2007-02-23
O Zeca que fica.
Duas décadas atrás, calou-se uma das vozes mais límpidas e genuínas que acompanharam a viragem da época estadonovista para a da democracia.
O dr. José Afonso, -- canoro do fado de Coimbra, com muita saudade, Mondego, Choupal e tricanas à mistura, -- desembarcou nas lides da oposição antifascista, pela via das baladas que se foram metamorfoseando em canções de intervenção, e deu, primeiro, no José Afonso, entre pombas e vampiros, comprometido para todo o sempre com o menino do bairro negro, tornando-se, depois, no militante, fraternal e popular diminutivo, pleno de cumplicidades: Zeca.
Zeca, foi o nome por que, finalmente, ficou conhecido.
Zeca Afonso.
É difícil recordá-lo sem rememorar o incentivo que nos deu. A beleza e simplicidade das melodias, a autenticidade do canto, e a postura do resistente a todas as opressões.
“(…) Abre uma trincheira
Companheira.
Deita-te no chão.
Sempre à tua frente
Viste gente
De outra condição.”
Agora, depois do Arlindo-coveiro aceder, enfim, ao pedido de, com a sua marreca, o levar primeiro para a cova aberta, ficou este lado insepulto da marca que imprimiu duradouramente, na nossa memória, ânimo e cultura.
O Arlindo não teve coragem para escondê-lo na terra, e nós também não.
José Leal
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