2006-07-14
A quarta lição
Aprendendo com Cavaco Silva.
_______________________________________1. José Sócrates é contra o pessimismo, a queixa, o criticismo e a consternação. Eu também. (Já somos, pelo menos, dois). Aprende com Cavaco Silva (ai, ai, bem me parecia…) e acha que a hora não é de lamúrias, nem de acusações genéricas às políticas do seu governo. Aliás, nenhum governo vive feliz com as críticas, sobretudo quando os estudos de opinião lhe dão saldos positivos. Afinal, quem é que tem razão? Os críticos ou a estatística dos inquiridos? A escolha é fácil, e José Sócrates fá-la com aquela obstinação que o caracteriza. Seguindo, por certo, uma consigna cavaquista, tem para ele que os números falam mais alto. A opinião publicada é coisa de somenos.
2. Que visão tem José Sócrates do Estado? A que propalou na campanha eleitoral, ou a que se configura a partir das suas políticas, agora? Resposta fácil. É a de agora.
Depois de ter criticado os Governos do PSD (sobretudo o de Durão Barroso) pela «obsessão do défice», -- no que foi secundado pelo Presidente da República, então em exercício, Jorge Sampaio, que nos presenteou com aquela frase célebre «Há mais vida para além do orçamento», -- José Sócrates retoma a «obsessão do défice», lembrando que Portugal não pode sair do Programa de Estabilidade e Crescimento. A fórmula parece diferente; a substância é a mesma. Se, como declarou, também aprendeu com Sampaio, neste caso, o ensinamento vem directamente de Cavaco.
3. Para alguns, o PS não está a fazer o «trabalho sujo» que, suponho eu, consistiria em reequilibrar as contas do Estado à custa dos «suspeitos do costume». Estamos a gastar demais há demasiado tempo? Fecham-se serviços; põem-se uns quantos funcionários públicos a ganhar tão pouco que só lhes reste irem-se embora de vez; congelam-se carreiras e vencimentos; acusa-se os sindicatos de postura corporativa e explica-se que o Governo governa para todos os portugueses e não apenas para as organizações que os representam que, como se sabe, defendem interesses particulares, não consentâneos com o interesse nacional, etc. Era este, mutatis mutandis, o paleio cavaquista do alto da sua maior maioria absoluta. José Miguel Júdice, então muito envolvido na política partidária e no "Semanário", mandava titular: "Fazer do pico um planalto". A inspiração de Sócrates é semelhante. Com uma terraplanagem social, quer dividir os sacrifícios de modo a que os «grandes investidores» não tenham razões de queixa. Nada de novo. Mais adiante compreenderá algo que Cavaco parece não ter retido. Do pico ao fosso, ou do planalto ao pântano, vai-se mais depressa que dizer ai.
4. Se falar directamente para o «povo», por cima das organizações que representam interesses «particulares», -- socioprofissionais, sectoriais, políticos e económicos -- não é incorrer no mais clássico populismo, digam-me, então, por favor, o que é afinal o populismo?
Entretanto, centros de saúde, hospitais, maternidades, escolas e outros serviços públicos, vão fechando as portas. O ideal de proximidade entre os cidadãos e os locais onde os serviços são prestados, esbate-se, degrada-se e extingue-se.
Todavia, para muitas gentes, isto não é o «trabalho sujo» que o PS está a fazer. É algo que teria de ser feito «de qualquer maneira» e «quanto mais tarde, pior». Porquê? Porque «gastamos demais» e há que fazer cortes; há que diminuir a despesa pública. E como temos de viver gastando menos, o Governo corta naquilo que se vê mais no que se anuncia. Aí Cavaco não tem nada a ensinar. Governou com as vacas gordas. Quando a coisa deu para o torto refugiou-se num redondo tabu e saiu antes do fim do mandato, deixando Fernando Nogueira à nora.
5. Bom. José Sócrates pensa-o, mas não ousa confessá-lo. Uma das coisas que aprendeu com Cavaco Silva é que, afinal, Manuela Ferreira Leite estava certa, a seu modo. O grande busílis está no «défice». Afinal, Jorge Sampaio não tinha razão. Não há assim tanta vida como isso para além do orçamento. Sujos ou limpos, conforme as perspectivas, são estes, de facto, os trabalhos de Sócrates. O PS só tem de ir atrás, como das outras vezes…Cavaco, apesar da proverbial chachada do "Nunca me engano, etc", não pode acudir a tudo. José Sócrates vai ter de aprender algumas coisas importantes de outro modo.
