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2006-05-22

 

Mais um simulacro de democracia?

Uma democracia não se mede pelo número de propostas de referendos.

Um país democrata será aquele que aposta, muito convicta, séria e objectivamente, através de meios idóneos, na prestação de informação sobre as questões estruturantes da vida do país, sejam internas sejam externas.

O nuclear é uma dessas questões.

Estranho apenas que para o grupo de "peritos" que hoje esteve a debater na TSF o nuclear e de que o DN fez eco, a questão central desta importantíssima questão se situe no referendo.

O referendo vem cedo demais. Fazer grande aposta desde já nele pode ser uma excelente forma de enviesar debate tão preciso.

Agora não acho importante e menos ainda aliciante tal ideia. Depois logo se vê.

O País encontra-se num grau de informação e de conhecimento próximo do Zero nesta matéria do nuclear. O que é urgente fazer é montar as condições para o debate - um debate alargado - não só em termos de segurança (nuclear vs outras fontes), mas de investimentos (alternativos), vantagens para a população em termos por exemplo de preços, que problemas resolve o nuclear num contexto mais vasto de um plano energético, que efeitos terá na economia, no seu todo, será que vai potenciar o aproveitamento do minério de urânio nacional, que estruturas são necessárias criar, pois é preciso (re) começar de novo o que se foi desmantelando ou ainda está a desmantelar (por exemplo IGM) e quais os custos/benefícios dessas medidas que necessariamente terão de se tomar, algumas com ou sem nuclear.

Comments:
"será que vai potenciar o aproveitamento do minério de urânio nacional"

Esa frase é um disparate. Nós vivemos hoje-em-dia numa economia aberta, internacionalizada. Em cada momento, compra-se o minério de urânio que fôr mais barato. Se a África do Sul nos vender urânio a metade do preço do nacional, então compra-se o sul-africano e deixa-se estar o português no subsolo.

A Alemanha atualmente não minera carvão no Ruhr: fica-lhe três vezes mais barato importar carvão da China, do Canadá ou da África do Sul.

Além disso, a exploração mineira é uma atividade altissimamente poluente. Se não tivermos que extrair minério de urânio cá em Portugal, melhor. A mineração do urânio já causou problema ambientais e de saúde pública que serão dificílimos de alguma vez resolver.

Luís Lavoura
 
Luis Lavoura

O "disparate" é livre, quer o meu quer o seu.

Mas a frase que considera tão disparatada tem uma envolvente muito actual. Quando algumas empresas multinacionais encaram a hipótese de uma candidatura à exploração do nosso minério, o que você afirma deixa de ter sentido. Segundo admitamos que o nuclear tem viabilidade em Portugal. Seria um começar do Zero e, nestas condições, parece-me que ponderar um projecto destes em todas as suas relações potenciais com os pés assentes tendo em conta o nosso conhecimento tecnológico e as possíveis parcerias e é evidente as reacções dos mercados é um bom caminho exploratório.
 
Aquilo que eu disse tem todo o sentido, quer haja empresas (multinacionais ou não) a explorar urânio em Portugal ou não. Se Portugal tiver que comprar urânio a uma empresa qualquer, comprará o urânio mais barato que encontrar. Tanto faz que a empresa seja "portuguesa" como "multinacional" (O que é isso? As empresas não têm pátria), e tanto faz que o urânio em questão tenha sido extraído em Portugal, como que tenha sido extraído na África do Sul, como que seja uma mistura de urânio "nosso" e "importado".

O facto de haver empresas multinacionais interessadas em voltar a explorar urânio em Portugal é muito mau sinal para a energia nuclear (e para a saúde dos portugueses): significa que o urânio está a ficar tão escasso, a nível mundial, que até já volta a ser economicamente rentável extraí-lo em Portugal. Significa que o urâio está muito caro nos mercados internacionais. Significa que a energia nuclear, pelo menos a convencional, não é uma solução de muito futuro, devido à ecassez de urânio.

Luís Lavoura
 
Luis Lavoura

A vida ensina-nos muito. É pelo menos essa a ideia que tenho.

E, neste contexto, nem tudo é branco nem preto. Há até um ditado popular talvez mais abrangente que diz: "nem tudo o que luz é ouro". Nesta contexto, não apreendi algumas coisas do seu comentário. Onde está o mal para a saúde dos portugueses com a eventual retoma da exploração do urânio?. Segundo, como "tudo é finito" é admissível que o urânio tenha um horizonte de exploração (mas o que é que não o tem?)e o que advém daí para o nuclear? Terceiro, conhece de certeza o problema dos ciclose as questões várias ligadas, entre elas os preços dos produtos. Quarto não apreendi o seu conceito de desenvolvimento. Se quando se equaciona um projecto não se equacionam as eventuais potencialidades é perde, pelo menos parte da viagem e na maioria das vezes até torná-la inútil.
 
O mal para a saúde dos portugueses está nos resíduos da mineração, os quais constituem um grave problema de poluição, e, de forma mais agura, os prejuízos diretos para a saúde dos mineiros que, ao minerar urânio, contraem doses substanciais de radioatividade.

Os reatores nucleares normais só utilizam urânio 235, um isótopo raro do urânio. Há projeções de que, tudo continuando na mesma, o urânio existente na Terra não dure mais do que o petróleo (mais meio século, digamos). Ou seja, a energia nuclear convencional não é aquela fonte inesgotável de energia que muitos julgam.

Luís Lavoura
 
Oh meu caro Luis Lavoura

Vou parar por aqui, porque acho que mais ninguém está interessado nesta troca simpática de ideias.

De qualquer modo, apenas acrescento que não o acompanho nas "consequências nefastas do trabalho numa mina de urânio" pois aproximam-se do trabalho noutra qualquer. O que se trata é de tecnologia e de cumprir as normas de segurança.

Quanto às reservas de urânio, como já referi tudo é finito. A questão não está aí. Está em que é preciso esclarecer os custos/benefícios para o consumidor do eventual uso desta fonte e de como resolver a segurança não das centrais mas dos resíduos, que diz-me a teoria, evoluiu - se muito.

Mas não sou um adepto acrítico do nuclear. Nem sequer sou adepto, sou para já defensor de uma discussão alargada desta questão, rejeitando tabús à partida. E achei despropositado que a questão nuclear do nuclear seja posto no referendo.

Sinto-me ignorante. Mas neste país parece que se aprecia o voto ignorante ou do absurdo.
 
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