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2006-06-14

 

Mulheres nas empresas

Uma interessante estatística sobre o número de mulheres nos conselhos de administração das 300 maiores empresas europeias foi hoje publicada.
A média europeia de 8.5% de mulheres nos conselhos de administração esconde enormes variações, desde a Noruega com 28% até Portugal com 0%. A leitura do artigo deixou-me com dúvidas se não há aqui um erro. Parece-me incrível que não haja em Portugal nenhuma mulher nos conselhos de administração das grandes empresas. Aliás esta estatística contradiz outras como a feminização do ensino universitário, tanto no que respeita aos estudantes como no que respeita aos professores. A única explicação que posso imaginar é a de uma amostra não significativa.

Se algum leitor tiver mais informações agradeço.
Comments:
"a feminização do ensino universitário" não quer dizer absolutamente nada, uma vez que é algo que ocorre não apenas em Portugal, mas em TODOS os países do mundo num certo estágio de desenvolvimento. Inclusivé em países como o Irão e a Arábia Saudita: em ambos eles há mais mulheres do que homens a estudar nas universidades.

A feminização do ensino superior deve-se à falta de aptidão (ou de apetência) das mulheres para uma série de profissões que exigem força física: construção civil e coisas do género. Como resultado, as mulheres buscam, naturalmente, refúgio em áreas nas quais podem competir, com sucesso, como os homens, nomeadamente as áreas do saber académico. Em contrapartida, os homens academicamente fracos sabem que podem sempre ir para profissões como mecânico de automóveis, ou canalizador, nas quais não sofrem a concorrência das mulheres.

Luís Lavoura
 
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Viva, Pedro.

Essa é uma excelente questão. Mesmo que não tenhamos, de imediato, resposta para ele, é interessante procurá-la.
A repartição do poder na política e nas grandes empresas, não tem a ver, como sabemos, com a competência das mulheres. Se pensarmos nas sete maiores empresas portuguesas (Ranking Forbes) -- EDP, BCP, PT, Sonae SGPS, BPI, Brisa e Cimpor -- não custa nada admitir o resultado que essa estatística adianta.
Tens com certeza seguido a discussão acerca da «paridade». A Lei, após veto político do PR, vai ser rediscutida na AR dia 5 de Julho.
Resta-nos apurar se são muito mais de sete as empresas portugesas que caiem no grupo das maiores 300 europeias. Depois se verá.
 
Caro Pedro Ferreira,
Também não me parece um valor muito estranho. Basta haver apenas uma mulher para cada 200 homens. Mas talvez o relatório do desenvolvimento humano da ONU tenha dados úteis.

Luís Lavoura: Então e o trabalho doméstico? E as fábricas de texteis ou material eléctrónico? Parece-me que haverá mais mulheres nestas áreas do que homens nas que referiu.
 
Meu caro Luis Lavoura, li várias vezes o seu comentário pois a primeira leitura deixou-me a impressão de que achava que existe uma inferioridade das mulheres, depois de uma leitura mais atenta creio compreender que atribui a feminização do ensino superior e a ausencia de mulheres nos dirigentes das empresas a um problema de competição.
No entanto, não faço a mesma análise no que respeita ao meio académico: no que eu conheço, Matemática, França e Portugal, a comparação é interessante: em Portugal o número de mulheres em Matemática (quer sejam professoras ou alunas) é muito superior ao da França, aliás em França alguns psicólogos explicam que o cérebro masculino é mais adaptado à matemática.
 
Olá Manuel

Se é como dizes fico bastante desolado, nós que somos apontados como exemplo de evolução favorável da condição feminina: baixa da taxa de natalidade, percentagem de mulheres empregadas, etc.

Sobre a paridade, se leres o artigo do Monde verás que o excelente resultado da Noruega se deve em parte a uma lei de paridade.
 
Pedro Ferreira, a feminização do ensino superior é um problema de competição e de especialização. As mulheres investem mais no estudo académico, especializam-se nele e, como consequência, vencem a competição (contra os homens) nesse campo. Não se trata tanto de uma questão de superioridade ou inferioridade, mas sim de uma questão de investimento e dedicação. Isto acontece assim em TODOS os países: mesmo em países nos quais o lugar da mulher na sociedade é muito inferior, como na Arábia Saudita e no Irão, as mulheres são a maioria dos estudantes do ensino superior.

