2007-06-17
Poderes e ouvidores (4)
1. O Governo de José Sócrates enfrenta os desafios da segunda metade do seu mandato, enfraquecido. Tem ainda, é claro, a sustentá-lo, a maioria absoluta do PS, mas a grande operação de redistribuição de recursos materiais e institucionais que começou com a cruzada ideológica contra estatutos e funções públicas (educação, saúde, idade da reforma, congelamento de salários e carreiras, imposição de uma quota de 25% para as melhores avaliações dos funcionários públicos), só se começará a fazer sentir, em pleno, nos próximos meses. Face à razia de direitos, assistências, garantias e confiança dos trabalhadores por conta de outrem, as direitas rejubilaram e, por vezes, coraram.
2. O Governo de José Sócrates ultrapassou todas as expectativas na crueldade, indiferença social e estilo autoritário com que, de cambulhada, desfavoreceu uns, preparando-lhes uma exclusão lenta e dolorosa do mercado de trabalho, e favoreceu outros, facilitando-lhes todo o tipo de operações extra-contratuais. A recusa em negociar, discutir alternativas, conheceu recentemente um andamento farsante (o do acordo com a FESAPE para a Administração Pública), e um episódio burlesco (o do recuo face à localização do NAL*).
4. Pensam muitos que este é apenas mais um ciclo alternante, PS-PSD, em que o PS consegue ir sempre um pouco mais longe nas medidas de austeridade, castigando grupos sociais contra os quais os partidos da direita agem mais moderadamente, até por não poderem contar demasiado com a “compreensão” do PS quando este corre na oposição.
Depois de mais esta prova de zelo aperrado ao défice e aos sacrifícios sem esperança, é compreensível que a voz do dinheiro (Berardo e Cª) rejubile, dê uma mãozinha ao Governo e se saracoteie em público, entre as assembleias gerais do BCP, as OPAs “amigáveis” e as esmolas para os peditórios da CIP encomendados pelo Governo.
Depois das primeiras vaias, segue-se o tempo em que o Governo começa a receber o retorno das suas políticas. Que papel assumirá o PS agora?
(*) NAL: Novo Aeroporto de Lisboa (nota introduzida por sugestão deixada na caixa dos comentários por R. Proença)
...pergunta estranha, pelo menos...
Sugiro-lhe que descodifique o acrónimo "NAL" (no final do seu ponto nº2). Suspeito que se trate do Novo Aeroporto de Lisboa, mas, por misericórdia, facilite a leitura das gentes!
Acha mesmo que os empresários envolvidos no financiamento do estudo estão a dar uma "mãozinha" ao Governo?
O Sr. Correia deve achar a direita pura e dura melhor do que o PS.
Ao que nós chegámos!
Pedro Tudela
vou desenvolver, em próximo poste, a ideia que tenho por detrás da minha pergunta, final e estranha.
Entretanto, muito obrigado pela sugestão relativamente à legibilidade do acrónimo.
É certo que o seu zelo provedor desperta comentários como o do Rui P. Bebiano (a quem agradeço a cumplicidade irónica), e o de José Manuel, cujo apoio agradeço, tb.
Quanto a Pedro Tudela, confesso que, depois de ler o seu comentário, tb passei a descortinar o lado panfletário, não tanto do poste, mas da ilustração.
Deve ser do peso das cartilhas.
Desculpe se o choquei. A intenção era outra.
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