.comment-link {margin-left:.6em;}

2007-03-28

 

Vender Salazar

Não faz sentido lastimar o “reaccionarismo”, a “estupidez” ou a “ignorância” do povo Português a propósito do concurso da RTP.
Salazar em primeiro, com 41,0% dos telefonemas, Álvaro Cunhal em segundo lugar com 19,1%, Luís de Camões, em quinto com 4,0% ou o Infante D. Henrique, em 7º com 2,7 % não traduz a opinião dos Portugueses. Não tem mesmo nenhuma relação com ela. Traduz uma maior mobilização de meios por parte de uma direita que quer branquear o fascismo, se revê em Salazar ou, talvez, como diz Medeiros Ferreira, hoje no DN, “a perder o pé no regime” e comete o erro de se ancorar num “neo-salazarismo.

O fascismo não vem aí. Nem a presença de Portugal na UE permite qualquer veleidade de regime “musculado”.

No entanto, este concurso inseriu-se, à partida ou à posteriori, numa larga e larvar ofensiva de revisão da História recente e de reabilitação do fascismo salazarista.

É obrigação dar a conhecer a realidade do salazarismo. Particularmente por aqueles que conheceram e sofreram a ditadura de 48 anos (48 anos!), a falta de liberdade, a censura, a perda do emprego por razões políticas, o medo, o exílio, a prisão e a tortura sistemática dos presos políticos, o assassinato de opositores incluindo a de um candidato à presidência da República. A fome, o atraso material e cultural, a super-exploração imposta pela repressão dos protestos para o enriquecimento rápido da elite beneficiária e sustentáculo do regime.

“Salazar sucede a Sabrina, José Castelo Branco e Zé Maria. São os quatro nomes que venceram os programas de entretenimento e concursos de “voto popular” na TVI e RTP. Big Brother, Quinta das Celebridades, Festival da Canção e agora Grandes Portugueses.”

Se a “vitória” de Salazar no concurso canal público da televisão pode ser ridicularizado assim, com imaginação, pelo Algarve Global, quem preza a verdade e ama a liberdade não deve substimar a campanha “neo-salazarista”. Deve responder, sem tabus, com os factos que caracterizaram o fascismo português. Com seriedade e inteligência e não com manifestações inadequadas, como a de Santa Comba-Dão, que teve o ” mérito” de unir grande parte da população local em “defesa do interesse da terra”.


Comments:
Obviamente que o RN não tem qualquer facto para justificar a afirmação da união da "grande parte da população local" de Santa Comba Dão em defesa do alegado Museu.
 
Para quem acha que

este concurso se inseriu "(...) à partida ou à posteriori, numa larga e larvar ofensiva de revisão da História recente e de reabilitação do fascismo salazarista."

o desprezo intelectual por outras sensibilidades que acham melhor prevenir do que remediar, parece-me carecer (agora sim) de sentido.

Não sendo eu um dos que se aflige mais, não quero, pelo meu lado fazer sombra aos que, desde o início desta operação de normalização do salazarismo, percebendo-lhe o alcance, se irritaram a valer.

Afinal, os grandes movimentos começam sempre pelo empenho de minorias de um abnegado activismo.

Quem não percebe as semelhanças terá dificuldade, tempos depois, a divisar as diferenças.
 
Olá Raimundo Narciso,

Ando silenciosa, mas volto sempre cá. E vale sempre a pena. O seu post é excelente na minha opinião. Põe a tónica no fundamental: resultado dum programa televisivo não é o resultado dum escrutínio eleitoral. Está sujeito a outro factores, nomeadamente mobilização de forças que têm uma representação minoritária na população.

No entanto existem, quem não sabe ou sabia? Claro que existem, infelizmente. E estão a deitar o narizinho de fora. Estão até bem revoltadas com a recente vitória do Não à despenalização do aborto. Esse sim sujeito a voto popular.

Segundo elemento importante que refere: informação, educação, memória. Não dar nunca nada por adquirido.

O resto é a nossa habitual tendência para o dramalhão, cabeça quente, emoções ao rubro sem reflectir.É óbvio que 41% dos portugueses não considera de facto Salazar uma grande figura. Sofia:-)
 
Porquê atribuir o resultado apenas a sectores reaccionários da sociedade portuguesa?
Será que não há muita juventude desiludida com esta "democracia", que se vê sem emprego ou igualdade de oportunidades, vendo ao lado outros colegas a singrar porque estão no partido ou têm algum parente ou amigo influente?
 
Não desvalorizo as movimentações fascistas que ocorrem em Portugal. É necessária atenção, vigilância, desmascaramento... Mas também o concurso não é nada de valorizar...
 
Enviar um comentário



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?