2007-07-30
O choque de civilizações e a segurança em risco (2)
1) A "nossa" religião nada deve à deles. Há apenas uma décalage no tempo. Até ao século XIV/XV eles eram a civilização e nós a barbárie cristã. Depois acelerámos. Andámos a par por todo o século XVI e XVII. A seguir com o que aprendemos nomeadamente deles e do que nos transmitiam da Grécia antiga, do Oriente, da Índia, fizémos várias revoluções. No domínio da economia, da tecnologia, religiosas, políticas. Tivemos a Renascensa, a revolução globalizadora dos descobrimentos, a "revolução" protestante que deixou a cristandade do Sul da Europa com os papas no retrógrado catolicismo, a revolução industrial, a revolução francesa, a revolução americana, a revolução russa.
2) A mistura e coexistência no tempo de mentalidades que vão do século XI ao século XXI, em países onde largas camadas da população estão dominadas e embrutecidas pela religião que as torna presas fáceis de diferentes poderes, económicos, políticos ou religiosos, tornou-se um perigo para a humanidade porque alguns desses países dominam não apenas a pólvora e os "trons" do século XIV mas as armas químicas, biológicas e nucleares e os mísseis que as transportam.
O perigo não está só nas ditaduras fundamentalistas muçulmanas. Também está, ainda que de forma apenas larvar e mais ou menos controlada, na mais vanguardista democracia do mundo, os EUA, onde os Republicanos para eleger Bush tiveram de pactuar e dividir poder (desde a Casa Branca, ao Congresso, e ao Supremo Tribunal de Justiça) com os evangélicos criacionistas, uma réplica engravatada e "pós-moderna" dos taliban.
3) Devemos então, porque se trata de desfasamentos no tempo, substimar o perigo das armas nucleares do Paquistão (berço dos taliban que crescem, infiltram forças armadas e serviços secretos e dominam regiões inteiras como o Waziristão fronteiriço do Afeganistão) e das que se preparam no Irão?
Acho que se deve intervir. Mas com inteligência. Favorecendo as forças democráticas ou democratizantes internas, com apoios e sanções para os fins em vista. Eventualmente, in extremis, com intervenção militar. Não à Iraque (que aliás nada teve a ver com o terrorismo). Mostrando intenções sérias, ajudando a resolver o conflito Israel - Palestina, garantindo o reconhecimento e a segurança do primeiro e a independência e o apoio económico ao segundo. Intervir mas com a ONU, com o direito internacional, com a Europa e os EUA, mas não sob a direcção de Al Capone e a bandeira da rapina.
Mas será isso possível? Estará o Homem tão avançado assim nas nossas queridas democracias? O Direito e a Moral dos Estados não é, como tem historicamente sido, o interesse de Estado (isto é o interesse de quem o contrala e usufrui) ?
É urgente dar mais força e protagonismo à Europa. Mas sem os EUA nada se fará nos tempos mais próximos. Vamos a ver se os Democráticos, se ganharem em 2009, desbloqueiam a situação e guiam a América e o mundo por melhores trilhos.
Espero que esse grande arauto da cristandade que dá pelo nome de João César das Neves não te esteja a ouvir. Senão ainda vais para o inferno com essas modernices todas.
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