2006-08-05
A Desumanização da Política (1)
No artigo de Esther Mucznik (PÚBLICO de ontem, p. 8 da edição em papel) titulado “A compaixão como instrumento do ódio”, a autora, a par de algumas questões pertinentes acerca do entrecruzamento de estratégias regionais e globais no conflito palestiniano, escolhe um ângulo de abordagem que afasta a dimensão histórica dos dois Estados Palestinianos que acabaram, até ao presente, por serem... apenas um.
Os Israelitas estão, aliás, numa posição de incomodidade perante a história. Quando se lhes refere o passado, eles invocam as perseguições milenares e, já no século XX, o Holocausto.
Têm razão.
Porém, a postura colonizadora nos territórios ocupados; a fuga à aplicação das resoluções da ONU; a desproporção retaliadora que os leva a despejar metralha, às cegas, sobre os palestinianos, na sequência de acções de bombistas suicidas, derivam do enfoque sionista que se institucionalizou após 1948.
Tentam justificar as respostas assimétricas que contribuíram evidentemente para a radicalização dos seus opositores. Convenceram-se que a solução consiste em enfraquecer os adversários até ao ponto de serem constrangidos a aceitar os termos da Pax Hebraica. Todavia, não conseguiram convencer ninguém. Destroem tudo em redor, acrescentando motivos de ódio e intensificando desejos de vingança.
Não têm razão.
Esther Mucznik escreve, no artigo já referido:
“O que não pode acontecer é o esvaziamento da política, em nome do humanitário.”
É esse o falso dilema. A defesa básica dos Direitos Humanos impõe à Política a dimensão sagrada da precaução humanitária. O expediente argumentativo de Esther, não colhe. A dimensão humanitária não esvazia a política. Preenche-a, tornando-a mais humana.