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2006-07-13

 

Debates quase esotéricos

Imaginemos o cenário bucólito de Portugal ainda ter agricultura e que, para honra da deusa Flora, no Parlamento decorriam aguerridos jogos florais em torno do Estado da Nação. Imaginemos ainda um aceso debate entre o PS e o PSD sobre o mérito relativo dos respectivos governos nas "decisões" metereológicas que abonaram ou não o nosso chão de cultivo com as necessárias e atempadas chuvas.
Tal exercício seria no mínimo hilariante.
Mas que dizer do acirrado debate, disputado palmo a palmo em torno do mérito do actual e anteriores governos em umas décimas percentuais, para cima ou para baixo, sobre o desempenho da Economia em cada um dos governos quando se sabe que uma economia exposta e subsidiária como a nossa depende em 80 ou 90% do que acontece na União Europeia e nos EUA?
O debate certo seria, e em parte não deixou de se fazer, em torno, não de mais 1 ou menos 1%, nas taxas de variação da economia mas sobre o que cada governo fez ou deixou de fazer naquilo que favorece a economia e de si depende: o contexto legal, administrativo, formação profissional, ensino, saúde. E por aí.
Nesse aspecto o Simplex, o Prace (ainda falta ver), a contenção orçamental com a abolição de regalias que se tornaram insustentáveis ou injustificáveis e outras reformas nomeadamente na saúde, no ensino, na justiça, na segurança social contam a favor de Sócrates.
Não é propriamente "o trabalho sujo" que o PSD E CDS deixaram para o PS. São a resposta a uma situação insustentável que a não ser atalhada teria consequências incomparavelmente mais gravosas e que se fosse a direita a fazer seriam mais dolorosas para os trabalhadores e as classes médias. Veja-se, a título de exemplo, a sua proposta para a segurança social.

Comments:
Não me parece claro que a proposta da direita (leia-se: do PSD) para a segurança social seja "dolorosa para os trabalhadores e para a classe média".

O que o PSD propõe é apenas que a gestão de uma parte das contribuições para a segurança social passe a ser feita no esquema de capitalização das poupanças individuais. Em que é que isso seria doloroso? Um trabalhador descontaria para a segurança social exatamente tanto como desconta agora. O valor da sua reforma futura, em vez de ficar dependente dos caprichos da economia portuguesa, como atualmente está, passaria a ficar dependente dos caprichos da economia mundial. Com efeito, atualmente as nossas reformas estão dependentes do trabalho e das contribuições dos trabalhadores portugueses. Com a proposta do PSD, as nossas reformas passariam a estar indexadas a ativos financeiros respeitantes à economia global - a qual, portencialmente, terá um desempenho muito melhor do que a portuguesa.

Ou estou a ver mal a coisa?

Luís Lavoura
 
A nossa economia exposta e subsidiária não depende tão crucialmente daquilo que se passa na Europa e nos EUA. Depende, muito mais, daquilo que nós fizermos enquanto povo. Depende da qualidade dos nossos empresários e dos nossos gestores. Depende da nossa capacidade de poupança e de investimento - capacidade que atualmente está fortemente afetada, uma vez que o nosso país e o nosso povo estão brutalmente endividados.

As nossas exportações sobem e descem de acordo com os ritmos da Europa e dos EUA. Mas sobem e descem também de acordo com a nossa capacidade empresarial.

Aliás, um grande problema da nossa economia é depender tão crucialmente das exportações (de baixo valor acrescentado) para a Europa. A nossa economia deveria depender sobretudo das exportações (de alto valor acrescentado) para os países do Oriente e da América Latina. Porque é nesse países que está o crescimento do futuro, e não na estafada e demograficamente estagnada Europa.

Luís Lavoura
 
A nossa economia exposta e subsidiária não depende tão crucialmente daquilo que se passa na Europa e nos EUA. Depende, muito mais, daquilo que nós fizermos enquanto povo. Depende da qualidade dos nossos empresários e dos nossos gestores. Depende da nossa capacidade de poupança e de investimento - capacidade que atualmente está fortemente afetada, uma vez que o nosso país e o nosso povo estão brutalmente endividados.

As nossas exportações sobem e descem de acordo com os ritmos da Europa e dos EUA. Mas sobem e descem também de acordo com a nossa capacidade empresarial.

