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2006-06-15

 

A FENPROF e o radicalismo da sua estratégia sindical

A ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, tem a responsabilidade do ensino e por conseguinte a sua acção deve ser posta ao serviço dos alunos ou seja, de todos os portugueses. Os sindicatos dos professores, diferentemente, têm a obrigação de defender os interesses profissionais dos professores.
A ministra para atingir os seus fins necessita do apoio dos professores (que não é exactamente o mesmo que o apoio dos seus sindicatos) mas não pode para isso fazer-lhes concessões que ponham em causa o seu objectivo. As boas graças dos professores fica pois em segundo lugar.

Os professores, não todos (porque muitos estão na escola sem a menor vocação e por não terem alternativa profissional) mas a maioria certamente, também querem o bem do ensino e dos alunos mas em segundo lugar o que torna natural, desencontros, debate, oposição e negociação. Mas não é desejável que o Governo faça tais cedências que a governação passe do governo que foi escolhido em eleições para as corporações que ninguém elegeu.

A tradição sindical portuguesa, particularmente a dos sindicatos mais poderosos, criados e dirigidos pelo PCP, é uma tradição revolucionária que se fortaleceu na luta contra o regime fascista e depois, na revolução do 25 de Abril, para a tentativa programática de conduzir a revolução democrática à revolução socialista, de modelo soviético, que era o único que havia. 30 anos depois da revolução portuguesa e 15 depois do fim da União Soviética não faz sentido manter a velha estratégia, os mesmos radicalismos, que tinham como objectivos imediatos metas laborais mas tinham como objectivo último a desastibilização e destruição da sociedade capitalista ao serviço da vitória do "campo socialista".

Os sindicatos dirigidos pelo PCP e são, em geral, os mais importantes (a FENPROF no caso dos professores) não tendo de momento nenhum modelo de sociedade credível para contrapor ao capitalismo, irão paulatinamente perdendo posições se não substituirem a estratégia que visa a ruptura política por uma estratégia mais modesta e mais útil para o país, uma estratégia mais cingida ao âmbito profissional e social.

Sintomas do radicalismo obsoleto: são a ruptura com negociações construtivas em clima de respeito, a declaração de greve na fase inicial de negociações, expressões como: "ataques inqualificáveis do Governo à classe e ao sistema de ensino", "fartos do discurso da ministra, que diariamente humilha e ofende a sua dignidade", (Paulo Sucena, secretário- geral da FENPROF). "A ministra não tem a mais pequena ideia do que é uma sala de aulas, de quem são os alunos, de onde eles vêm e de onde vêm os pais."

A ministra, tanto quanto julgo saber, independentemente do maior ou menor acerto da sua proposta de estatuto da carreira docente, o que fez não foi ofender a classe dos professores mas a denúncia de casos, práticas e situações da responsabilidade de alguns professores ou do sistema escolar em vigor e reiteradas afirmações de que o objectivo central do ministério é o ensino e os alunos. Teria sido muito mais prestigiante para a FENPROF ter sido ela a denunciar esses casos ou situações em vez de se indignar até à histeria e ir imediatamente para a greve para mais em período de avaliação de alunos.


Comments:
A ministra tanto quanto julgo saber, independentemente do maior ou menor acerto da sua proposta de estatuto da carreira docente, o que fez não foi ofender a classe dos professores mas a denúncia de casos,...

Se julga saber, informe-se primeiro.
 
mais do mesmo!
a culpa é dos sindicatos!
que nojo!
 
Se a ministra constatou situações tão graves compete-lhe como tutela agir, abrir os necessários inqueritos e eventualmente processos discilinares sobre quem individualmente cometeu ilegalidades.

Foi isso que fez? Não. Limitou-se a fazer um discurso de generalização absiva atirando a lama indistintamente para cima de todos os profesores. Não corrigiu nenhuma situação incorrecta, mas fez um discurso populista-demagógico ao melhor estilo do Rui Rio (o actual presidente da Câmara do Porto).

Aliás para este ministério o estatuto sócio-profissional professor parece estar equiparada ao de "arrumador de automóveis" ou coisa parecida.
Perante esta situação os sindicatos não se devem indignar? Só se fossem fantoches. Parece que no ministério há quem tenha saudades do tempo em que as direcções sindicais tinham que ser previamente homologadas pela tutela.

