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2006-06-16

 

Estalou a polémica!

Se o Manuel Correia disser que este seu post aqui em baixo "O regresso do kitch à análise política?" não tem nada a ver com o meu, que está imediatamente antes, fico muito desapontado por não poder ter assim uma tão estimulante polémica.
Diz o Manuel:

"Continua a parecer-me demasiado simplificador colocar a ministra e as políticas do governo para a educação, de um lado, juntamente com os «bons professores»; e, do outro, os sindicatos afectos ao PCP e os «maus professores». Não cola"

O que te parece parecerá a qualquer um, mas se tal afirmação respeita ao que eu disse - como tu dizes - "não cola". É que tais afirmações ou juizos não existem lá. E então o "demasiado simplificador" acabará por ter o efeito perverso e indesejado de qualificar, isso sim, quem o invoca. Como se pode verificar o meu post não qualifica nem toma partido pela proposta ministerial de Estatuto da Carreira Docente. Diz coisas simples como:

"A ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, tem a responsabilidade do ensino e por conseguinte a sua acção deve ser posta ao serviço dos alunos ou seja, de todos os portugueses. Os sindicatos dos professores, diferentemente, têm a obrigação de defender os interesses profissionais dos professores."

Quando dizes:

"Finalmente, o papão comunista/soviético na argumentação de suporte ao Governo, decepciona. É o kitch da análise política? É o ranço ideológico? Ou será apenas a epidemia das generalizações a propagar-se, deitando pela janela, a água do banho, o bebé, e a banheira? Não sei, ao certo. Mas lá que gostava de saber, – gostava!"

Todas estas angustiadas e cidadãs interrogações têm uma resposta também simples: não têm qualquer conexão com o que escrevi e em tal contexto não fazem qualquer sentido a não ser o de predispor o incauto leitor a uma leitura benévola. Que disse eu quando disse comunismo e soviético? Eis o que escrevi:

"A tradição sindical portuguesa, particularmente a dos sindicatos mais poderosos, criados e dirigidos pelo PCP, é uma tradição revolucionária que se fortaleceu na luta contra o regime fascista e depois, na revolução do 25 de Abril, para a tentativa programática de conduzir a revolução democrática à revolução socialista, de modelo soviético, que era o único que havia. 30 anos depois da revolução portuguesa e 15 depois do fim da União Soviética não faz sentido manter a velha estratégia, os mesmos radicalismos, que tinham como objectivos imediatos metas laborais mas tinham como objectivo último a desestabilização e destruição da sociedade capitalista ao serviço da vitória do "campo socialista" "

Deixa, caro amigo, recompor-me, com tempo e vagar, do efeito desse pedregulho "o papão comunista/soviético na argumentação de suporte ao Governo" projéctil que me arremessas como argumento e que, após impacte tão devastador, me obriga, parafraseando Eça, a procurar diligentemente pelo chão os pedaços de mim mesmol

O defunto comunismo? O defunto regime soviético? Já não são papão nenhum. Agora sim, como diziam sem razão os chineses do imperialismo americano, são um tigre de papel, ou de peluche. A tal ponto que o "inimigo de classe" após a queda do muro de Berlim começou a achar Álvaro Cunhal, seu figadal inimigo da véspera, pessoa muito estimável, a aplaudir a sua coerência e depois, volvido Carlos Carvalhas, a achar imensa piada a Jerónimo de Sousa cuja popularidade e cujo comunismo de sociedade recreativa elogia.

E por aqui me fico. Sem vivas a Maria de Lurdes Rodrigues que lá vai empenhada em seu trabalho, nem vivas à FENPROF que lá vai empenhada em sua guerra.

Com aquele abraço e o desejo de um bom fim de semana.

Comments:
Raimundo,

gostei do teu poste. Polemiza com inteligência, rompendo com a lusitana tradição trauliteira que terá levado, um dia, Camilo, a dizer que "a polémica portuguesa é como a tourada à espanhola".

Não te quero desapontar, mas, de facto, aproveitei o teu poste para exprimir o meu desacordo com algo que vai para além dele.

Assim, para manter o nível da discussão na marca em que o colocaste, vou sintetizar, no próximo poste, o que penso ser o sentido das intervenções do Governo, Sindicatos, e alguns comentadores, entre os quais obviamente te incluis.

Bom fim-de-semana e um abraço
 
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