.comment-link {margin-left:.6em;}

2007-10-20

 

Para a frente e para a rectaguarda (5)

Mota Amaral, um dos vice-presidentes de Luís Filipe Menezes, vem fazer a prova de que a unidade de pontos de vista relativamente a questões políticas fundamentais não é condição para se ser membro do PSD, nem sequer dos seus órgãos dirigentes. No oposto de Menezes, que ergueu no último congresso a bandeira de uma nova constituição, numa perspectiva refundacional, Mota Amaral exprimiu-se recentemente, sem ambiguidade, do seguinte modo:

"Auguro à Constituição de Abril, ao atingir a sua maturidade de 30 anos e na dinâmica da sua evolução, um longo futuro, servindo bem Portugal",

adiantando uma precisão conceptual:

"Queixam-se por vezes os governantes que a Constituição não lhes permite fazer tudo o que pretendem. Mas é também para isso mesmo que ela existe, e ainda bem"

O DN de hoje recorda passos da intervenção do ex-Presidente da Assembleia da República, aquando da comemoração do 32º aniversário da Revolução dos Cravos. Pedro Correia e Suzete Francisco destacam as diferentes posturas dos dirigentes do PSD em peça intitulada "Mota Amaral defende texto constitucional".
Um bom exemplo do que o jornalismo pode e deve fazer em apoio de uma análise política mais substancial. Se todos os órgãos de informação o fizessem, ainda que apenas de quando em quando, o espaço de manobra da demagogia, do populismo e do incumprimento de promessas eleitorais, seria muito menor do que é.
Partido grande com vários partidos mais pequenos dentro, o PSD de Menezes não é diferente do PSD de Marques Mendes. É uma multiplicidade que não quer abandonar o frentismo de direita nem assumir as diferenças radicais que o atravessam.
Os que viraram as costas à aclamação de Luis Filipe Menezes, fazem contas. Com Sócrates a satisfazer as grandes ambições do centro-direita, que resta ao PSD? Ir ainda mais para a direita. Espalhar-se com a guerrilha prometida, fábrica a fábrica, hospital a hospital, cimenteira a cimenteira. Depois do desgaste maximalista, os barões agora alheados, regressarão às lides.
A razoabilidade cederá então o passo ao frenesi radical. E os interesses do bloco central poderão continuar a ser protegidos, com maior estabilidade, serenidade e comedimento. Com ou sem José Sócrates.
Será então a vez do PS se enxergar e dar conta de quantos pequenos partidos o seu grande partido estava a federar. Será tempo, igualmente, para aqueles que sempre afirmaram não se terem desviado um milímetro das suas posições de sempre, repararem que, de repente, ali à mão, esse outro grande partido que se dá pelo nome de PSD, voltou a estar em consonância com o que pensam e sentem.
Entretanto, os que são por uma nova constituição, completamente liberta das marcas ideológicas de abril, podem conviver nos mesmos órgãos de direcção que aqueles que sustentam exactamente o oposto.
A questão ideológica tornou-se irrelevante.
Não podendo prometer nada de muito diferente do que faz o actual governo, o PSD visa um único objectivo, claro, simples e transparente: o regresso ao poder, a todo o custo, urgentemente.
Os barões que viraram as costas a Mendes e a Menezes, sabem que poderão, na altura própria, "devolver a credibilidade" ao PSD. Apenas quando Sócrates tiver completado o seu ciclo. Terá chegado, então, a altura de virarem as costas a José Sócrates.

Comments: Enviar um comentário



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?