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2006-06-22

 

A Escola, os Professores, a Ministra e os Sindicatos

A ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues deu hoje, às 12 horas, à Antena 2, uma entrevista onde procurou esclarecer alguns pontos que mais polémica tem suscitado:
"- A avaliação dos professores pelos pais?
- Os pais não vão avaliar os professores.
- Vão avaliar em parte.
- Não. Vão participar na avaliação.
- Como assim?
- Só vão participar os pais que vão a todas as reuniões previstas na lei de pais com o director de turma. E as suas opiniões serão filtradas pelo presidente do conselho executivo da escola no sentido de detectar motivações inadequadas.
- Tem acusado os professores.
- Nunca acusei os professores nomeadamente pelos maus resultados do nosso ensino. Nunca acusei ninguém. É a escola a que se chegou.
- Não estou satisfeita com os resultados do ensino. Procuro detectar os problemas e dar-lhes solução”
- Mas os professores estão muito descontentes.
- É natural, estão a ser-lhe pedidos sacrifícios para melhorar o serviço prestado pela escola. Para além dos sacrifícios com o aumento da idade da reforma de toda a função pública, vão estar na escola mais que as 8 ou 10 horas anteriores, para que estas estejam abertas até às 17 horas. Foi suspensa a progressão automática na carreira.
É indispensável distinguir os bons dos maus professores. Há professores no décimo escalão com um ou dois anos de aulas, há mais de 28 anos fora da escola, sempre com a avaliação de bom. Quero mudar uma escola que nos últimos 10 anos não conseguiu evitar que 400 mil jovens abandonassem o secundário, para além de milhares que não completam o básico.


No Telejornal (canal 2) a ministra disse que vai baixar de 450 para 300 o número de professores pagos pelo Estado destacados nos sindicatos. Mais uma perseguição aos professores dirão alguns sindicatos e alguns professores.

Não me lembro de os sindicatos terem alguma vez feito uma greve, ou mesmo uma manifestação por causa de uma medida para melhorar o ensino (pessoalmente acho que isso é matéria do Ministério e da Escola) mas quando a ministra pôs à discussão pública o Estatuto da Carreira Docente em Maio e abriu as negociações com os sindicatos a FENPROF começou a discussão com uma greve em véspera de exames, entre feriados e anunciou o seu propósito de tudo fazer para demitir a ministra.

Têm a FENPROF e outros sindicatos toda a legitimidade para procederem como procedem e toda a liberdade para explicarem que os motiva a melhoria do ensino e que a ministra se guia pelo ódio aos professores, os persegue, humilha e se recusa ao diálogo.

Talvez. O caso é que não dá para entender.


Comments:
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Bravo!
Assim é que é falar.
Ainda sobrevive a dicotomia bons/maus professores mas, por este andar, a Ministra mailos apoiantes, ainda acabarão por vir explicar que a avaliação não vai dar resultados «a preto e branco»; que se destina tb a corrigir situações que requerem formação (Excelente, Muito bom, bom, razoável, assim-assim, mau, péssimo e horrível).
Por outro lado, os pais, constarão de ficheiros actualizados, para se poder distinguir os que têm condições dos gazeteiros.

Bravo!
 
"Há professores no décimo escalão com um ou dois anos de aulas, há mais de 28 anos fora da escola, sempre com a avaliação de bom."

É inacreditável e triste.

Uma ministra que, finalmente, decide denunciar e recusar este estado de coisas, depois de tantos anos de deixa andar, só pode ser uma boa ministra.

Apesar de todos os seus erros.

Luís Lavoura
 
O Manuel Correia tem vindo post após post (os da polémica que iniciou sobre o ensino), comentário após comentário a revelar que o mundo não é a preto e branco e que tão perspicaz descoberta é um dom que guarda ciosamente como exclusivo seu. Vá lá Manuel, deixa-nos também poder ver o mundo na sua infinita variedade.
Quanto à avaliação do desempenho dos profs, posta à discussão pública, percebe-se que é muito desagradável para alguns pois vai pelo menos tentar impedir que os profs. incapazes e os que parasitam o sistema sejam promovidos automaticamente e a par (ou à frente)dos melhores e mais esforçados. Vá, vá lá, deixa os pais também poderem botar voto na matéria.
 
Raimundo Narciso, é evidente que é necessária uma avaliação dos professores. É também correto (embora seja contestado) que nessa avaliação só um número limitado de professores poderão ser classificados como "excelente", sob pena de se ter um sistema de avaliação que não avalia nada, uma vez que não serve para ordenar os professores em termos de qualidade, e para distinguir quais devem ser promovidos em primeiro lugar.

