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2007-05-19

 

Para lá do ressentimento (1)













Marc Ferro

Marc Ferro veio à Fundação Gulbenkian (ontem à tarde) dar uma conferência que intitulou “O ressentimento: força obscura e produto da história”. A mão cheia de exemplos que trazia estendem-se por séculos e abarcam episódios dolorosos e sangrentos, na maioria, mas também desfechos pacíficos e mais felizes.

Guerras, sobretudo; intolerâncias, muitas; revoluções bem e mal sucedidas; crueldade e indiferença ao sofrimento dos outros, o nosso mundo esquisofreniza-se e dilacera-se entre a afirmação violenta do poder de uns sobre a humilhação e o aniquilamento de outros.

Porém, no ponto imaginário de conjugação do indivíduo com o colectivo, o ressentimento de cada um, e o ressentimento socializado reforçam-se mutuamente, apresentando virtualidades inesperadas.

É, em geral, recíproco: os humilhados de hoje tendem a ser os humilhadores de amanhã e não há pior humilhado que um vencido que já foi vencedor. Ferro aplica este princípio aos radicais islamistas que se consideram herdeiros de uma cultura árabe que dominou meio mundo.

Mas também permite aos humilhados, aos vencidos, acalentar a esperança de que as coisas mudem e a situação se inverta. Nesse sentido, surge como um expediente para reforçar a identidade, manter vivo e desperto o sentimento de pertença a algo e, simultaneamente, “inscrever” as ofensas e ultrajes, como diria José Gil.

O lugar e o papel do ressentimento na história fornece, pois, um quadro em que as transformações se articulam entre interesses, dominações, racionalismos e as memórias, recentes ou remotas das injustiças, das humilhações e do sofrimento.


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