2006-05-31
Talvez a Austrália com uma "opa amigável" consiga...
O herói australiano maj Alfredo Reinado nos media australianos: "EAST Timor's rebel commander, major Alfredo Reinado, says he will not surrender his weapons unless Prime Minister Mari Alkatiri resigns" [The Australian]
1) "O Primeiro Ministro Mari Alkatiri deveria demitir-se para evitar ser demitido" diz Kirsty Sword-Gusmão, esposa (australiana) do Presidente Xanana Gusmão, ao diário The Australian (edição on line de ontem, segundo o Público) aliás, na sequência de várias outras entrevistas do mesmo teor aos media australianos, nos últimos dias. (Ver também Ana Sá Lopes no DN Kirsty manda).
2) O major Alfredo Reinado, (que fez a guerrilha contra a ocupação indonésia na Austrália) chefe da tentativa de golpe de Estado, declara aos media australianos que não deporá as armas enquanto o 1ºM Alkatiri não for afastado.
3) O 1º M australiano John Howard não se cansa de repetir que os males que apoquentam Timor Leste têm um responsável, o 1ºM Alkatiri, tendo até afirmado, que "qualquer timorense seria melhor 1ºM de Timor que o sr Alkatiri".
4) O Ministro dos Negócios Estrangeiros australiano Alexander Downer avisou (Público de 2006-maio-30) que "Timor-leste corre o risco de se tornar um Estado falhado..." Entretanto as tropas australianas em Timor observam calmamente os incêndios e as pilhagens.
5) Desde o acordo entre Timor e a Austrália sobre as jazidas do petróleo que o Governo de Camberra sem respeitar a lei internacional sobre delimitação de fronteiras não conseguiu no entanto apoderar-se, tanto quanto queria, do petróleo de Timor em virtude da firme resistência de Mari Alkatiri que todos os analistas sabem que em Camberra este é o homem a abater.
Com todos estes australianos, o 1ºM John Howard, o MNE Alexander Downer, a australiana Kirsty Sword-Gusmão, mulher do presidente Xanana e o major "australiano" Alfredo Reinado chefe da rebelião, talvez a Austrália consiga em Timor Leste, com uma "opa amigável", o que a Indonésia não conseguiu com uma "opa hostil".
Excelente poste.
Vai uma chapelada!
Acrescento, apenas, uma boca :
Marcello Rebelo de Sousa, entre outros compungidos comentadores, apontou a desvantagem de Timor Lorosae ser predominantemente católico, enquanto o 1º Ministro é muçulmano. Tem, no fundo, uma certa razão. Portugal nunca se alcandorou em exportador da democracia, depois de os nossos antepassados se terem fartado de tentar expandir a fé cristã. Com comentadores assim, está na cara que não temos democracia que chegue para nós. Marcello mostra, assim, que o seu pensamento político se alicerça em princípios confessionalistas. Não me digam que fui o único a ouvir a missa de marcello no domingo passado?!...
Ruben de Carvalho, Diário de Notícias, 01/06/06
Há, relativamente à situação de Timor, uma surpreendente parcimónia verbal: qual a razão por que se não fala pura e simplesmente de tentativa de golpe de Estado?
O surpreendente desta significativa utilização é em poucas circunstâncias se reunir com tão transparente evidência aquilo que caracteriza uma acção política que mereceu vastíssima literatura, que inclui mesmo o manual técnico que poderia capítulo a capítulo ser compaginado com os acontecimentos de Díli.
Note-se como o agudizar do problema se inicia com um claro desestabilizar das forças militares e de segurança num calendário relacionado com um processo político democrático: o congresso da Fretilin, partido democraticamente maioritário no terreno. A expectativa do resultado da reunião não corresponderia às expectativas de determinadas forças, o que levou ao desencadear do processo de pressão. Falhada essa pressão, passou-se a uma fase seguinte de desestabilização objectiva da ordem pública mediante um processo clássico: desarticulação das forças de segurança e desencadear de violência por grupos armados aparentemente descontrolados.
Note-se que nem em Timor o método é original: os crimes de 1999 antes do referendo assumiram contornos muito semelhantes.
Desestabilizada a situação de segurança, iniciou-se a etapa mais directamente política: tentativa de alterar a composição dos órgãos do poder, democraticamente eleitos, mediante jogos de força que incluíram o recurso à pressão internacional até ao limite de intervenção de forças armadas estrangeiras.
Entretanto, só aparentemente a violência é descomandada: além dos miseráveis assassínios selectivos, note-se o extraordinário caso do orientado saque dos processos sobre os crimes de 1999.
As origens são minimamente obscuras, étnicas, regionalismos? Tudo isso existirá, mas há realidade mais politicamente interventora que jazidas de petróleo?
http://dn.sapo.pt/2006/06/01/opiniao/tecnica_golpe_estado.html
Parabésn pelo teu excelente post (embora, talvez diplomaticamente, tenhas esquecido o papel da Igreja Católica naquele drama). E abraço.
João Tunes
À Margarida pelo seu generoso empenho em pôr a nu a gramática do golpe de Estado. Aproveito para lhe pedir que transmita as minhas recomendações ao Ruben.
Ao Tunes que no seu Água Lisa tem excelentemente tirado o retrato à situação de Timor apenas esclareço que a ausêmcia de referência à Igreja de Timor e a muitos outros aspectos releva de que aqui apenas pretendia sublinhar o factor Austrália. Nuns posts mais abaixo já tinha dito algo sobre as dificuldades, precaridades e clima institucional interno.
Quanto ao Albano...recordo-me de numa tertúlia na Soeiro (onde por acaso estava MC) em que se falava do não socialismo em países do Leste da Europa, pouco tempo antes de eu abandonar a casa, ele ter despejado uma opinião/cassette do género desta. Eu lembrei-lhe que não estava em serviço e poderia dizer o que pensava (porque apesar do destreino ele pensa e outrora até pensava bem) e ele a seguir disse coisas mais razoáveis.
Oh Tunes e se lhe pedisses?
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