O problema é saber como se avalia os professores. De facto, aquilo que se pretende avaliar é a qualidade do trabalho dos professores, e não a qualidade do seu resultado. Isto é crucial, uma vez que, para a qualidade do resultado, também contribuem, de forma crucial, os alunos e as suas famílias.

Avaliar o trabalho de um carpinteiro é fácil: dá-se-lhe um trabalho para fazer com um pedaço de madeira, e vê-se a qualidade do resultado final, e o tempo que o carpinteiro demorou a executá-lo. Isto acontece porque a madeira é um material inerte, desprovido de vontade própria.

Avaliar o trabalho de um professor é muito mais delicado, porque o professor trabalha com alunos que não são inertes e que têm vontade própria. Se o aluno não puder ou não quiser aprender, o resultado será sempre mau, por melhor que o professor seja.

Luís Lavoura
 
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Raimundo Narciso,

pronto. Está bem. «Vocês» tb podem ver o mundo às cores. Não sei quem são «vocês» mas está bem à mesma.

A história dos pais avaliarem os professores, tal como foi apresentada e continua a ser glosada pela ministra e apoiantes, não tem remédio. É ridícula. Os esforços feitos para remendar e «explicar melhor» o esquema só têm piorado a proposta.

É um traço de teimosia e de falta de flexibilidade.

Dado que as comunidades educativas vivem em condições muito diferenciadas, a solução global passará muito provavelmente pelo reconhecimento, na prática, da autonomia que já existe na Lei. Para isso, é necessário menor centralismo e maior responsabilização dos professores, alunos, pais, auxiliares, etc.

Se a Ministra (e o Governo) continuarem a radicalizar as suas posições (em substância e estilo) corremos o risco de ver acontecer a todas as reformas positivas em fase de introdução, o mesmo que aconteceu a outras anteriores.

Não é por acaso que a dicotomização bons/maus professores assentou arraiais tanto no discurso oficial como no teu próprio discurso. Essa vontade política de ir atrás dos maus professores ainda me espanta. É como se descobríssemos, de súbito, que há bons e maus em tudo e em todo o lado, e se tivesse tornado (muito) urgente descobri-los, isolá-los, e tratar deles.

O Estado, depois de décadas de convite a um amadorismo oficial, por falta de professores no sistema, pretende agora fazer uma terraplanagem?

É assim?
 
Os professores de hoje (os bons e os menos bons) enfrentam desafios que aqueles e aquelas que frequentaram a escola do Estado Novo têm dificuldade em identificar.
Os alunos que vão hoje à escola são, potencialmente, todas as crianças em idade escolar.
Entre elas há as que querem aprender (com maiores ou menores dificuldades), as indiferentes (menos motivados), as completamente desmotivadas (desatentas, subnutridas, sonolentas) e as que recusam a escola e apenas lá vão sob ameaça (familiar ou institucional).

No meio desse chiravari, que poderemos fazer?

A escola já não é o que era. Temos de repensá-la, a preceito, antes de começar a hostilizar profs., pais e alunos.

Rui Esculápio
 
De acordo com o MC. Não terá passado pela cabeça do Raimundo Narciso (ou da Ministra da Educação) que a avaliação dos pais é impraticável nos termos propostos?
Num país democrático e sedento de participação, nem sei como não lhes ocorreu fomentarem a constituição de uma associação de pais, em cada escola, que elegeria os seus representantes para um órgão apropriado.
Como pode ter escapado aos pioneiros do associativismo esta via tão simples?

Fátima
 
isto aqui é o programa de televisão a preto e branco do joão coito?
 
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Neste caso, também estou de acordo consigo, Fátima.
A saída associativa/representativa parece-me muito boa.
Aliás, a par de algumas medidas positivas, o Ministério (não apenas esta Ministra, é claro...) tem tendência a impôr modelos universais que não se coadunam com a imensa variedade das situações das escolas.
Esta medida peregrina de fazer na escola aquilo a que chamávamos os tpc é do mesmo tipo.
Se fosse exequível, desfazia-se um dos elos da escola com o meio familiar ou vicinal, impondo como norma algo que alivia o trabalho, o sentido da responsabilidade e do cumprimento. Exactamente alguns dos valores em défice no comportamento facilitista de uma boa parte dos alunos.
Bastaria falar um poucochinho mais com os professores que têm reflexão desenvolvida nesta matéria...
 
