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2006-06-07

 

Os bons pais e o mau jornalismo


"Bons" e "maus" alunos de "boas" e "más" escolas.


Ao ler atentamente a crónica de Rolo Duarte na contra-capa do DN de hoje (ler aqui), deparamo-nos com um expediente retórico muito corrente. A simpatia do jornalista pela ministra (ou pelas medidas do ministério) começa por ser apresentada do avesso.
Rolo Duarte acordou a “odiar a ministra”.

Em seguida faz uma coisa espantosa. Vai ler o projecto de Lei. Lê-o apressadamente, pelo visto, pois não detecta nem uma das imprecisões ou lacunas que já foram objecto de discussão aqui no PUXA.
Porém, o que mais desilude num texto que parecia prometer uma reflexão sobre o “desportivismo naïf” – para usar a expressão do João Abel dois postes antes – é a análise primária do articulado e a utilização de uma ganga estereotipada que não costumo detectar nos seus textos.

A simplificação é chocante.


Diz Rolo Duarte que

Não são portanto os pais que vão decidir quem são os bons e os maus professores - os bons pais apenas vão contribuir, à sua pequena escala, para uma avaliação global.”

Ora a verdadeira cortina de fumo é esta. A dicotomização de “bons” e “maus” pais a avaliar “bons” e “maus” professores.

Se fosse um expediente normativo visando a aproximação dos pais à escola, seria débil. Mas, assim, pré-instintuindo-se como critério de discriminação básica de pais e professores, é desastroso.

Rolo Duarte, adormece, finalmente, a “gostar da ministra” e a gostar menos dalguns dos seus colegas. A moda da generalização pegou. M. M. Carrilho conseguiu infectar o “melhor jornalismo”.

Quantos jornalistas acordarão amanhã a “gostar menos” de Rolo Duarte? Não se pode saber, não é? Porque ele há os “bons” mas também há os “maus”.

Em contrapartida, já se sabia que o bom jornalismo também tem destes (maus) momentos.

Comments:
A questão da avaliação pelos pais é apenas um pormenor. Temos que analisar os outros.
Um dos principais problemas do ensino básico é que as faltas dos alunos não são consideradas na avaliação final, isto é deixou de ser possível chumbar por faltas por decisão de sucessivos ministros e secretários de estado desde o tempo de Roberto Carneiro. O resultado é que existem níveis elevados de faltas dos alunos.
A ministra (com minúscula)pretende contar ainda na avaliação individual do professor com as taxas de absentismo e abandono escolar dos alunos, que são variáveis que obviamente estão fora do controlo do professor.
A estratégia é clara: utilizar todos os meios para bloquear a carreira e impedir a progressão dos professores, sem ter que assumir os custos político de decretar o seu congelamento.
Por aqui se vê a coragem de certos políticos.

José Manuel
 
De acordo. Ao contrário do que certos salazaristas costumavam dizer, nem sempre, o que parece, é.
No melhor pano (Rolo Duarte) cai a nódoa (a simplificação grosseira por simpatia supérflua).

Boa posta.

Fátima
 
É extraordinária a frase "... aqueles (pais) que estiverem em melhores condições possam efectivamente fazer uma avaliação sobre os professores". Melhores condições?!! Vão fazer provas de aptidão física? Ou testes de QI?
 
Este post de MC parece bastante mais tendencioso e manipulador que o artigo de Rolo Duarte.
“Não são portanto os pais que vão decidir quem são os bons e os maus professores - os bons pais apenas vão contribuir, à sua pequena escala, para uma avaliação global.”
Diz Rolo Duarte citado por MC que opina:
"Ora a verdadeira cortina de fumo é esta. A dicotomização de “bons” e “maus” pais a avaliar “bons” e “maus” professores.
A "dicotomização" de bons e maus professores não é nenhuma cortina de fumo. É o resultado desta e de todas as avaliações. O que muitos dos professores que seguem a FENPROF querem, é que das avaliações resulte apenas a classificação de bons e... bons professores. Quanto aos bons e maus pais o que RD diz é: «Não são portanto os pais que vão decidir quem são os bons e os maus professores - os bons pais apenas vão contribuir, à sua pequena escala, para uma avaliação global.» e na realidade RD é, aqui sim, tendencioso ao dizer-nos que são os bons pais que vão dar opinião. Ora irão os bons e os maus pais. É a vida!
Conclusão RD por concordar com a proposta da ministra encontra além de bons argumentos ainda outros que por acaso são maus. MC não apoia a proposta de carreira docente e usa contra RD ainda mais maus argumentos do que este usa a favor da ministra.
Viriato
 