Esta especialização das mulheres no ensino superior faz-se, no entanto, por áreas. As mulheres investem mais naquelas áreas nas quais já sabem que há mulheres. É por isso que se observam fenómenos curiosos de acumulação de mulheres em certas disciplinas e em certos países. Por exemplo, em Portugal a engenharia química é desde há muito uma área com ampla predominância feminina, enquanto que no Brasil não há praticamente uma única mulher a estudar tal coisa. O fenómeno da matemática é semelhante: em França há poucas matemáticas, em Portugal o curso de matemática é maioritariamente feminino.

Estes factos só confirmam que o haver muitas ou poucas mulheres num determinado setor não se deve a qualquer superioridade ou inferioridade intrínsecas das mulheres nesse setor, mas sim ao maior ou menor investimento e especialização que as mulheres decidem adoptar nesse setor. É natural que uma portuguesa prefira estudar engenharia química se sabe que nesse curso há muitas mulheres. É natural que uma francesa decida não estudar matemática se sabe que nesse curso só há homens.

Luís Lavoura
 
Teresa, você tem razão em que há profissões, como o trabalho doméstico e fabril, no qual a imensa maioria dos trabalhadores são mulheres.

Seja como fôr, o facto permanece: no ensino superior e, em geral, em todos os graus mais elevados do ensino, as mulheres tendem a estar em (forte) maioria, em todos os países do mundo.

Eu não acredito que isso se deva a uma superioridade intelectual intrínseca das mulheres. Tendo antes a dizer que se deve a as mulheres serem mais perseverantes, ambiciosas ou dedicadas na área dos estudos académicos. Digamos que as mulheres se especializam nessas áreas. Trata-se de um fenómeno que também se observa, por exemplo, com a raça judia: os judeus desde sempre exibiram uma preferência por certos estudos e certas profissões, que dificilmente podem ser atribuídos a capacidades intelectuais específicas dessa raça, sendo mais facilmente explicados por um desejo, um esforço consciente de especialização nelas.

Luís Lavoura
 
Caro Luís Lavoura,
Como não se digna responder às minhas simples questões, presumo que também julga haver falta de aptidão das mulheres para o "bloguismo". Não tinha ideia de este blogg, que muito aprecio, ser exclusivamente masculino mas, se calhar, enganei-me.

Por isso, apesar de simples mulher, como portuguesa, digo-lhe que essa coisa de as mulheres preferirem cursos de mulheres é, desculpe, um disparate. Como muitos que dizem, talvez sem intenção, os homens que nos dirigem em todos os sectores. Daí a necessidade da tal lei paridade, que não sei onde anda, embora gostasse de saber.
 
Luís Lavoura,
Vejo, com agrado, que afinal o meu comentário anterior não se aplica a si no que respeita às mulheres no "bloggismo".
Cumprimentos
 
Teresa: a leitura do seu comentário e do comentário de MC leva-me a temer que o resultado do relatório seja mesmo verdadeiro, nimguem consegue lembrar-se de um nome de uma dirigente de um grupo importante :)
 
