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2007-01-02

 

Carta do Embaixador Francisco Seixas da Costa a umjornalista brasileiro

Francisco Seixas da Costa é um dos grandes e bons embaixadores portugueses, porque eficiente e que, para além de exercer a diplomacia, é um homem possuidor de uma grande cultura.

Esta carta é resposta ao jornalista Políbio Braga de Porto Alegre que, no seu site, escreve uma apreciação sobre o nosso país que abaixo se transcreve.

"Senhor Políbio Braga

Um cidadão brasileiro, que faz o favor de ser meu amigo, teve a gentileza de me dar a conhecer uma nota que publicou no seu site, na qual comentava aspectos relativos à sua mais recente visita a Portugal.

Trata-se de um texto muito interessante, pelo facto de nele ter a apreciável franqueza de afirmar, com todas as letras, o que pensa de Portugal e dos portugueses.

O modo elegante como o faz confere-lhe, aliás, uma singular dignidade literária e até estilística.

Mas porque se limita apenas a uma abordagem em linhas muito breves, embora densas e ricas de pensamento, tenho que confessar-lhe que o seu texto fica-nos a saber a pouco.

Seria muito curioso se pudesse vir a aprofundar, com maior detalhe, essa sua aberta acrimónia selectiva contra nós.

Por isso lhe pergunto: não tem intenção de nos brindar com um artigo mais longo, do género de ensaio didáctico, onde possa dar-se ao cuidado de explanar, com minúcia e profundidade, sobre o que entende ser a listagem de todas as nossas perfídias históricas, das nossas invejazinhas enraizadas, dos inumeráveis defeitos que a sua considerável experiência com a triste realidade lusa lhe deu oportunidade de decantar?

Seria um texto onde, por exemplo, poderia deter-se numa temática que, como sabe, é comum a uma conhecida escola de pensamento, que julgo também partilhar: a de que nos caberá, pela imensidão dos tempos, a inapelável culpa histórica no que toca aos resquícios de corrupção, aos vícios de compadrio e nepotismo (veja-se,desde logo, a última parte da Carta de Pêro Vaz de Caminha), que aqui foram instilados, qual vírus crónico, para o qual, nem os cerca de dois séculos, que se sucederam ao regresso da maléfica Corte à fonte geográfica de todos os males, conseguiram ainda erradicar por completo.

Permita-me, contudo, uma perplexidade: porquê essa sua insistência e obcecação em visitar um país que tanto lhe desagrada? Pela quinta vez, num espaço de quatro anos? Terá que reconhecer que parece haver algo de inexoravelmente masoquista nessa sua insistente peregrinação pela terra de um "parente malquisto, invejoso e mal educado".

Ainda pensei que pudesse ser a Fé em Nossa Senhora de Fátima o motivo sentimental dessa rotina, como sabe comum a muitos cidadãos brasileiros, mas o final do seu texto, ao referir-se à "herança maldita católica", afasta tal hipótese e remete-o para outras eventuais devoções alternativas.

Gostava que soubesse que reconheço e aceito, em absoluto, o seupleníssimo direito de pensar tão mal de nós, de rejeitar a "herança maldita portuguesa" (na qual, por acaso, se inscreve a Língua que utiliza). Com isso, pode crer, ajuda muito um país, que aliás concede ser "bonito por fora" (valha-nos isso!), a ter a oportunidade de olhar severamente para dentro de si próprio, através da arguta perspectiva crítica de um visitante crónico, quiçá relutante. E porque razão lhe reconheço esse direito? Porque, de forma egoísta, eu também quero usufruir da possibilidade de viajar, cada vez mais, pelo maravilhoso país que é o Brasil, de admirar esta terra, as suas gentes, na sua diversidade e na riqueza da sua cultura (de múltiplas origens, eu sei). Só que, ao contrário de si, eu tenho a sorte de gostar de andar por onde ando e você tem o lamentável azar de se passear com insistência (vá-se lá saber porquê!), pela triste terra dessa "gente que descobriu e colonizou o Brasil". Em má hora, claro! Da próxima vez que se deslocar a Portugal (porque já vi que é um vício de que não se liberta) espero que possa usufruir de um tempo melhor, sem chuvas e sem um "dilúvio" como o que agora tanto o afectou. E, se acaso se constipou ou engripou com o clima, uma coisa quero desejar-lhe, com a maior sinceridade: cure-se ! Com a retribuída cordialidade do Francisco Seixas da Costa, Embaixador de Portugal no Brasil."

