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2007-06-17

 

Poderes e ouvidores (4)

1. O Governo de José Sócrates enfrenta os desafios da segunda metade do seu mandato, enfraquecido. Tem ainda, é claro, a sustentá-lo, a maioria absoluta do PS, mas a grande operação de redistribuição de recursos materiais e institucionais que começou com a cruzada ideológica contra estatutos e funções públicas (educação, saúde, idade da reforma, congelamento de salários e carreiras, imposição de uma quota de 25% para as melhores avaliações dos funcionários públicos), só se começará a fazer sentir, em pleno, nos próximos meses. Face à razia de direitos, assistências, garantias e confiança dos trabalhadores por conta de outrem, as direitas rejubilaram e, por vezes, coraram.

2. O Governo de José Sócrates ultrapassou todas as expectativas na crueldade, indiferença social e estilo autoritário com que, de cambulhada, desfavoreceu uns, preparando-lhes uma exclusão lenta e dolorosa do mercado de trabalho, e favoreceu outros, facilitando-lhes todo o tipo de operações extra-contratuais. A recusa em negociar, discutir alternativas, conheceu recentemente um andamento farsante (o do acordo com a FESAPE para a Administração Pública), e um episódio burlesco (o do recuo face à localização do NAL*).

3. De acordo com uma sondagem CM/Aximage, 42 por cento dos eleitores que votaram no PS nas últimas legislativas considera que o Executivo socialista está a governar “pior do que esperava”, enquanto apenas 18,1 diz que superou as suas expectativas e 35,2 afirma que está “igual ao que esperava”. O eleitorado do PS acompanha assim a desilusão geral, já que 49,3 por cento dos inquiridos se afirmou insatisfeito com a governação socialista. Apenas 13,8 por cento considerou que o Governo está a governar “melhor do que esperava”.

4. Pensam muitos que este é apenas mais um ciclo alternante, PS-PSD, em que o PS consegue ir sempre um pouco mais longe nas medidas de austeridade, castigando grupos sociais contra os quais os partidos da direita agem mais moderadamente, até por não poderem contar demasiado com a “compreensão” do PS quando este corre na oposição.

Depois de mais esta prova de zelo aperrado ao défice e aos sacrifícios sem esperança, é compreensível que a voz do dinheiro (Berardo e Cª) rejubile, dê uma mãozinha ao Governo e se saracoteie em público, entre as assembleias gerais do BCP, as OPAs “amigáveis” e as esmolas para os peditórios da CIP encomendados pelo Governo.

Depois das primeiras vaias, segue-se o tempo em que o Governo começa a receber o retorno das suas políticas. Que papel assumirá o PS agora?

(*) NAL: Novo Aeroporto de Lisboa (nota introduzida por sugestão deixada na caixa dos comentários por R. Proença)



Comments:
Não entendo muito bem a sua pergunta final. Está a perguntar ao PS o que vai fazer ao Governo do PS, chefiado pelo seu chefe máximo?

...pergunta estranha, pelo menos...

Sugiro-lhe que descodifique o acrónimo "NAL" (no final do seu ponto nº2). Suspeito que se trate do Novo Aeroporto de Lisboa, mas, por misericórdia, facilite a leitura das gentes!

Acha mesmo que os empresários envolvidos no financiamento do estudo estão a dar uma "mãozinha" ao Governo?
 
Oh Manel facilite lá a vida ao amigo Proença que está completamente a leste de siglas e já agora descodifique também FESAPE, BCP, OPA e CIP. E já agora PS, penso que quererá dizer Partido Socialista...
 
Isto é mais um panfleto do que uma posta.
O Sr. Correia deve achar a direita pura e dura melhor do que o PS.
Ao que nós chegámos!

Pedro Tudela
 
Bom post. O unico neste blog que consegue acertar em cheio no fundo das questões.
 
R. Proença,
vou desenvolver, em próximo poste, a ideia que tenho por detrás da minha pergunta, final e estranha.
Entretanto, muito obrigado pela sugestão relativamente à legibilidade do acrónimo.
É certo que o seu zelo provedor desperta comentários como o do Rui P. Bebiano (a quem agradeço a cumplicidade irónica), e o de José Manuel, cujo apoio agradeço, tb.
Quanto a Pedro Tudela, confesso que, depois de ler o seu comentário, tb passei a descortinar o lado panfletário, não tanto do poste, mas da ilustração.
Deve ser do peso das cartilhas.
Desculpe se o choquei. A intenção era outra.
 
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