O Governo tem na forja a aprovação de uma lei que permite às polícias torturar os presos suspeitos de terrorismo. As torturas habituais da PIDE. Tortura do sono, a da estátua, a submersão em água ou em excrementos, choques eléctricos, e outras torturas. Sexuais, simulação de morte dos filhos, enfim o que a imaginação e a rica experiência da Inquisição, dos nazis, da CIA, do KGB e outra boa gente possa aconselhar.
Trata-se de terroristas globais como aqueles de Nova York, Madrid ou Londres. Melhor dito, de suspeitos de terrorismo. Mas como descobrir os terroristas? Primeiro há que prendê-los. Mas como se as polícias não sabem quem são? Ora para colmatar essa dificuldade que reduziria a nada ou quase nada a tortura e as prisões e os tribunais especiais a lei prevê dar amplos poderes às polícias para prenderem quem lhes pareça suspeito. Por exemplo, vai um tipo por aí, muito rente às paredes, com barba crescida, de óculos escuros, no Outono ou no Inverno, com um andar estranho, a comunicar com o telemóvel muito baixinho que não se percebe nada. Que lhe parece? A polícia para nossa segurança passa a ter o direito de o prender. Prisão secreta, claro. Senão vinham para aí os jornais, as televisões, os advogados, as famílias, os tipos dos direitos humanos e ia tudo por água abaixo. E o Islão e o Bin Laden a rirem-se. Tortura até ele confessar e deitar cá para fora os planos que tem escondidos. Pode morrer inadvertidamente? É um risco. Paciência. Guerra é guerra. Não digo que se faça como na Argentina dos coronéis que se metiam os comunistas num avião e atiravam-se ao mar. Enterrem-se às escondidas. É excessivo, é brutal, é fascista? Chamem-lhe o que quiserem mas evita-se a morte de milhares de inocentes, os nossos filhos, nós próprios, em atentados sabe-se lá onde. No Metro, no Colombo, no estádio das Antas ou do Benfica, à saída da missa dos Jerónimos. Ou o envenamento da água da rede pública. Uma bomba nuclear sobre Lisboa.
Eu, aliás, estou totalmente de acordo com o combate aos terroristas e com estas novas leis. Não são simpáticas mas são necessárias. Temos de prescindir de um bocadinho das nossas liberdades para defendermos a nossa segurança. A coisa é esta: liberdade total ou um mínimo de segurança.
Bem, estar de acordo estava, até há bocado quando o meu vizinho Antunes, que tem a mania de levantar problemas, se virou para mim e disse: olhe lá e se esse tal tipo do telemóvel e óculos escuros for você ou o seu filho?
Fiquei estupefacto.
- Mas eu não sou terrorista?
- E as polícias num ambiente de paranóia anti-terrorista sabem?
- Deveriam saber, não?
- E se um seu vizinho, sócio da empresa, um filho da puta qualquer o denuncia?
- Realmente... é um problema.
- E além disso acha que é assim que se evitava que aqueles tipos bem parecidos embarcassem nos aviões e os depenhassem nas Torres Gémeas?
- Sei lá?
- Então se não sabe pense. Para que quer a cabeça?
Não estou a falar do Governo de Sócrates. Estou a falar do Governo do "nosso" presidente W. Bush que conseguiu aprovar no Congresso dos EU, ontem, leis que permitem isto que acabei de descrever.
A legislação deu origem a um grande confronto no Congresso e ao contrário do passado os democratas, incluindo os líderes que se preparam para as presidenciais de 2008, mostraram-se bastante contundentes, o que revela que a opinião pública norte-americana, está bastante mais sensível à defesa dos direitos, liberdades e garantias que distinguem a América da Arábia Saudita, do Irão, do Paquistão, dos talibans, do Hamas ou do Hezebolah.
" Democratic opponents of the legislation said their political position was driven by a substantive determination that the bill, which creates rules for interrogating and trying terrorism suspects, is fundamentally flawed and a dangerous departure from founding American principles. (NYT)
“The only reason to worry about the politics of it is if you don’t understand it and don’t have the guts to stand up and defend your vote,” said Senator Christopher J. Dodd, Democrat of Connecticut, who is considering a presidential race.
...It was a stark change from four years ago, when Mr. Bush cornered Democrats into another defining pre-election vote on security issues — that one to give the president the authority to launch an attack against Iraq. At the time, many Democrats felt they had little choice politically but to side with Mr. Bush, and a majority of Senate Democrats backed him.
... “After four years, the price we are paying is clear for saying to a president and an administration that we would trust you,” said Senator John Kerry, Democrat of Massachusetts, whose own vote on the war haunted his 2004 presidential campaign.
...“I fear,” said Senator Hillary Rodham Clinton, Democrat of New York, who is up for re-election this year and who is a possible presidential candidate in 2008, “that there are those who place a strategy for winning elections ahead of a smart strategy for winning the war on terror.” ...
# posted by Raimundo Narciso @ 18:23