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2007-07-26

 

Dopping


Não sou um especialista em ética desportiva.
Fui desportista de competição de um desporto amador (porque não se ganhava dinheiro) entre os meus 14 e 27 anos. Durante a minha carreira participei em provas nacionais em internacionais. A nível nacional consegui muito bons resultados (mais de uma dezena de títulos) e a nível internacional não passei da competição de clubes não fazendo parte da selecção nacional porque trabalhava e estudava desde os 18 anos.
Treinava entre 7 e 10 vezes por semana em sessões de hora e meia a duas horas.

A intensidade da vivência competitiva era enorme. Durante o dia todo só pensava em treinar e ganhar. Com tal ocupação de tempo, sempre que tinha de escolher entre actividades a 1ª prioridade era sempre para a prática desportiva (embora tenha optado por não fazer parte da selecção porque na altura tinha mesmo de trabalhar).

O sucesso era inebriante. Sempre que ganhava sentia-me o maior do mundo. Sempre que ficava
em 2º ou depois sentia-me deprimido e treinava ainda mais para conseguir vencer.

O treino e a competição não eram em si agradáveis. Ao atingir os limites sofre-se muito fisicamente.

Nunca se colocou a questão de tomar qualquer substância passível de me fazer aumentar o rendimento.

Visto à distância de 15 anos penso que na altura seria capaz de o fazer. Se isso me permitisse participar e ganhar uns Jogos Olímpicos faria-o sem quaisquer dúvidas, mesmo sabendo que poderia ter problemas graves de saúde. Faria-o porque "todos sabem" que a generalidade dos atletas de top o fazem, embora todos nos enganemos a pensar que não. E por isso nunca seria possível ganhar sem me comportar da mesma forma.

Agora, com 42 anos (e problemas de saúde derivados da prática desportiva), não o faria e acredito que a competição deve ser vivida sem substâncias adicionais.

Quero com esta conversa tentar explicar que, se eu, praticante amador sem quaisquer pressões externas era capaz de o fazer, imagino o que pensa uma pessoa que sofre uma imensa pressão, que passa uma enorme fatia do seu tempo de vida entre os 13 e os 35 anos em cima de uma bicicleta e que a sua subsistência e de uma enorme máquina montada à sua volta depende dos resultados que conseguem obter.

Não seria melhor atacar as razões em vez da prática do consumo ?
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