No que diz respeito ao Estatuto da Carreira Docente o ministério elaborou uma proposta, colocou-o à discussão pública e elaborou um calendário de reuniões para debate e recolha de opiniões com as organizações representativas dos professores, os sindicatos. É nesta fase que se está. É a forma habitual em qualquer país ou Governo de fazer as coisas. Provavelmente surgirão melhorias e talvez (mas sei lá?)sejam levadas em conta.
Na proposta de ECD tem grande importância para os profs os alunos e o país a avaliação do desempenho dos professores. A necessidade da avaliação do mérito de quem trabalha e recebe um salário e tem pela frente uma carreira profissional é um dado adquirido que talvez remonte à Idade da Pedra mas os sistemas de avaliaçãpo com uma base razoavelmente objectiva remontam pelo menos aos anos quarenta do século passado. Quando o Manuel Correia diz ali em cima: "Não é por acaso que a dicotomização bons/maus professores assentou arraiais tanto no discurso oficial como no teu próprio discurso. Essa vontade política de ir atrás dos maus professores ainda me espanta. É como se descobríssemos, de súbito, que há bons e maus em tudo e em todo o lado, e se tivesse tornado (muito) urgente descobri-los, isolá-los, e tratar deles." Esta opinião, dizia eu, não me espanta porque tenho lido os posts do Manuel mas parece-me uma forma de fugir à conversa, atribuindo à outra parte a visão unidimensional do mundo, porque não creio que ele esteja contra a avaliação do desempenho dos professores. Aliás ninguém se lembraria de defender tal coisa. Ela aliás. Só que é uma fraude. E dá origem a uma degradação do ensino e à injustiça para os profissionais competentes. É assim por culpa dos Governos que preferiram (por razões eleitoralistas)claudicar perante o poderoso lóbi sindical dos professores. A crítica é, óbviamente, ao poder político, os sindicatos fizeram o seu papel, puxaram a manta para si de acordo com as suas estratégias laborais e políticas.
A avaliação do mérito ou do desempenho está muito dependente do "como" irá ser feita. Acho que isso salvo algumas linhas muito gerais, está em aberto, pelo menos a proposta exigirá futuros regulamentos, etc.
Chegamos à participação dos pais nessa avaliação. Não sendo advogado do ministério (é um segredo que agora desvendo a alguns crentes mais radicalizados)concordo com o princípio do envolvimento dos pais na avaliação dos professores. Não é uma ideia inventada por esta ministra, nem nascida em Portugal e suspeito não ter apenas um único apoio além do da ministra, o meu. Terá mais. É um palpite, assente numa "amostragem" de café e leitura de jornais.
A ideia não é uma patetice, uma monstruosidade e outras coisas que tais. A ministra ao explicar ontem o que pensa dela talvez esteja a levar em conta críticas surgidas. A bondade da medida está na "forma" como for executada e por cautela com um peso bastante restrito. È o que já está à vista.
Por fim: os sistemas de avaliação do desempenho evoluiram da avaliação totalmente subjectiva para no limite assentar em dados objectivos. Isso representa a evolução de classificar as pessoas(no caso os professores) em bons e maus para a classificação do que fizeram. Por isso as fichas de avaliação profissional evoluiram do é bom, é mau, etc, para o fez isto ou aquilo, em que quantidade ou qualidade. A exigir grande especialidade e conhecimento de quem monta o sistema de avaliação, incluindo o naipe de avaliadores, superiores, colegas do lado, subordinados, agentes internos e externos, etc e especificidades para cada classe profissional.
Ao Manuel tiro o chapéu porque é o principal animador.

O Luís Lavoura chama a atenção para um aspecto muito importante. A avaliação não pode assentar apenas na avaliação do produto. A avaliação deste tem de levar em conta "a matéria prima" que é trabalhada e outras condições que escapam ao controlo e ao mérito dos professores.
O Rui Esculápio chama a atenção para um dado importante da realidade actual decorrente da democratização do ensino e que pode escapar a quem tenha presente a realidade do "tempo da outra senhora".
Fátima: a forma como os pais intervirão na avalição é por enquanto um mistério. Não é possível dela ter uma opinião segura. No ECD, se me não falha a memória, fala-se num papel que os pais preenchem. No papel vai quase tudo. A ministra não deve ter também uma ideia concreta. Isso será aliás matéria para especialistas. Alguma coisa ela agora sublinhou, o peso pequeno no conjunto da ponderação. A participação apenas dos pais que vão às reuniões legais. Todas as reuniões? Foi o que ela disse e me parece ser ainda uma ideia em construção. Então e os pais que faltam a 1 ou 2 reuniões? E a filtragem pelo presidente do conselho executivo da escola? Como vai ser isso? São aspectos de especialidade próprios de fase posterior mas decisivos. A associação de pais seria a delegação de voto, a opinião indirecta não me parece boa ideia.
 
