2006-06-14
Em Timor todos a favor da GNR...menos a Austrália
A GNR mercê do apoio manifestado pelo Presidente da República Xanana Gusmão, pelo Parlamento, pelo primeiro-ministro Alkatiri, pelo ministro dos Negócios Estrangeiros e da Defesa, Ramos Horta e por populares, parece ter, para já, vencido o braço de ferro com as tropas australianas ultrapassada a intimidatória desautorização inicial por estas infligida.
O Estado de Timor-Leste criado à la minute era algo insipiente e fragilíssimo. A Austrália apressou-se a chamar-lhe "Estado falhado" usando a terminologia, de mau agoiro, da actual Administração norte-americana. A democracia instituída, apesar de estimável, é algo artificial e ainda estranho numa sociedade pré-capitalista. O seu funcionamento, com pouco dinheiro, só seria possível com uma forte unidade dos órgãos superiores do Estado e daquilo que é o seu núcleo central, a força armada. Ora reside aí, precisamente, outra das grandes fragilidades da nova república publicamente exposta por ocasião da invasão do Iraque. Então um jornalista ao confrontar o primeiro-ministro sobre qual das posições valia, se a dele ou a do ministro dos Negócios Estrangeiros que oficialmente apoiara a invasão, obrigou aquele a dizer que Ramos Horta terá emitido tal opinião na qualidade de prémio Nobel da Paz. O que, se não deixa de ter a sua ironia, revela a desunião dentro do próprio Governo.
Por outro lado, ao distanciar-se da Fretilin, com todo o direito, como é óbvio, Xanana Gusmão ficou com a sua grande popularidade mas sem nenhuma força organizada e ficou sempre muito descontente com os poucos poderes do cargo de Presidente da República.
Os ataques e incêndios a edifícios do Estado e a casas de habitação e o pânico criado entre a população, que se seguiram à sedição militar não são seguramente apenas nem principalmente actos de vandalismo de marginais porque atingiram selectivamente habitações de elementos governamentais, de dirigentes da Fretilin e visaram concretamente o primeiro-ministro. Saquearam nomeadamente a Procuradoria-Geral da República donde fizeram desaparecer os dossiês que incriminavam diferentes responsáveis indonésios.
Houve sem dúvida crimes de marginais, aproveitamentos que parasitaram a confusão, mas parece inegável haver movimentos subterrâneos organizados, em coordenação com os militares sublevados, para conseguir o derrubamento do Governo, desejado pela Áustrália, pelas companhias de petróleo australianas perdedoras do concurso público e internacional para a exploração do petróleo, pela Igreja Católica que queria um Estado confessional, figuras de destaque da oposição e dos negócios.
A desestabilização do governo também não desagradou a Xanana Gusmão , cuja mulher, australiana, "aconselhava" em entrevista aos media do seu país "que Alkatiri se demitisse para não ter de ser demitido". E também não desagradou a Ramos Horta que já se mostrou disponível para ocupar o lugar do primeiro-ministro se este se demitir.
A comunicação social australiana, secundando o seu Governo conservador, não se tem cansado de referir o Governo de Timor-Leste como um mau Governo. E apenas uns meses depois de, juntamente com todos os dadores internacionais ter reconhecido a competência e seriedade do Governo (coisa raríssima em jovens países do terceiro mundo) nomeadamente na gestão dos recursos doados.
A imprensa australiana estimula a divisão em Timor-Leste aplaudindo o Presidente da República e diabolizando o primeiro-ministro. "Que o PR todos aplaudem e que o primeiro-ministro está completamente isolado".
Mari Alkatiri, pouco à vontade em abraços e beijinhos a populares, parece que só tem o apoio dos eleitores!
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