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2007-04-14

 

Quando os canudos uivam (5)


Os detractores de José Sócrates preparam-se agora para, mercê de uma lateral mas insistente “produção de provas”, cozer o actual Primeiro-Ministro em lume brando. Os partidos da oposição, compreensivelmente, relativizaram o que parecem ser hesitações e atabalhoamentos de um jovem na sua relação com as instituições certificadoras do saber encartado. Marques Mendes foi a excepção imediatamente execrada pelo amplo consenso patriótico pré presidência europeia, que inclui numerosas vozes de dentro do seu próprio partido.

Sabe-se muito mais do que isso, é certo, mas a relevância política do que se sabe é escassa.

Obtemperam alguns que a fulanização das lideranças nos trouxe para este terreno movediço em que são os traços de carácter e as características da personalidade que se tornam mais relevantes para efeitos de mediatização e, consequentemente, para a avaliação dos actores políticos.

Se os líderes são eleitos antes dos congressos, aos quais chegam, depois, com bandas e fanfarras, no culminar de uma campanha fulgurante, a política das ideias cede o lugar à consagração carismática da idolatração, e o debate de ideias é abandonado em favor de uma encenação eufórica.

Ora é esse o terreno onde estamos. Não há carisma sem culto das qualidades do líder. Quando aquelas são menorizadas, este é afectado também.

Não se percebeu ainda muito bem se o efeito de massacre que a táctica da cozedura em lume brando acarreta, será ou não nociva para a carreira política de José Sócrates. Raimundo Narciso e o anónimo Luís Narana travam-se de razões [
aqui perto], acerca do significado dos índices de popularidade, dos graus de conhecimento do que está em questão e do “efeito Felgueiras”.

De um modo ou de outro, o resultado poderá, em breve, trazer-nos ensinamentos actualizados acerca do que nos separa ou aproxima da “porca da política” chamejante na segunda metade do século XIX.

André Freire, comentando ontém no Expresso da Meia Noite (SIC Notícias) o balanço apressado que o Primeiro Ministro fez dos dois anos de governação, (pretexto que encontrou para a conveniente entrevista), chamou a atenção para o maior desinvestimento de sempre no orçamento do Ministério da Ciência e Ensino Superior. Compreende-se mal um tal corte. A qualificação dos portugueses e o reforço da base tecnológica pareciam, anteriormente, constituir um dos trunfos brandidos por José Sócrates.
Nem o 1º Ministro achou apropriado falar disso, nem ocorreu aos jornalistas perguntarem-lhe.

De facto, a trapalhada em torno do canudo e da UnI, acentuando a fulanização da política, não ajuda nada no debate acerca dos rumos que o Governo diz manter.

A política portuguesa continua a ter, como dizia Camilo, bastante da tourada à espanhola.



Comments:
não são os "detractores" do falso engenheiro!
são os cidadãos que não querem burlões no poder...
nem estes, nem as "alternadeiras" disponíveis para abocanhar a presa!!!
 
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