Como escreveu, e bem, o Rui Esculápio, temos de repensar a escola antes de hostilizar seja quem for.
Defendo que cada um desempenhe o seu papel da melhor forma que pode e sabe, mas cada um no seu lugar.
Como Pai, não me estou a ver a avaliar exaustivamente a prestação de um Professor, da mesma forma que um Professor não conhece as linhas de educação e orientação que vou incutindo nos meus filhos. Certamente faremos uma ideia mas daí a interferir na gestão da outra parte, cuidado.
"A meu ver" Um dos conceitos que se deve ultrapassar é perder a ideia que o "jogo" decorre com inimigos concorrentes, Os Professores, a Ministra, Os Sindicatos, os Funcionários, as editoras, etc. Existem jogos em que o resultado pode ser positivo para todos os intervenientes.
Imaginem um Mercado em que a concorrencia entra em parcerias.
O Ensino pode ser uma grande parceria! (ou não!)
 
OS CULPADOS DO COSTUME

Os pais não vão à Escola, a culpa é dos professores,

Os alunos não estudam, a culpa é dos professores,

Os alunos copiam, a culpa é dos professores,

Os alunos abandonam a escola, a culpa é dos professores,

Os alunos repetem anos, a culpa é dos professores,

As escolas não têm condições, a culpa é dos professores,

O ensino anda pelas ruas da amargura, a culpa é dos professores,

Os jovens são desobedientes, a culpa é dos professores,

A juventude anda na droga a culpa é dos professores,

Temos maus profissionais, a culpa é dos professores,

A classe política é uma tristeza, a culpa é dos professores,

O país está em crise, a culpa é dos professores,

Enfim,

O relógio da Matriz não bate horas certas, a culpa é dos professores

posted by José Libertário
 
Não dá para entender a quem não quer mesmo entender. Sou professora há mais de 30 anos e sempre me dediquei exclusivamente à escola.
Entendo muito bem o alcance das medidas, por isso fiz greve no dia 14. Tenciono continuar a lutar contra as medidas economicistas do governo, mascaradas de "medidas que visam uma escola pública de qualidade".
Quero uma Escola Pública de qualidade, o melhor ensino e os melhores professores, porque quero o sucesso dos meus alunos (a minha filha frequentou escolas públicas). Exijo respeito.
As declarações públicas da ministra ofendem o direito ao meu bom-nome profissional. A minha agenda é a da Educação, afinal, sou professora por opção. Vou continuar no ensino até ao fim da minha carreira. A agenda da Sr.ª Ministra é a da política governativa do Partido Socialista, ela está no ME de passagem. Retive a informação do 1º Ministro em entrevista às televisões de que a Sr.ª Ministra seria sua amiga pessoal, fiquei esclarecida. Pergunto-me, até, se terá sido por isso que foi convidada.Este país só vai ter um lugar entre os melhores quando os ministros forem nomeados pela competência demonstrada e não por amizades pessoais.
 
À anónima das 7:13
Não lhe nego o direito de colocar aqui os comentário que entender mas este não ajuda a esclarecer nada. É um desababo.Sendo professora com 30 anos de carreira, como diz, e ainda conhecedora da "verdadeira" orientação da ministra poderia dar uma boa contribuição ao debate, dizendo alguma coisa de concreto. Se acha que está tudo bem no ensino, tudo mal ou apenas algumas coisas bem e o que há a corrigir ou a melhorar. Sendo professora há tantos anos e como diz uma professora dedicada e a lutar pelo melhor ensino para os seus alunos (será a posição da maior parte dos professores, presumo)poderá seguramente dizer algo mais que uns desabafos. Sobre a política do Governo não adianta nada dizer que a ministra foi escolhida por isto ou aquilo. Poderá ajudar a esclarecer a situação apontando o que está mal na orientação do ministério. Se tudo, se parte e que medidas, no seu entender, deveriam ser tomadas. Se é que acha que se deva alterar alguma coisa.
Já toda a gente sabe que o mau desempenho do ensino que temos é fundamentalmente da responsabilidade dos Governos que temos tido.
As medidas deste ministério, que optou por não fazer nenhuma reforma geral do ensino mas fazer algumas reformas pontuais e resolver ou tentar resolver alguns problemas, passam nalguns casos por "prejudicar" a situação remuneratória dos professores, obrigando-os a mais horas na escola e para muitos, os que não vão chegar aos últimos escalões automaticamente, a menos dinheiro. Alguns professores e alguns sindicatos fingem que não estão descontentes por estas razões e fazem greve, reivindicam a demissão da ministra, e numa postura calimera dizem-se vítimas e objecto de uma campanha de ódio do Governo que quer culpar os professores de todos os males do ensino. Ninguém que eu saiba até hoje culpou ou sequer imaginou culpar a classe dos professores pelo essencial ou grande parte do que mal vai na escola. Seria uma patetice.
 
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