Polibio Braga publicou a seguinte nota em http://www.polibiobraga.com.br/

"Há apenas uma semana, em apenas quatro anos, o editor desta página visitou pela quinta vez Lisboa, arrependendo-se pela quarta vez de ter feito isto. Portugal não merece ser visitada e os portugueses não merecem nosso reconhecimento. É como visitar a casa de um parente malquisto, invejoso e mal educado. Na sexta e no sábado, dias 24 e 25, Portugal submergiu diante de um dilúvio e mais uma vez mostrou suas mazelas. O País real ficou diante de todos. Portugal é bonito por fora e podre por dentro. O dinheiro que a União Européia alcançou generosamente para que os portugueses saíssem do buraco e alcançassem seus sócios, foi desperdiçado em obras desnecessárias ou suntuosas. Hoje, existe obra demais e dinheiro de menos. O pior de tudo é que foi essa gente que descobriu e colonizou o Brasil. É impossível saber se o pior para os brasileiros foi a herança maldita portuguesa ou a herança maldita católica. Talvez as duas"

Tive acesso a tudo isto, através de um amigo português.


Comments:
Seria interessante saber como reagiu o jornalista à carta do nosso embaixador. Seixas da Costa é efectivamente um Diplomata, e um bom ouvidor.
 
um belíssimo observador da realidade que é o rectângulo!
 
Abençoada 'Luva Branca'!
 
Como se o que diz o Brasileiro não fosse o que o Português pensa de si e dos seus... Além de "Bonito por fora, podre por dentro", ainda sem coragem para assumir a apagada e vil tristeza
 
Nasci no Brasil e lá vivi metade da minha vida. A outra metade foi vivida cá em Portugal. Por isso perturba-me profundamente assistir a momentos de desarmonia, contrariando o discurso de “países irmãos” que, ao longo dos anos, ouvi e senti de igual forma em ambos os lados do oceano atlântico.

Tal como acontece em qualquer relação entre irmãos, as relações sociais entre brasileiros e portugueses por vezes crispam nos momentos de discórdia, não por causa das diferenças, mas pelas semelhanças culturais. Afinal, o que importa se alguém nascido no “Longistão” critique negativamente o nosso país? Por outro lado, quando um irmão fala mal do outro, a razão desvanece e a emoção desponta.

Não se pode agradar a todos, mas Portugal anda muito perto disto. Quer sejam brasileiros ou não, quem conhece este pequeno paraíso fica sempre bem impressionado, embora muitos portugueses tenham alguma dificuldade em reconhecer as próprias qualidades. Não conheço as estatísticas, mas baseando-me pela minha própria experiência através dos depoimentos de brasileiros (e não só) que visitaram Portugal, confiro a quase unanimidade de opinião de quão magníficas são as terras, as pessoas e as coisas. Um sentimento genuíno, e que muito me agrada ouvir, pois já não pertenço a uma única pátria.

Com a minha vida dividida entre Portugal e Brasil, não consigo identificar o que realmente nos separa. Por isso, é com indignação que verifico haver pessoas, como o tal senhor de nome Polibio Braga, auto-intitulado “jornalista”, tenha espaço nos meios de comunicação para expressar opiniões de forma tão superficial e inconsequente, o que não condiz em absoluto com as atribuições de um jornalismo, digamos, sério.

As suas divagações antropológicas sobre Portugal e o colonialismo estão mais próximas dos delírios de um fascista embriagado com a própria glória de reconstruir o mundo segundo os seus ideais de desenvolvimento e prosperidade económica.

Sobre as suas experiências em terras lusas, fica a frágil e pálida noção de um descritivo medíocre e inocente, como se tratasse de um diário de férias de uma adolescente com vontade de perder a virgindade.

Claro que ao fim de alguns dias de turismo pode haver um momento menos agradável, um tratamento menos digno, um aspecto menos espectável. Mas não se julga o "todo" por uma "parte", pois não há neste planeta um país que esteja isento de imperfeições. Mas o Polibio não explica, insinua. O Polibio não fundamenta, prescinde. O Polibio não conhece, imagina. O Polibio não sabe, finge.