Quanto ao fundo do problema que é a crise da escola as suas causas estão muito mais profundas e não é com esta atitude que o ministério a vai resolver, bem pelo contrário.

José Manuel
 
Não me parece que, no fundo, a situação dos professores seja muito diferente da dos restantes funcionários públicos. Uma certa gente dedica-se a denegrir a classe, talvez na esperança de poder vir a gastar o dinheiro que hoje se gasta com os salários da função pública (que é menos do que se gasta nos países com os quais gostaríamos de nos parecer neste aspecto, quer em valores per capita, quer em percentagem do PIB). Mas, por exemplo, não me parece razoável que os professores se sintam ofendidos quando se lhes pede para passarem mais tempo de trabalho no local de trabalho, com o argumento de que podem trabalhar em casa. Percebo que discutam a questão da avaliação pelos pais (que é mesmo discutível). Já não percebo que discutam a avaliação em si.

Concordo com RN que esse extremar de posições não serve a ninguém. Mas, se calhar há algumas culpas dos dois lados. Um extraterrestre (será preciso ir tão longe?) que visse os números da adesão à greve acharia que estamos todos doidos: governo – 30%; sindicatos – 80%. Caramba, é uma diferença de 50%!!!

Não será uma questão cultural? Uma negociação tipo “árabe”? Ou seja, pedir 100 para obter 20 porque, se se pedir 20, só se consegue 5 ?

Parece-me é que assim não vamos a lado nenhum.

Acredito que os sindicatos são cada vez mais necessários, como se viu no recente caso da Opel. Mas também que têm que encontrar novas formas de agir, como também se viu no mesmo caso, pois as maiores ameaças, as que são realmente perigosas, mudaram de dono.
 
brit com
Obrigado pela sua visita. Estava aliás à sua espera. A fórmula "julgo saber" que seguramente compreenderá, tem exactamente o objectivo de suscitar a contradida, se possível com exemplos. Infelizmente você ficou-se pelo remoque. Isso não me inibiu de a visitar nos seus blogs que me pareceram bastante interessantes e elucidativos. Inclusivamente dos estados de alma de alguns professores.
Na primeira oportunidade colocarei, aqui no Puxa Palavra o link para eles. E volte. Se possível com menos acrimónia.
Meu caro luikki
Não se enoje. Só se prejudica. Afinal estamos aqui, nos blogs, para nos distrairmos e opinar. COm acerto, com desacerto, esperando o contributo de quem sabe mais e mesmo de quem saiba menos.
Não culpabilizei ninguém nem há lugr para culpas. Há políticas e sindicalismo. E opiniões sobre eles.
Meu Caro José Manuel é a sua opinião. Tão respeitável como a mainha. No entanto repare que não me pronunciei sobre a proposta da ministra. Li-a por alto e não toda. Além disso é necessário conhecer a situação actual que conheço mal. E conhecer a situação no terreno que também apenas conheço em segunda mão.
Apareça e dê uma contribuição melhor que sei que pode dar.
Obrigado Teresa pela sua opinião. Quanto aos sindicatos é óbvio que são necessários e necessário também que respondam melhor às novas situações.
 
Teresa, gostei do seu remoque sobre tratar-se de uma negociação tipo árabe. Sempre me pareceu que com negociações desse tipo não se vai a lado nenhum. Ou antes, vai-se ao nível de desenvolvimento típico dos países árabes.

Se queremos alcançar um nível de desenvolvimento germânico, temos que começar a praticar negociações à maneira germânica.

Luís Lavoura
 
Independentemente da razão que assista aos sindicatos, creio que é inadmissível e intolerável que eles façam greve a não ser em última instância, e especialmente num período destes. É intolerável, porque a greve não prejudica o patrão dos professores - o Estado - apenas prejudica a população em geral, especialmente as crianças e jovens. Os sindicatos da função pública em geral, e os dos professores em particular, deveriam rejeitar a greve como forma de luta, a não ser em casos extremos.

É especialmente inadmissível que os sindicatos decidam fazer greve agora, na fase de exames. Deliberadamente, escolhem prejudicar AINDA MAIS os jovens. Claramente, estão apostados na destruição, e não na construção de seja o que fôr.

As greves, a fazer-se, fazem-se quando as negociações estão concluídas e bloqueadas, não quando as propostas ainda mal acabaram de ser colocadas em cima da mesa.