Olá Pedro
Aqui está um post óptimo não apenas pela informação mas também pelos comentários e discussão que está a suscitar. Claro que a participação bastante qualificada dos comentaristas também é fundamental.
Ñão me lembro de nenhuma mulher no conselho de administração de grandes empresas ditas nacionais ( a mior parte do capital delas é internacional).
A discussão resvalou, e bem, para o tema "fracturante" das quotas para mulheres e em geral da evolução recente do espectacular alargamento do seu campo de acção profissional.
As mulheres sendo, felizmente, diferentes dos homens, não só fisicamente mas nalguns traços psicológicos parecem-me igualmente dotadas para qualquer ramo do saber e todas as actividades físicas que não sejam demasiado violentas.
Não me parece (trata-se de um palpite, de fundamento empírico) pertinente a razão apontada pelo Luís Lavoura para a escolha pelas mulheres de certas profissões: "investem mais naquelas áreas nas quais já sabem que há mulheres". Poderá ter alguma influência. Quando frequentei o IST só havia raparigas na Eng Química. No meu curso, Electrotecnia havia em 105 alunos 3 raparigas (um desgraça que nos levava a visitar a Química, os colégios femininos da vizinhança e alguns a mudarem-se para a Faculdade de Ciências.)
Iam para Química e não para civil (a única engenharia com saídas profissionais no Portugal atrasado tecnológicamente de então e de agora) porque não lhes agradaria andar nas obras a lidar com homens rudes que ainda por cima resisitiriam a reconhecer-lhes o mérito e as directivas.
Quanto às quotas.
Sou, no momento, francamente favorável à imposição de quotas para lugares políticos e de chefia. Digamos entre 40 e 60%, o que como se depreende dá para os dois sexos. Temos quotas para muita coisa que não suscita qualquer reparo nem "ofende a dignidade de ninguém". Por ex.temos quotas geográficas para os deputados.
As mulheres atravessaram um largo período de "escravidão" na cristandade, tal como agora sucede de modo mais agravado com o Islão. Elas estão em minoria nos órgão de poder do Estado e do poder das empresas, pela razão simples de que se trata do último ( e decisivo)reduto do poder masculino. A evolução "ocidental" parece dizer que elas lá chegarão em breve (umas dezenas de anos)a pulso contra poderes fácticos ilegítimos.
As quotas não minorizam, não aviltam, não envergonham as mulheres. Envergonham os homens por ser necessários obrigá-los a "escolher" (enquanto estão em maioria são eles que escolhem)administrativamente mulheres.
Claro que enquanto podem tergiversam. Conheci directgamente a escolha para deputados de mulheres (o conjuge do membro da numenclatura partidária, a namorada, a amante, ou simplesmente aquela com menos mérito para não ofuscar quem escolhe e está no poleiro) Provavelmente dentro de 30 ou 50 anos os homens reivindicarão as quotas para si se a situação se desiquilibrar para o lado feminino.
A situação dos géneros, a evolução do seu papel e lugar na sociedade, é de raiz social.
Termino com uma conclusão que faria inveja ao velho Almirante Américo Tomás: tudo o que disse está certo, salvo erro ou omissão.
 
Creio que o sr. Raimundo disse tudo. A origem desta lenta evolução tem séculos de história e a sociedade islâmica ainda está muito mais longe do que da ocidental para contornar esta questão.
Os casos de empresas que conheço em que a gestão estratégica é de responsabilidade femenina leva-me a admitir que o processo da paridade tem mesmo de ser acelerado para bem da "humanidade económica", é que são empresas que nos seus mercados, Plásticos e Transportes, gozam de uma saúde financeira invejável.
Está provado cientificamente que as "Teresas" têm uma apetência muito especial para conciliar a eficiência e a eficácia no seio das organizações.
 
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Pedro,

Este teu poste foi citado pelo DN de hoje (pág. 7, secção Blogues).

Parabéns!
 
Parece-me que o Raimundo Narciso é contraditório no su último comentário. Por um lado, diz-se favorável a quotas para mulheres. Mas, por outro lado, diz que já esteve em sítios onde homens procuravam deliberadamente escolher mulheres de fraca capacidade para preencher as quotas. Ou seja, o Raimundo recomenda quotas, mas aceita que, se elas existirem, serão preenchidas "à força" por "yes-women" sem valor (em vez de termos, como atualmente, "yes-men", passaríamos a ter "yes-women").

Luís Lavoura
 
Sugiro a leitura dos artigos publicados no Financial Times no dia 11 e 12 deste mes da jornalista Alison Maitland
FC
 
Meu caro Luís Lavoura salvo melhor opinião não há contradição. O que disse, implicitamente, foi que as quotas não impedem que sejam escolhidas mulheres medíocres. Como não implica que sejam escolhidas as melhores. Tal como sucede com a escolha, selecção, eleição dos homens, como bem vemos. Teremos apenas que os medíocres são serão todos homens. Uma quota parte será de mulheres.
 
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