E já que não estou a exercer a função de jornalista, posso muito bem seguir o seu estilo destrutivo e negligente para dizer, por exemplo, que o pobre Políbio deve ser um desgraçado. Deve ter adquirido raiva do mundo ao sofrer anos de chacota na infância e juventude, com a herança, não portuguesa, mas sim grega, dos seus pais que ao nascer lhe atribuíram o nome do famoso historiador peloponeso também conhecido como Polibius.

Isto dá o que pensar… Quantas pessoas já ouviram falar do grego Polibio? Penso que não muitas, embora possa estar enganado, e haver inclusive muita gente com bons conhecimentos de história. Mas certamente não corro o risco de estar enganado quando digo que, antes desta polémica, poucas pessoas conheciam o brasileiro Políbio, quer no Brasil quer em Portugal. Por isso anexo mais uma qualidade ao senhor Polibio, o de saber chamar a atenção sobre si mesmo. Será, afinal, que é esse o seu objectivo?

Por isso vos peço, coloquem o Polibio “Historiador” no pedestal dos nobres, e o Polibio “Jornalista” na vala dos medíocres.

Paulo Torck
Lisboa
 
VÁRIAS PERGUNTAS E ALGUMAS RESPOSTAS A
(um tal) POLÍBIO BRAGA

autor: Tempero Correia

Ai Políbio, Políbio, porque és tão esdrúxulo?
Se o teu apelido é Braga, Políbio,
Porquê seres anti-luso?
Não serás antes… Pró-líbio?
Ou dar-se-á mesmo o caso
De seres apenas obtuso?

Políbio:
Porque falas assim de Portugal?
Digo: assim tão mal?
(Tão mal porque não dizes bem,
Tão mal porque escreves mal.)

Políbio:
Será que umas gotas, Políbio,
Umas simples gotas de água no Chiado
Afectam assim tanto essas meninges?
Ou será que finges?

Diz,
Não estejas acanhado!
Ou será que finges
Que nasceste com meninges?

O tanas?
Ó Políbio… isso diz-se!?
Será que essas membranas
Só contêm areia do deserto,
(Da Líbia, por certo)
Políbio?
(Ou será ele Pró-líbio?)

Ó Políbio, vai-te…
Entrei agora no teu “site”
Para tentar perceber
Se por acaso existes
E, se assim for,
Porque é que insistes.

Há uma secção chamada
O “políbio indica”
E por cima desta dica
O sobredito Políbio
Com uma mão na queixada.

(Aqui para nós, Políbio,
É por lá que ora começo,
Por esse tal endereço
Do “políbio indica”.)

E o que me fica, Políbio, o que é que me fica?

Parece que emigraste para galáxias distantes!
Fui ver o que o “políbio indica”
E eis que sugestão tão fina:
Um livro requentado sobre a China
E onze restaurantes.

Mas é só isto o que o “políbio indica”?

Não é, não, senhor!
Não é, não, senhor…!!
Isto é o que o Políbio “indicava”.
Era com isto que o Políbio
Apelava
À mente e à pança
Quando, de uma penada,
Puxando da sua lança,
Se dava ao grande labor
De não nos indicar nada.

(“Se dava”, escutai-me bem,
porque a cena é já passada.)

Com efeito,
(que maçada!...)
Políbio perdeu-lhe o jeito:
Escafederam-se-lhe os planos
E, no “políbio indica”,
Já não indica mesmo nada
Vai quase para três anos!

E com tal falta de jeito,
Com um “coco” tão venal,
Vem Políbio a Portugal
E desanca tudo a eito:
Bate em todos os parentes,
Na obra que existe a mais,
Em heranças que são jacentes,
Nas chuvas torrenciais…

Ó Políbio, Políbio,
Porque és assim anti-luso?
Não serás antes… Pró-líbio?
E não se dará o caso
De seres apenas obtuso?

Ainda assim, caro Políbio,
(e não franzas o nariz!...)
Apesar do que escreveste,
Da tua falta de chá,
Da tua falta de jeito,
Dou-me por muito feliz,
Estou bastante satisfeito.
E sabes porquê, Políbio?
Porque te não levo a peito
E não estou contrariado?

Escuta lá,
Políbio, ouve bem e ouve tudo:

Portugal não te quer cá,
Não te quer cá nem pintado;
E tu, POLÍBIO, ficas aí quedo e mudo,
Com uma mão sob o queixo
(que desleixo!)
E a ver BRAGA só por um canudo!


(TC)
 
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