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2007-02-12

 

Após decisão dos Portugueses


A vitória do SIM no referendo é uma vitória histórica. Mas devemos dizê-lo baixinho para que não se oiça por essa Europa que fez a Reforma, beneficiou do iluminismo, não teve a Inquisição, e vai meio século à nossa frente em muitos aspectos de ordem cultural. Para que não olhem para nós com espanto e paternalismo.

Dei uma volta pelos blogs do NÃO. E sem surpresa concluo que é necessária determinação para não permitir que os nossos irmãos, herdeiros da contra-reforma, de Torquemada, do Santo Ofício, com a sua irreprimível, tradicional e muito moralizadora pulsão autoritária sabotem a concretização rápida de uma política de saúde pública e liberdade que diminua o aborto clandestino e esclareça e ajude quem em definitivo queira abortar nas condições legais.

Lendo os blogs do NÃO, hoje, no day after, e olhando para o mapa do referendo tenho dificuldade em aceitar que as luzes, a defesa da Vida, os esclarecidos que nos iluminam o caminho, estejam predominantemente ali, nas zonas mais interiores, onde a precaridade é maior, onde predominam os idosos e vivem os mais submetidos ao pároco de aldeia que nos ameaça excomungar.

A crer nos iluminados dos blog do NÃO, as mulheres portuguesas, a quem o referendo reconheceu o fim de algumas grilhetas, vão, sem o cinto de castidade da Código Penal, transformar-se em devassas, pecadoras, ameaça de "mães de Bragança". Vão para aí, engravidar a torto e a direito e a fazer abortos por gosto ou por dá cá aquela palha.

O que me custa a entender é como pessoas tão empenhadas na VIDA, no bem das crianças, queiram impor com o medo da repressão e a força das suas convicções o nascimento de filhos a mulheres que não partilham os seus dogmas, não os desejam e, segundo a sua convicção, não teriam nenhumas condições para os criar com amor e dignidade.

Com ponderação, razoabilidade mas com determinação trabalhemos para que o mundo avançe. Depois, no tempo dos nossos bisnetos, quando as metas de civilização forem outras, os herdeiros dos NÃO de hoje pedirão desculpa pelas suas teimas de agora. Mas... para tentarem impôr as suas teimas de então.

Link para um paradigmático fundamentalista do NÃO a que cheguei vindo daqui.


Comments:
Embora aceitando a justeza do assunto, mas que é afinal um problema de consciência das mulheres, não seria altura de se pensar em tantos outros problemas nacionais (de quem por cá luta para sobreviver, e bem sabemos como só no sector da saúde os problemas são graves...) e não em manobras de diversão?
 
Segundo os dados da própria Comissão Europeia (CE) recentemente publicados “a parcela de riqueza que é destinada aos salários é actualmente a mais baixa desde, pelo menos, 1960 (o primeiro ano com dados conhecidos). Em contrapartida, a riqueza que se traduz em lucros, que remuneram os detentores do capital, é cada vez mais alta.”


É esta a Europa “civilizada e respeitadora dos direitos humanos”, com a grande maioria dos seus cidadãos, os trabalhadores dos seus países, a usufruir cada vez menos da riqueza produzida, a que nos associámos agora na prática do aborto livre.


Temos assistido nos últimos tempos quanto reclamam “os detentores do capital”, (para usar a terminologia da CE), da duração das licenças de parto que consideram exagerada (tendo por princípio que qualquer tempo para a classe empresarial será sempre excessivo). Receber salário sem trabalhar é coisa que vai contra os seus princípios.


Quantos empresários não colocam como aceitação de emprego, que as mulheres se comprometam a não engravidarem? A prática do aborto é assim muito desejável pela classe empresarial, pela simples razão que em condições iguais, haverá sempre aumento de lucro quando não haja lugar a licenças dos seus trabalhadores.


É este “estado civilizacional avançado” a que chegámos agora, dizem-nos, com a aprovação do aborto livre. E para espanto de alguns, com os partidos de “esquerda”, PCP, BE, e a própria CGTP, na vanguarda desta luta pelo aborto livre.


Por um lado, luta-se e bem pela conservação das pinturas rupestres, expressão elevada da obra humana e dos seus valores, luta-se e bem pela conservação dos ninhos das cegonhas como expressão da vida e dos valores naturais. E todas as forças políticas que encabeçam estas lutas, são aquelas que agora se manifestam contra os valores da vida..


O aborto é de facto uma barbárie que se comete contra um ser indefeso. Uma prática indigna do Homem do século XXI. Parecendo progressista revela em realidade uma atitude retrógrada perante a vida e a sociedade.


Deveria então ser penalizada a mulher por cometer um aborto? Sim, mas como não nos encontramos na idade da pedra, essa penalização poderá e deverá consistir em outros meios de penalização que não as grilhetas nos pés ou as grades de uma prisão, num tribunal específico para estes casos e com penas desde a obrigatoriedade da mulher estar presente em duas consultas de planeamento familiar por ano, até ao cumprimento de trabalho cívico em apoio de mães, doentes e familiares nos serviços de saúde do Estado.


Não restarão muitos anos para que os povos europeus se assumam contra o aborto livre.


www.classepolitica.blogspot.com
 
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