________________________________

Ó meu caro Viriato,

Primeiro, leia o que escreve:

(citando Rolo Duarte)«(...)os bons pais apenas vão contribuir, à sua pequena escala, para uma avaliação global.»

Não consegue ler, de entre o que citou, «(...) os bons pais.»???

Faça um pequeno esforço, por favor.

Depois, não acusei o Rolo Duarte de nada. Gosto, em geral, do que ele escreve. Neste caso, não. Achei mal. A circunstância de ele ter acordado a odiar a ministra e, depois, ter adormecido mais descansado, a gostar dela e a gostar menos de certos colegas de profissão, são truques criativos. A informação, incluindo uma leitura cuidada do Projecto de Lei, é o que mais falta lá faz. É o que, por definição, não falta no bom jornalismo.

Cordialmente
 
Até o Professor Marcello se apercebeu que a Ministra da Educação exagera na sanha anti-professores.
Como professora e investigadora em ciências sociais que é (foi), podia ter-lhe ocorrido uma experiência piloto, uma fase experimental, um estudo... Mas não. Corta a direito e, em vez de contribuir para o reforço dos laços sociais de confiança e cooperação nas comunidades educativas, intervem desastradamente, multiplicando os focos de conflitualidade.
Ligar o ensino à vida e a escola à comunidade, sim, com a aproximação visando o interconhecimento, não com burocracias avaliativas obscuras.
Gostei do poste do MC.
É verdade que às vezes os bons jornalistas também fazem mau jornalismo. Se Viriato não o quer admitir, talvez nos reste ainda Sertório. Há razões para ter esperança.

Luis Narana
 
Manolo? Olé!!!

Meu grande malandrão, agora é que estás tramado. Metes-te com o Rolo Duarte e ele começa a fazer censura ao que vocês escrevem na coluna dos blogues do jornal dele. Podes apontar o que te digo.
Sempre me pareceu que não tens jeito para o negócio, mê marafado.

Carlos Dimitrov
 
Eu o que não percebo é, como é que se pode avaliar um professor sem se assistir às aulas que ele dá?

Tenho um filho num jardim-de-infância. Sei, porque observo, qual é a evolução do meu filho. Mas jamais me passaria pela cabeça ir atribuir a bondade ou maldade dessa evolução aos (de)méritos da professora. Nunca assisti à professora a dar aulas, e nada me permite avaliar o seu trabalho.

O meu filho está sujeito, no jardim-de-infância e fora dele, a múltiplas influências. Para além de que tem a evolução normal da sua personalidade. Tudo isso é, provavelmente, mais importante para a sua evolução do que, propriamente, a qualidade da professora.

É ridícula, e merecedora de total repúdio, a pretensão do ministério, de ir avaliar os professores pelos resultados dos seus alunos, ou pelas opiniões dos pais.

Só assistindo às aulas se pode avaliar um professor.

Luís Lavoura
 
Ó MC, desculpe lá, mas a passagem da crónica do Rolo Duarte que eu acho mais patusca é a seguinte:

«...deixar as escolas abrirem-se aos encarregados de educação e permitir que, em casos devidamente previstos (por exemplo, quando os pais participarem activamente nas reuniões das escolas), aqueles que estiverem em melhores condições possam efectivamente fazer uma avaliação sobre os professores.»

(Os negritos são meus)

É um fartar de «mas» e «se». Chama-se a isto legislar para a «nata parental».

Ao contrário de Viriato, acho que o Rolo Duarte meteu mesmo o pé na argola.

Cunha Santos
 
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