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2006-07-19

 

O mito Al-Zarqawi

Ontem, no Iraque, na cidade “sagrada” xiita de Kufa, um bombista-suicida matou 59 pessoas e feriu 130. (Aqui, como na Palestina e Israel quase tudo é sagrado. Sagrado para uns blasfemo para outros.) No dia anterior um grupo armado matou 56 iraquianos em Mahmudya. Segundo a AP (Público de hoje. Link só para assinantes) nos primeiros 17 dias de Julho foram mortos 6oo iraquianos (527 civis e 90 elementos das forças de segurança).

A cinematográfica morte, com bombardeamento aéreo, para alimento da indústria televisiva, do “mais perigoso terrorista” o jordano Abu Musab al-Zarqawi, líder da Al-qaeda no Iraque teve, como os círculos bem informados previam, pouca ou nenhuma consequência no nível da mortandade, do terrorismo e da resistência iraquiana.
A Administração norte-americana hipervalorizava a importância de al-Zarqawi para efeitos de propaganda e de algum modo ligar a invasão do Iraque à ficção da forte presença aí da Al-Qaeda no tempo de Sadan (uma mentira deliberada) .
Há muito que meios da resistência iraquiana desvalorizavam a influência e o papel de al-Zarqawi ao mesmo tempo que exibiam pela Europa, incluindo Portugal, filmes e outra informação sobre a resistência iraquiana e os massacres da população civil nomeadamente da cidade de Faluja, metodicamente bombardeada pelo exército americano com armas incendiárias desconhecidas e, ao que parece, bombas de neutrões.


Comments:
mil parabéns pela lucidez do texto!
 
É uma tradição americana personificar o inimigo num indivíduo que é pintado como sendo o responsável de todo o mal e de todas as desgraças. Os EUA fizeram isso com Manuel Noriega no Panamá, com Slobodan Milosevic nos Balcãs, com Saddam Hussein no Iraque, e com incontáveis outros. Fizeram-no agora com Abu Musab al Zarqaui.

Este efeito propagandístico apela provavelmente às crenças religiosas profundas do povo americano e, nomeadamente, à sua crença no Demónio. O Mal aparece personificado numa pessoa concreta, em vez de ser atribuído, como seria correto, à mentalidade de todo um grande conjunto de pessoas.

É ridículo e lamentável que os nossos mídia nos sirvam esta vulgar propaganda americana como tendo alguma coisa a ver com a realidade. A nós, que não acreditamos em Belzebu.

Luís Lavoura
 
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