Luís Lavoura
 
Como PAi assusta-me o facto de permanentemente se ouvir falar em desacertos, propostas e contra-propostas, horários, substituições, deslocados, não-colocados, etc.
O trabalho, a Saúde e o Ensino devem ser areas em que os Politicos não devem dar passos em falso.
Curioso, que é nestas areas onde a teimosia reina em ambas as partes, quer do lado de quem decide (os politicos) quer da parte de quem exerce (os profissionais). A casmurrice vai dilacerando e emperrando os sistemas montados.
Será assim tão dificil discutir os formatos de aperfeiçoamento e as medidas de investimento? Será dificil perceber que qualquer País depende da performance eficaz destas três areas em sintonia?
Esta Teimosia e Casmurrice revela o que de pior existe no nosso "cantinho".
Os principais e mais prejudicados são sempre os mesmos: Os trabalhadores, os Pacientes e os Alunos!
 
Raimundo:
Num espaço dum simples comentário é difícil abordar as causas e as saídas da actual "crise da escola". Nem o que está em causa é o problema da "qualidade de ensino" que todos concordamos que é urgente melhorar, mas não concordamos sempre sobre as vias para isso. Num comentário anterior já deixei algumas indicações sobre o que se devia mudar na escola, nomeadamente a nível de programas e currículos. Além disso o actual regime de faltas dos alunos do ensino básico é outra das causas da instabilidade e indisciplina nas escolas.
O que o ministério pretende com esta revisão do estatuto é basicamente encontrar forma de reduzir ou congelar os vencimentos dos professores e as suas carreiras. Tudo o resto é atirar areia para os olhos.
É natural que os sindicatos reajam contra isso e é patético que se queira impedir os professores de exerceram o legitimo e constitucional direito à greve.
Claro que as visões sobre esta questão podem ser variadas, mas seria bom que procurassemos desviar o assunto principal para questões laterais relacionadas com partidos e outras coisas.
Qual deve ser o estatuto sócio-profissional do professor e qual o seu papel na sociedade. Deve ser o de um profissional qualificado e especializado ou o de um sacerdote ou missionário com voto de pobreza e obediência?
Esta escolha tem consequências atodos os níveis.

Actualmente a escola é um espelho de toda a sociedade e resolver a "crise da escola" é da responsabilidade também de toda a sociedade e não se resolve fazendo dos professores os "bodes expiatórios".

José Manuel
 
correcção:
acima queria dizer é que era bom que NÂO procurassemos desviar o assunto para questões laterais.

José Manuel
 
"é patético que se queira impedir os professores de exerceram o legitimo e constitucional direito à greve"

Não é patético. A greve dos professores em nada prejudica o Estado, nem a minista da educação. Apenas prejudica os alunos e os seus pais. Os professores deveriam ter isto em conta, e abster-se de fazer greve. Especialmente em período de exames.

Acharia bem que os professores fizessem greve se lecionassem numa escola privada. Aí, poriam o prestígio dessa escola em causa, isto é, prejudicá-la-iam diretamente na competição com outras escolar privadas. No entanto, curiosamente, o que se verifica é que, precisamente, só muito raramente os professores de escolas privadas fazem greve. Em contrapartida, os professores das escolas estatais fazem greve repetidamente, por tudo e por nada.

É natural e correto que a ministra pretenda congelar os salários e as carreiras dos professores, que já são hoje, em Portugal, muito bem pagos, se tivermos em conta o nível geral dos salários no país. Ser professor já é hoje, em termos de salário, uma profissão muito prestigiada em Portugal.

Luís Lavoura
 
Aos Professores (veraneantes) grevistas e seu sindicato FRENPROF/CGTP-IN/PCP

Passamos pelas coisas sem as ver,
gastos, como animais envelhecidos:
se alguém chama por nós não respondemos,
se alguém nos pede amor não estremecemos,
como frutos de sombra sem sabor,
vamos caindo ao chão, apodrecidos.