Aliás, um grande problema da nossa economia é depender tão crucialmente das exportações (de baixo valor acrescentado) para a Europa. A nossa economia deveria depender sobretudo das exportações (de alto valor acrescentado) para os países do Oriente e da América Latina. Porque é nesse países que está o crescimento do futuro, e não na estafada e demograficamente estagnada Europa.

Luís Lavoura
 
Isto da segurança social e da economia está um bocadinho baralhado.
Analisemos o grau de risco das propostas PS e PSD, porque as propostas têm muito de comum. Prevêem as duas uma conta individual.. Para o PS essa conta individual é alimentada de forma voluntária e tem dois objectivos:valorizar a reforma e não se reformar mais tarde.
A do PSD, a conta individual é alimentada por uma parte dos descontos. Mas ambas, em termos práticos, levam a um montante menor do que agora para os mesmos descontos e isto é preciso ser dito.

Porém o sistema que o PSD preconiza é de maior risco, porque oa retirar verbas ao sistema actual, tem de fixar uma componente de reforma bem mais baixa ou então desequilibra todo o sistema e a componente de capitalização não cobrirá o diferencial. As excepções ficarão com as reformas graúdas.

Sobre a economia um dia destes voltamos ao assunto, porque a situação é dificil e precisamos mesmo de exportar bens e serviços e muito. Com o mercado nacional não vamos longe. E há muitos mitos que o melhor é ser realista.
 
não tenho tempo para escrever mais do que isto:
se os disparates que aqui são proferidos pagassem imposto a choldra não precisava de nenhuma reforma!
 
A questão de fundo da Segurança Social tem a ver com a relação entre o nº de activo (contribuintes liquidos) e a riqueza criada.
Actualmente a SS baseia-se nas contribuições sobre o nº de trabalhadores. Quanto mais trabalhadores tiver uma empresa maior é a receita gerada para a SS. A introdução duma nova tecnologia pode permitir diminuir o nº de trabalhadores encaminhando-os para o desemprego ou reforma e aumentar simultaneamente a riqueza criada.
Há asssim menos receitas e mais encargos para a SS mas a riqueza produzida é maior. Esta tendência multiplicada por n vezes é qe representa o verdadeiro problema da SS.
No futuro deverão os robots das linhas de montagem contribuir para a SS??
Basta ver como a banca através da informatiação(algo sem dúvida positivo) atirou com os custos para a SS e ficou com o proveitos só para ela.

Quanto ao PSD não me parece que tenha ideias diferentes do PS. Só radicaliza um pouco o discurso para marcar alguma diferença política mas não é para levar a sério. Aliás quando foi poder nunca o implementou.

Apesar de todas as crises não se pode dizer que em Portugal a riqueza criada e acumulada é menor do que há 30 anos ou mesmo do que há 15 anos. Portanto o problema da SS não é simplesmente demográfico´. É essencialmente de opções de políticas sociais e económicas. Por isso é que se foge à questão de fundo.

José Manuel
 
Se fosse a direita a «corrigir» o défice das contas públicas, teríamos, talvez, o salário mínimo mais baixo da UE (a 15), uma «mobilidade especial» em que os «excedentários» se encontrem, em pouco tempo, «descompensados», a receber metade do vencimento, enquanto os serviços públicos vão fechando, piorando, desmotivando...
Com a direita seria, de facto, tudo muito pior. Porque, nesse caso, o PS, na oposição, não deixaria passar algumas medidas que o PSD e o CDS, embaraçados e envergonhados, deixam, ruborizando e aplaudindo em surdina.
Para «jogos florais», não está mal.

MC
 
Agradeço os oportunos contributos à discussão. As correcções e afinações ideológicas. E agradeço também ao Luiki não ter tido tempo para mais.Por fim peço desculpa por levianamente, ter considerado que o PS estava à esquerda da direita.
Aos que estejam em férias como eu desejo-lhes bom descanso e aos outros a máxima produtividade e capacidade de exportação;-)))
 
_______________________________

Agradeço ao anónimo que se assina MC a pertinente observação. O PS na oposição tem menos complexos de esquerda. No Governo, não é que seja exactamente de direita. Não. Mas faz um jogo tão ousado que a deixa paralisada, de olhos arregalados a admirar a performance de um partido de esquerda, direita, ope!, 2.
Sabemos todos que, uma vez no poder, há que proceder a ajustamentos que o discurso eleitoral exagera. Ok. Mas tanto? Haveria necessidade?
 
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