2. Que visão tem José Sócrates do Estado? A que propalou na campanha eleitoral, ou a que se configura a partir das suas políticas, agora? Resposta fácil. É a de agora.
Depois de ter criticado os Governos do PSD (sobretudo o de Durão Barroso) pela «obsessão do défice», -- no que foi secundado pelo Presidente da República, então em exercício, Jorge Sampaio, que nos presenteou com aquela frase célebre «Há mais vida para além do orçamento», -- José Sócrates retoma a «obsessão do défice», lembrando que Portugal não pode sair do Programa de Estabilidade e Crescimento. A fórmula parece diferente; a substância é a mesma. Se, como declarou, também aprendeu com Sampaio, neste caso, o ensinamento vem directamente de Cavaco.
3. Para alguns, o PS não está a fazer o «trabalho sujo» que, suponho eu, consistiria em reequilibrar as contas do Estado à custa dos «suspeitos do costume». Estamos a gastar demais há demasiado tempo? Fecham-se serviços; põem-se uns quantos funcionários públicos a ganhar tão pouco que só lhes reste irem-se embora de vez; congelam-se carreiras e vencimentos; acusa-se os sindicatos de postura corporativa e explica-se que o Governo governa para todos os portugueses e não apenas para as organizações que os representam que, como se sabe, defendem interesses particulares, não consentâneos com o interesse nacional, etc. Era este, mutatis mutandis, o paleio cavaquista do alto da sua maior maioria absoluta. José Miguel Júdice, então muito envolvido na política partidária e no "Semanário", mandava titular: "Fazer do pico um planalto". A inspiração de Sócrates é semelhante. Com uma terraplanagem social, quer dividir os sacrifícios de modo a que os «grandes investidores» não tenham razões de queixa. Nada de novo. Mais adiante compreenderá algo que Cavaco parece não ter retido. Do pico ao fosso, ou do planalto ao pântano, vai-se mais depressa que dizer ai.
4. Se falar directamente para o «povo», por cima das organizações que representam interesses «particulares», -- socioprofissionais, sectoriais, políticos e económicos -- não é incorrer no mais clássico populismo, digam-me, então, por favor, o que é afinal o populismo?
Entretanto, centros de saúde, hospitais, maternidades, escolas e outros serviços públicos, vão fechando as portas. O ideal de proximidade entre os cidadãos e os locais onde os serviços são prestados, esbate-se, degrada-se e extingue-se.
Todavia, para muitas gentes, isto não é o «trabalho sujo» que o PS está a fazer. É algo que teria de ser feito «de qualquer maneira» e «quanto mais tarde, pior». Porquê? Porque «gastamos demais» e há que fazer cortes; há que diminuir a despesa pública. E como temos de viver gastando menos, o Governo corta naquilo que se vê mais no que se anuncia. Aí Cavaco não tem nada a ensinar. Governou com as vacas gordas. Quando a coisa deu para o torto refugiou-se num redondo tabu e saiu antes do fim do mandato, deixando Fernando Nogueira à nora.
5. Bom. José Sócrates pensa-o, mas não ousa confessá-lo. Uma das coisas que aprendeu com Cavaco Silva é que, afinal, Manuela Ferreira Leite estava certa, a seu modo. O grande busílis está no «défice». Afinal, Jorge Sampaio não tinha razão. Não há assim tanta vida como isso para além do orçamento. Sujos ou limpos, conforme as perspectivas, são estes, de facto, os trabalhos de Sócrates. O PS só tem de ir atrás, como das outras vezes…Cavaco, apesar da proverbial chachada do "Nunca me engano, etc", não pode acudir a tudo. José Sócrates vai ter de aprender algumas coisas importantes de outro modo.
Comments:
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"Como tínhamos de diminuir a despesa, fomos forçados a aumentar os impostos".
José Sócrates diz destas coisas sem se rir.
Os analistas consentem; os espertalhões, calam; e o «povo» e os jornalistas deixam passar...
Estou de acordo com o MC. Sócrates não é arrogante. É apenas obstinado. Acredita nas mentiras que diz.
Carlos Soutelo
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José Sócrates diz destas coisas sem se rir.
Os analistas consentem; os espertalhões, calam; e o «povo» e os jornalistas deixam passar...
Estou de acordo com o MC. Sócrates não é arrogante. É apenas obstinado. Acredita nas mentiras que diz.
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