PUXAPALAVRA

Nos últimos 5 anos a escola do primeiro ciclo onde os meus filhos andam tem sido parte importante da minha vida.
Porque é importante para os meninos, mas também porque todos eles foram passados na direcção de Associações de Pais.

Foram muitas horas de partilha de problemas das instalações a precisar de obras, da necessidade de organizar actividades de tempos livres, dos problemas dos Pais que os não podem pagar, da alimentação em regime de catering, dos maus professores que reclamam por terem de trabalhar mais horas, das situações desagradáveis com professores que não cumprem um minimo de comportamento, dos pais que não se sabem comportar com os professores, dos pais que muito reclamam mas nunca se chegam à frente para ajudar, das assembleias gerais onde apesar de horas e horas consumidas se é sempre criticado, das assembleias de escola onde as diferentes corporações se degladiam, das reuniões com os responsáveis da CML que passam confecção das refeições no local para catering e que nunca mais lançam os concursos para as obras prometidas há 10 anos, de ir 3 vezes por semana à escola provar a comida dos meninos porque os pais dizem que eles não comem, de viver o drama das colocações.

Mas foi também tempo de partiha com os meus filhos, de interesse pelos problemas que lhes dizem respeito, do contacto excelentes professores que eles tiveram (dei por mim no fim do ano passado a escrever uma carta de agradecimento à professora do Tomás pelo excelente trabalho que com ele realizou), de compras para a escola que se conseguem fazer com dinheiro recolhido pelos pais, de passar horas e horas a redigir regulamentos da escola, de conceguir resolver problemas de apoio a meninos com necessidades especiais, de trabalhar com coordenadores (do conselho executivo e não só) competentes e com elevadissimo espirito de missão, de conseguir fazer obras em situações desesperadas, de acreditar que faço parte de uma comunidade, e, o meu maior orgulho: sentir que contribuí com o meu pequeno grão para a melhoria de Portugal.

O 1º ciclo tem sido, desde o 25 de Abril o parente pobre da educação. Mesmo Guterres - que tão bom trabalho fez no pré-escolar - tinha esquecido este ciclo. As mudanças de jurisdição para as Camaras Municipais sem a transferência de verbas correspondentes às necessidades apenas serviu para piorar. As Camaras precisam de fazer as suas rotundas e uma escola não dá o show off correspondente pois todos acham que é sua obrigação.

Começou hoje a escola no 1º ciclo. O Tomás está no 4º ano.
Ontem decorreu a reunião de inicio do ano com o novo professor.

Apesar de tudo o que já vivi (como pai na escola), nunca porém tinha sentido tão grande melhoria. O Tomás irá passar a ter mais actividades extra curriculares : Educação Fisica ; Música ; Inglês ; Estudo acompanhado. E passará a existir um intervalo de horas subsidiado (infelizmente incompleto) de apoio à familia das 8 às 9 da manhã e das 17:30 às 19:00. E estas actividades não são apenas para os meninos que as podem pagar. É universal em todo o ensino público. Os professores irão ter maiores cuidados no ensino da matemática e lingua Portuguesa existindo para eles programas de aprendizagem.
E adicionalmente o professor disse na reunião com enorme orgulho : "Chamo-me Anselmo e estarei nesta escola durante os próximos 3 anos". Estas palavras tocaram-me especialmente. Nessa altura lembrei-me da professora a quem escrevi a carta que, quando a recebeu, me disse com uma lágrima a um canto do olho: Não fiquei colocada. Para o ano não virei para esta escola apesar do bom trabalho que pais e colegas me disseram que fiz.

Este governo está de parabéns. O 1º ciclo está mesmo a mudar. E para melhor.