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2006-12-26

 

A tragédia do soldado Darby que denunciou Abu Ghraib

O Programa 60 minutos da televisão norte-americana CBS, passado na Sic Notícias este Sábado, tratou duas questões de importânia. As estreitas ligações de Berlusconi à Mafia e a história dramática do soldado (reservista) Joseph Darby, da Polícia Militar do Exército dos Estados Unidos, em serviço no Iraque, que informou o comando sobre as torturas a presos em Abu Ghraib, assunto deste post.
Darby era próximo de Charles Graner o soldado (reservista) líder do grupo das torturas em Abu Ghraib e "conhecia o seu lado negro e mórbido". Um dia este emprestou-lhe dois CD com fotografias, futuras recordações do Iraque. Darby quando viu entre as muitas fotografias de Bagdad as imagens das torturas aos presos achou que não podia permitir que na sua unidade militar pudesse continuar impunemente a ocorrer o que ali via. Tirou uma cópia dos discos e entregou-os ao comando dizendo que alguém lhas deixara na sua secretária. O Departamento de Investigação Criminal não acreditou no expediente e a troco de garantir o seu anonimato convenceu o soldado Darby a contar como obtivera as fotos. O interrogatório aos soldados guardas da prisão implicados nas torturas durou quase um mês durante o qual mantiveram funções e armas. E durante um mês o soldado Darby que ficava sozinho num quarto de porta aberta nas instalações militares comuns dormia com a mão na pistola carregada e pronta a disparar receando ser morto, como represália, no caso de fuga de informação da sua denúncia.
Só que tempos depois a televisão do quartel no Iraque mostrou o ministro da Defesa Donald Rumsfeld (um defensor da tortura a presos) a ser interrogado no Congresso sobre Abu Ghraib e a afirmar que merecia ser mencionado o soldado Joseph Darby por ter feito a denúncia dos crimes. A reacção na unidade à denúncia não foi apesar de tudo tão negativa como Darby receava. Houve uma parte dos militares que ficaram do seu lado mas uns tempos depois o comandante chamou-o e disse-lhe que para sua segurança partiria imediatamente para os Estados Unidos. À chegada esperava-o a mulher e pensava, ansioso, regressar de seguida à sua pequena cidade natal, Cumberland. Mas a Polícia Militar informou-o que lá tinha praticamente a cabeça a prémio e a sua mulher recebia regularmente ameaças de morte ao marido. Parte da família dele e dela consideravam-no um traidor e cortaram relações.
Durante seis meses o Exército assegurou-lhe guarda-costas armados que o defendiam dia e noite e agora vive incógnito noutro Estado sem ter podido voltar à terra onde o conheciam e estimavam a ele, aos pais e avós e onde talvez não possa mais voltar. Teve depois um prémio de consolação, a fundação do senador Joseph Kenedy atribuiu-lhe o prémio Profile Courage Award "por ter falado quando os outros desviavam o olhar".
Graner foi condenado a 10 anos de prisão militar, em Janeiro de 2005, no Texas. No julgamento ele e outros soldados condenados alegaram que recebiam ordens do serviço secreto militar para "amaciarem" os presos o que foi secundado por outros testemunhos. Mas isso não foi provado. Também se confirmou que denúncias verbais tinham sido feitas por vários militares aos comandantes mas tudo caíra em saco roto. Darby afirma que "pretendia que terminassem as torturas ilegais e fossem punidos os criminosos mas não queria que o seu conhecimento viesse a público". Agora quer defender a honra da sua unidade manchada para sempre por causa de 7 criminosos entre duzentos "dos melhores soldados que conhecera".

Moral da história: parte da população e dos colegas de Darby, talvez a maioria, condenaram a denúncia dos crimes e não os crimes. Rumsfeld mencionando publicamente a coragem do soldado Darby condenou-o ao ostracismo e ao medo permanente.


Comments:
Ora que viva então essa grande democracia, luz do mundo, exemplo para todo o mundo incivilizado ou cristão!!!
 
Quem é que pode ser sacristão numa paróquia dessas!?
 
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