Eugénio de Andrade
 
______________________________

Com o devido respeito, parece-me demasiado simplificador colocar a ministra e as políticas do governo para a educação, de um lado, juntamente com os «bons professores»; e, do outro, os sindicatos afectos ao PCP (essa do modelo soviético para os sindicatos é um tanto obscura...), e os «maus professores».
Não cola.
Li vários anúncios e comnunicados de professores que não aderiram à greve chamando publicamente a atenção para que a sua não adesão não seja confundida com apoio à actual ministra.
O governo vai perder muitíssimo, a médio prazo, com estas simplificações grotescas e dicotomizações apatetadas. Não haverá nenhuma reforma eficaz sem envolvimento e adesão activa do «factor humano» que assume nas escolas a principal tarefa do ensino. Sem professores, as reformas não serão possíveis. Afrontá-los e diminuí-los não me parece inteligente... nem eficaz.
 
Lembro ao Luís Lavoura que a esmagadora maioria dos professores usufrui de vencimentos que rondam os 1200 euros líquidos mas que têm que pagar do seu bolso os livros e a generalidade dos materiais usados nas aulas, uma vez que a escola a unica coisa que fornece é o giz e as fotocopias dos testes (2 por periodo/turma) além da gasolina das deslocações (muitos dão aulas a 50 kms de casa), já para não falar daqueles que estão deslocados em regiões remotas. E estas despesas profissionais nem sequer são dedutíveis em sede de IRS. E no recente congelamento de salários durante 2 anos.
Um professor que esteja no topo da carreira e resida em Lisboa perto da sua escola pode ganhar relativamente bem, mas isso é uma infíma minoria.

José Manuel
 
José Manuel, se a maioria dos professores aufere 200 contos por mês, então não estão nada mal pagos. A esmagadora maioria dos trabalhadores portugueses, incluindo muitos licenciados, aufere 100 a 150 contos por mês. Incluindo muitos que vivem em Lisboa, onde o preço das casas é muito elevado. Para uma pessoa que viva na província, ganhar 200 contos por mês é ótimo.

Uma amiga minha, licenciada em biologia e a realizar trabalho especializado no Jardim Zoológico de Lisboa, ganha 140 contos por mês.

Um trabalhador da Revigrés, uma das melhores empresas portuguesas, ganha 110 contos por mês.

Luís Lavoura
 
Eu acho muito apropriado o Raimundo Narciso falar do radicalismo tolo e puramente destrutivo da estratégia de muitos sindicatos portugueses, quando observamos, por exemplo, os trabalhadores da Opel da Azambuja que, em risco de perderem o seu posto de trabalho, não encontram nada de melhor para fazer do que... uma greve. Ou quando observamos os alunos das escolas secundárias, que fazem greve porque... querem ter aulas de educação sexual. Ou quando verificamos que a função pública portuguesa faz greve, em média, um dia em cada dois meses (sempre à sexta-feira), sem que nunca se perceba bem porque motivo específico, e sem que nunca obtenha nada com essa greve.

Claramente, a estratégia de muitos sindicatos portugueses parece ser: levantar ondas e destruir.

Só posso aplaudir aqueles professores que, mesmo contestando as decisões da ministra, decidem não fazer greve, não aderindo às estratégias niilistas dos sindicatos.

Luís Lavoura
 
"Não há dúvida que esta greve veio a calhar: mesmo no meio de dois feriados.
Pena foi o tempo de chuva que estragou os planos balneares dos nossos ilustres professores.

De qualquer modo, confesso que não entendo porque raio os professores persistem em fazer greve só para irem a banhos.
Basta reparar no caso da estudante do ensino secundário cá de casa:

- Na segunda-feira, só teve duas aulas;
- Na terça-feira, só teve uma aula, apesar de não ser feriado cá no concelho;
- Na quarta-feira, houve greve, não teve aulas;
- Na quinta-feira, é feriado.
- Na sexta-feira não vai ter aulas: os seus professores já tiveram a amabilidade de lhe dizerem que vão todos fazer ponte.
- Na próxima semana não tem aulas: a escola já está de férias antecipadas.

É uma pena, de facto, que em Portugal os professores persistam em manifestar uma imensa pena de si próprios, exibindo publicamente como troféus de caça os colegas que são espancados nas escolas, ou as turmas de alunos inadaptados e sociopatas, como pretexto para lutarem por privilégios corporativos anacrónicos e absolutamente injustificados.

Esta greve é mais um exemplo disso mesmo."
Vi isto aqui http://cadsf.blogspot.com/2006/06/as-mini-frias.html#links e depois aqui http://rprecision.blogspot.com/2006/06/as-mini-frias.html
 
Very nice site! » »
 
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