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2007-11-19

 

Corrupção moral

Durão Barroso apareceu no telejornal. Interrogado sobre o papel que desempenhou como anfitrião na cimeira dos Açores em que apoiou Bush, Blair e Aznar na decisão de invadirem o Iraque disse que foi enganado. «As informações [que lhe deram] sobre a existência de armas de destruição maciça no Iraque não correspondiam à verdade». Mas acrescentou de imediato, talvez com a mesma convicção com que "acreditou" nas informações (que até eu, aqui no Puxa Palavra, sabia serem falsas como Judas) que «do ponto de vista português não há nada a lamentar».

«do ponto de vista português não há nada a lamentar!!»

Então a destruição de um país, a tragédia de milhões de iraquianos, a catástrofe dos milhões de refugiados nos países vizinhos, o sacrifício de milhares de mortos dos EUA e de outros países invasores, nada disso tem qualquer importância? E o Governo de Portugal que apoiou, com pretextos falsos, conscientemente assumidos, a invasão do Iraque não tem nada a lamentar?

Oiço e não acredito. Ou melhor indigno-me. Claro que não sou ingénuo. Ando na política já lá vão uns anos. Mas acho que tenho o dever cívico de me indignar e não aceitar, com cinismo, que não há nada a fazer com os políticos, ou seja, com o género humano. Há algo a fazer: quem tenha uma réstia de honradez não pode abrir mão de todos e cada um dos valores morais em que assenta a civilização, a democracia, a liberdade, a justiça, a vida.

Durão Barroso contente nas suas declarações até explicou porque «do ponto de vista português não há nada a lamentar». «A prova - disse - é que eu próprio fui quase logo a seguir escolhido para Presidente da Comissão Europeia.»

É quase "naif" esta confusão entre o interesse de Portugal e o seu interesse pessoal (associado ao de uma certa direita europeia). O que disse, como disse e a explicação que deu é tudo bem elucidativo do grau de degenerescência moral de alguns políticos (muitos infelizmente) ao ponto de total insensibilidade para apreciar a imagem que deu de si próprio.

Comments:
Bem falado. Os horrores e a devastação, - além da injustiça e gratuitidade da invasão do Iraque - continuam a não incomodar Barroso e seus pares. A alma de tecnocratas não os deixa perceber que há muitos milhares de mortos, de feridos e refugiados. Isso parece contar pouco...
 
Por mim deviam todos ser demitidos e não poderem exercer qualquer cargo publico, durante os proximos 50 anos. e Para compensar passar os proximos 50 anos a fazer trabalho social e civíco.
 
Sim. Mas a reacção de todos os partidos, sem excepção, foi muito frouxa. Afinal, em que mundo nos movemos? Num, onde as vidas das pessoas contam muito pouco. É essa a tese de Barroso, de algum modo, consentida porque não desmontada por quem devia.
 
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