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2006-10-05

 

Enquanto o Cisne viaja, a globalização bate à porta da Costa do Marfim



Quando a globalização bate à porta dos pobres.

A incompatibilidade entre os valores associados à “precaução ambiental”, o “desenvolvimento sustentável”, e as variantes do capitalismo conhecidas até hoje, exprime-se com particular acuidade no relativamente recente caso de Abidjan.

[Discussão aberta pela BBC-News, aqui, e peças do NYT, ali e acolá]

Em linhas gerais, um navio de carga, transportando efluentes tóxicos, aporta a Amsterdão, em Julho passado. Destino: estação de tratamento de resíduos perigosos, resultantes da lavagem dos porões de petroleiros, - uma combinação de resíduos petroquímicos e de soda cáustica, donde se evaporam gases nauseabundos, agressores do sistema respiratório, da pele e mucosas, nariz, boca e olhos.

Ao tomar conhecimento do grau de toxicidade do material, o sindicato dos trabalhadores portuários e as autoridades de Amsterdão, depois da Trafigura -- companhia suíça proprietária do navio-tanque obtido de um armador grego num contrato de leasing, sob pavilhão canadiano -- ter recusado o preço reavaliado do tratamento daqueles resíduos, dado o seu conteúdo letal, interditaram a “mercadoria” e impuseram a suspensão da descarga.

Face ao aumento dos custos com o tratamento e queima dos efluentes, (de 15.000 para cerca de 300.000 dólares, mais taxas portuárias), o navio zarpa com a sua funesta “mercadoria”.

Após várias tentativas, noutros países africanos, aporta a Abidjan, na Costa do Marfim. Uma série de camiões cisterna, carregados com os resíduos, transportam os efluentes e começam a despejá-los em várias zonas, às portas da cidade.

Uma dezena de mortos, e 85.000 feridos, com equimoses na pele e inchaços na boca, olhos e nariz; hospitalizados, procurando urgente tratamento. Ao se aperceberem da mistura agressiva que estava a ser despejada às portas da cidade, os residentes organizaram-se, localizaram os camiões que continuavam a chegar e impediram-nos de continuar. Os motoristas de ocasião, debandaram, abandonando os camiões.

Lá em cima, regressando do seu periélio, o cometa “Cisne” atraía as atenções da NASA e de milhares de astrónomos no mundo inteiro.

Entendendo muito à sua maneira a “luta contra a pobreza”, as multinacionais consagram-se, por vocação, à luta contra os pobres.

É deste modo que a Globalização envolve a Costa do Marfim nas suas promissoras malhas, e bate às portas dos habitantes de Abidjan.

Oiçam-na bater!


Comments:
A lógica dos movimentos entre Centro e Periferia é praticamente universal. Para o Centro são encaminhados a população e os recursos. Para a Periferia vai o lixo e tudo o que incomado o Centro. Isto tanto ocorre à escala global (este caso), como à escala nacional (LisboaxResto do País), regional e local.
 
Abidjan tornou-se assim uma espécie de Souselas global.

Alguém se lembrou das consequências de dezenas de camiões começarem a cruzar as nossas estradas com resíduos industriais perigosos?

Se a maioria destes resíduos são produzidos na região de Lisboa faz sentido exportá-los para o interior do país?
 
Em tempos esteve para haver um negócio semelhante com a Guiné Bissau.
A carga era apenas constituida por resíduos nucleares. Para umas fossas marítimas no mar territorial. Dizem que o negócio incluia um conhecido coronel português assessor de Nino Vieira o PR de então. A denúncia internacional é que impediu o negócio. Que era bom. Com a milionária massa que ele dava mudavam-se para a Europa e quem viesse atrás que fechasse a porta.
Um abraço
 
Efecto llamada. Efecto Caldera, papeles para todos
 
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