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2007-08-10

 

Força de expressão (11)

Vítor Dias reage ao poste em que comentei aquilo a que chamei uma “traquinice intelectual compulsiva”, publicando, a seu turno, no blogue "O tempo das cerejas", o poste intitulado "Resposta necessária a Manuel Correia". O texto do meu poste anterior, a que Vítor Dias se refere, foi editado umas horas antes e chama-se “Força de expressão (10)].

Tem Vítor Dias razão quanto à forma. Os efeitos retóricos que costumo utilizar no terçar de argumentos com quem se chega à conversa, podem tornar-se exagerados e até ofensivos para quem, como nós, não conversa vai para cerca de 20 anos.

Resta-me, quanto a este aspecto, pedir-lhe desculpa e lamentar os meus descuidos efervescentes.

Quanto ao fundo, aproveito para um salutar ajuste de contas:

    *)Também guardo boas recordações do tempo em que trabalhámos juntos. No entanto,

    **) lendo com atenção o livro do Raimundo Narciso, percebe-se que o “Gabinete de Crise” não deve ser equiparado àquilo que ficou conhecido por movimento da “3ª via”, designação que na altura pareceu jocosa e soprada por outros grupos de membros do PCP, em diferentes estádios de dissidência, mas que, devido ao deslize social-democrata de boa parte dos seus membros mais destacados, os deixou, a pouco e pouco, de incomodar. As conotações com as propostas de Tony Blair, sustentadas na teorização de Anthony Giddens, entre outros, não eram rigorosas nem justas, na altura. Agora, ao aceitarem com naturalidade a designação, os camaradas da “3ª via” operaram aquilo a que poderíamos chamar uma refundação histórica retrospectiva, que não deixa de ter a sua piada e de merecer reparo.

    Todavia, a páginas 26 do livro “Álvaro Cunhal e a dissidência da terceira via”, pode ler-se:

Gabinete de Crise foi a expressão que num momento de inspiração um dos membros da segurança da sede do comité central se lembrou de aplicar ao grupinho que diariamente se juntava na sala de convívio da Soeiro Pereira Gomes, depois de almoço, com cara de caso e conversa solta a discutir o futuro do PCP.”

Compreende-se, pois, que “Gabinete de Crise” e movimento organizado da “3ª via” têm consubstanciações diferentes, sendo, o 1º, resultado da observação exterior dos “camaradas da segurança”, que assim o baptizaram devido à alteração etnográfica que se verificou por esse tempo na zona de convívio da Soeiro Pereira Gomes, traduzida em mais conversas, maior animação e num particular equilíbrio entre a vivacidade e a contenção, enquanto o 2º era a expressão organizada, “fraccionista”, que incluía uns e não outros.

***) O repúdio inicial de Vítor Dias relativamente à possível contaminação pareceu-me despropositado. Disse para comigo, no entanto, que assiste a cada um o direito de ficar para os retratos da história da maneira que achar melhor. E como a política se faz com isso tudo, a certidão de não membro da “3ª via” que parecia estar a exigir, não viria exclusivamente dele, cuja sagacidade interpretativa é bem conhecida, mas, muito provavelmente, por antever a possibilidade de leituras mais apressadas e simplificadoras.

****) Agora, com o seu poste acerca da autoridade moral supostamente perdida por Raimundo Narciso, que demorou 21 dias a dizer de viva voz a Maria Flor Pedroso o que a leitura do livro permite concluir sem outras delongas, tocou-me.

Porquê?

Porque ressalva retoricamente as distâncias entre Zita Seabra e Raimundo Narciso, para os fazer equivaler, de facto, em matéria de honorabilidade. A sugestão final de se “amanharem” um com o outro (ZS e RN) revela a vacuidade das pretensas distinções iniciais. Vítor Dias dá um sinal de que a factualidade, a consistência histórica e documental, os enfoques e as matérias se subsumem nas condutas dos respectivos autores que disputam agora a veracidade de um episódio em que ZS põe RN a invadir-lhe a casa a mando da direcção do PCP.

Porque se trata de obras publicadas, mais do que dos autores e seus tiques, e da importância relativa dos respectivos textos, -- não de um julgamento sumário dos comportamentos, cujas ressonâncias persecutórias ainda me impressionam -- decidi vir a terreno. Pareceu-me que, uma vez mais, se estava a tentar lançar no caneiro o menino com a água do banho.

Não fui muito feliz da 1ª vez.

Espero ter deixado tudo mais claro, desta.




Comments:
"Não fui muito feliz da 1ª vez."
"Espero ter deixado tudo mais claro, desta."

Aprovado,
aprovado.
Quanto a concordar, nem a falta de elementos de informação nem a "disposição" o permitem...
 
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