2007-01-10
É o Corporativismo, stupid
Uma: é que no privado não há "baldas" e aos bons ordenados têm de responder altas performances, muita atenção e muito trabalho. Nestas circunstâncias terá o médico ainda 35 horas semanais disponíveis para o SNS? E se o tempo escacear não tem tendência a fazer menos horas ou a chegar ao hospital do SNS à hora que a sua principal fonte de remuneração permitir? E não havendo control (a não ser o velho livro de ponto que se assina quando se quiser ou a vigilância, quando não a cumplicidade, do colega director de serviço do SNS) como garantir que o director de serviço da clínica privada cumpra rigorosamente o seu contrato com o SNS?
Outra: preocupado e concentrado nas suas responsabilidades privadas que disponibilidade ainda terá para tratar com tempo, atenção e cuidado os doentes que o esperam (frequentemente várias horas) no hospital público?
Como reagiam os participantes no programa?
Da parte que ouvi, da forma mais previsível. Os utentes achavam bem. Os médicos achavam mal. Os representantes dos partidos, o costume. Aproveitaram para apoiar ou atacar o Governo querendo saber pouco ou nada do objecto da pergunta.
E o bastonário da ordem dos médicos, Pedro Nunes? Discorda totalmente da medida. E como até a considera ilegal "recomendou aos médicos que não informem o SNS do que fazem cá fora". E, é claro, está contra o controlo do tempo de trabalho dos médicos nos hospitais públicos porque os médicos sendo pessoas de total entrega à sua missão trabalham no SNS - diz ele - muito mais que as 35 ou 42 horas contratualizadas e além disso são pessoas sérias, acima de toda a suspeita.
Com alguma perplexidade concluí: todos os trabalhadores deste país, do mais modesto operário ao mais categorizado especialista, que têm de cumprir horários, fixos ou flexíveis, têm estado a ser publicamente enxovalhados. Que país!