pois. Vocês só não explicaram ainda o seguinte: se fôr criado um Museu da Repressão Fascista, quem o visitará?
Para que serve um museu que ninguém visita, porra?
Querem fazer mais burrices como a da compra do cinema São Jorge, no centro de Lisboa, a expensas do contribuinte, e que desde então permanece fechado?
As coisas, os edifícios, servem para se usar. Não para enfeitar, nem para servir de memória. Servem para se usar.
O edifício da PIDE serve para ser usado. Não para estar lá só por estar, e a expensas de todos nós.
Luís Lavoura
Para que serve um museu que ninguém visita, porra?
Querem fazer mais burrices como a da compra do cinema São Jorge, no centro de Lisboa, a expensas do contribuinte, e que desde então permanece fechado?
As coisas, os edifícios, servem para se usar. Não para enfeitar, nem para servir de memória. Servem para se usar.
O edifício da PIDE serve para ser usado. Não para estar lá só por estar, e a expensas de todos nós.
Luís Lavoura
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Caro Luis Lavoura,
se se tratasse de instalar um museu «que ninguém visita», não valeria a pena, de facto.
Não estou a ver o que um centro de documentação, com programa, encontros, conferências, divulgação de novos resultados, estudos, produção e reprodução documental em diversos suportes, tem a ver com o museu «às moscas» que o seu comentário imagina.
De qualquer modo, o meu ponto era outro. Como acho que a história da história se vai valorizando (ou esquecendo) com o que dela se faz, faça-me o favor de recordar que o sentido que a Revolução de Abril ganhou se deveu muito ao sinal dado pelo MFA (que, como por certo sabe, contrariou os planos dos spinolistas) em ocupar e, depois, extinguir a PIDE/DGS.
Se esse lugar da memória não ficar bem demarcado na cidade, Lisboa esquecer-se-á (um pouco mais) de que o fascismo português foi finalmente derrotado, naqueles dias e naqueles lugares.
Cordialmente
Caro Luis Lavoura,
se se tratasse de instalar um museu «que ninguém visita», não valeria a pena, de facto.
Não estou a ver o que um centro de documentação, com programa, encontros, conferências, divulgação de novos resultados, estudos, produção e reprodução documental em diversos suportes, tem a ver com o museu «às moscas» que o seu comentário imagina.
De qualquer modo, o meu ponto era outro. Como acho que a história da história se vai valorizando (ou esquecendo) com o que dela se faz, faça-me o favor de recordar que o sentido que a Revolução de Abril ganhou se deveu muito ao sinal dado pelo MFA (que, como por certo sabe, contrariou os planos dos spinolistas) em ocupar e, depois, extinguir a PIDE/DGS.
Se esse lugar da memória não ficar bem demarcado na cidade, Lisboa esquecer-se-á (um pouco mais) de que o fascismo português foi finalmente derrotado, naqueles dias e naqueles lugares.
Cordialmente
Bem visto, Manolo. Como dizias há tempos aqui no vosso puxa-puxa, cuidado com os pés. A gente queixa-se da pata direita e vá de nos retalharem a esquerda. Este tal de Lavoura deve querer por lá o espólio de São Banaboião.
Abraço
P. Alves
Abraço
P. Alves
O museu da PIDE está para certa esquerda (eu considero-me de esquerda, mas não dessa) assim como o Parque Mayer está para a direita santanista.
Tal como Santana Lopes rememora os tempos gloriosos do teatro de revista, há 50 anos atrás, e pretende fazê-los reviver, gastando milhões dos nossos impostos a reconstruir teatros que jamais terão espetadores, assim certa esquerda rememora os tempos gloriosos da resistência ao fascismo, há 50 anos atrás, e pretende fazê-los reviver gastando milhões dos nossos impostos a reconstruir sedes da PIDE que jamais terão visitantes.
Rejeito tanto as pretensões desta esquerda quanto rejeito as de Santana Lopes.
Olhemos para o presente e para o futuro. Não procuremos eternamente reviver o passado. E, muito menos, gastar o dinheiro dos impostos de todos com as nossas fantasias.
Luís Lavoura
Tal como Santana Lopes rememora os tempos gloriosos do teatro de revista, há 50 anos atrás, e pretende fazê-los reviver, gastando milhões dos nossos impostos a reconstruir teatros que jamais terão espetadores, assim certa esquerda rememora os tempos gloriosos da resistência ao fascismo, há 50 anos atrás, e pretende fazê-los reviver gastando milhões dos nossos impostos a reconstruir sedes da PIDE que jamais terão visitantes.
Rejeito tanto as pretensões desta esquerda quanto rejeito as de Santana Lopes.
Olhemos para o presente e para o futuro. Não procuremos eternamente reviver o passado. E, muito menos, gastar o dinheiro dos impostos de todos com as nossas fantasias.
Luís Lavoura
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Meu caro Luis Lavoura,
não tenho inclinações confessionalistas. Seja o meu caro de esquerda ou de direita, para mim dá no mesmo. Aqui vivo e aqui morro pelos meus argumentos, sem necessidade de rótulos, bandeiras ou slogans.
O meu ponto (conforme já lhe referi) é o do lugar da PIDE/DGS no Estado fascista, não necessariamente há 50 anos (não lhe propus que recuasse tanto...) mas há 32 anos, quando eclodiu a Revolução de Abril de 1974.
Parece-me que podemos resumir assim as nossas posições: eu sou a favor de marcar indelevelmente aquele edifício, atribuindo-lhe uma importância simbólica que justifica uma mudança da sua funcionalidade, imprimindo-lhe a distinção histórica de, ao obrigar a PIDE/DGS a render-se, ditar, em grande parte, o carácter e a sorte da revolução; o Luís Lavoura, não.
Para mim é simples e dispensa-me de me pôr com folklore confessionalista a classificá-lo a si.
Pelos seus dois comentários anteriores, não fiquei a perceber se é contra por causa da falta de visitantes; porque celebrar a derrota da pide é apenas uma questão de saudosismo; ou se, somente, porque o pessoal que apoia a musealização é de uma esquerda diferente da sua.
Se quiser esclarecer, cá estou.
Cordialmente
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Meu caro Luis Lavoura,
não tenho inclinações confessionalistas. Seja o meu caro de esquerda ou de direita, para mim dá no mesmo. Aqui vivo e aqui morro pelos meus argumentos, sem necessidade de rótulos, bandeiras ou slogans.
O meu ponto (conforme já lhe referi) é o do lugar da PIDE/DGS no Estado fascista, não necessariamente há 50 anos (não lhe propus que recuasse tanto...) mas há 32 anos, quando eclodiu a Revolução de Abril de 1974.
Parece-me que podemos resumir assim as nossas posições: eu sou a favor de marcar indelevelmente aquele edifício, atribuindo-lhe uma importância simbólica que justifica uma mudança da sua funcionalidade, imprimindo-lhe a distinção histórica de, ao obrigar a PIDE/DGS a render-se, ditar, em grande parte, o carácter e a sorte da revolução; o Luís Lavoura, não.
Para mim é simples e dispensa-me de me pôr com folklore confessionalista a classificá-lo a si.
Pelos seus dois comentários anteriores, não fiquei a perceber se é contra por causa da falta de visitantes; porque celebrar a derrota da pide é apenas uma questão de saudosismo; ou se, somente, porque o pessoal que apoia a musealização é de uma esquerda diferente da sua.
Se quiser esclarecer, cá estou.
Cordialmente
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