2007-09-28
Peripatéticos (5)
As pugnas Mendes - Menezes, que apressadamente depreciamos, acusando um deles, ou ambos, de não terem ideias para o país, de se digladiarem com questões secundárias, processuais e internas, e de darem uma má imagem não só do PSD mas do próprio sistema político, põem em relevo, no entanto, alguns traços ainda imperantes na nossa cultura. Nesse aspecto, deveríamos agradecer a estes dois dirigentes do PSD a oportunidade e o exemplo.
Olhando para as directas do PS, Mendes, após o recente desaire (eleições intercalares para a Câmara de Lisboa), viu na sua eventual reeleição uma oportunidade para refrescar a sua legitimidade. Feito o anúncio de que o Presidente do PSD ia a votos, Rio afastou o cálice com um trejeito do lábio inferior; Marcello reafirmou o consenso do baronato, sublinhando que o contrato a prazo de Mendes ainda não tinha expirado; Meneses hesitou, apalpou o terreno e, finalmente, fez-se à estrada.
Mendes segue a cartilha de Sócrates:
a) Falar para "fora", isto é, se queres mudar alguma coisa no partido, passa mais pela tardinha. Agora não. Estamos muito ocupados com a candidatura a 1º ministro.
c) Porque dá o dito por não dito em muitas matérias (neste teste acho que ninguém se safava...).
Pronto a introdução está feita.
Agora olhem à volta. Passem em revista os estilos de debates, discussões e confronto de ideias em curso nos clubes desportivos, universidades, cooperativas, media, blogosfera (inclusivé entre confrades do mesmo blog), e digam-me quantos e quais os debatentes que se eximiram a um argumento ad homine, a uma deturpação da argumentação oponente, a uma fuga temática, um processo de intenção, uma bravata megafónica?
O que Mendes está a fazer a Menezes é o que quem está no poder costuma fazer quando é defrontado. Ridiculariza o concorrente e desvaloriza tudo o que ele diz e faz.
Em matéria de métodos democráticos, participação dos militantes, filiação e desfiliação, assinatura de declarações de fidelidade, privilégios, remunerações, angariação de dinheiros e gestão do património, poucos se poderão isentar.
Há certas questões internas que a generalidade dos partidos não gosta de discutir em voz alta. "Os sítios certos" não são um exclusivo do "centralismo democrático".
Neste particular, o PSD não é excepção.
Ao contrário do que alguns puristas tentam fazer passar, a discussão sobre essas matérias é oportuna, necessária e inadiável.
A permanência de rituais oitocentistas, participação passiva, negação de autonomia crítica, e falta de transparência, tem contribuido bastante para deslustrar a condição de militante ou membro de partido político.
Porém, nem Menezes nem Mendes, parecem preocupados com isto.
Para além de outros equívocos, Mendes deveria enxergar-se e perceber que não é Sócrates; Menezes descobrir que não é nem Manuel Alegre nem João Soares; e ambos, confessarem que não estão, de facto, interessados em discutir em profundidade seja o que for.
Querem apenas ganhar, a todo o custo.
Assim, ganhe um ou outro, pouco monta.
O PSD continuará na mesma e... o sistema partidário também.
Quanto à substância: quererá dizer que o PSD, no que toca aos problemas internos é igual a todos os outros partidos?
Parece-me excessivo...
Numa coisa estou de acordo: no PSD, não deviam orgulhar-se com as directas, se o que têm a oferecer são recriminações. Mais valia, então, elegerem o líder em congresso, de braço no ar.
José Braz
Que clareza, e prosa enxuta! Assim
mesmo é que é ,tire e conclua quem quiser!
A si o meu chapéu !
Cordialmente
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