2007-11-11
Por qué non te callas?! (1)
O Rei de Espanha chegou-se à frente, na cimeira Ibero Americana, a decorrer em Santiago do Chile, e perguntou a Hugo Chávez, Presidente da Venezuela: "Por qué non te callas?!". Alguns dos observadores presentes (jornalistas incluídos) acharam que Juan Carlos de Borbón estava a "mandar calar" o Presidente da Venezuela. Daí o título do DN de hoje: "Juan Carlos manda calar Chávez e gela cimeira"(p. 21) depois da colorida informalidade da chamada de 1ª página "Rei Juan Carlos perde a cabeça com Chávez"
O PÚBLICO ajeita a prancha da titulação na mesma onda - Cimeira Ibero-Americana. Juan Carlos manda calar Hugo Chávez e abandona o plenário. Certamente para se redimir, na página 20, mais circunspecto, revela que "Juan Carlos pediu a Hugo Chávez para se calar na sessão plenária da Cimeira Ibero-Americana".
Esta diferença entre "mandar" e "pedir" que anima a arte de titular e constitui a projecção ideológica de mundividências dispares, disfarça mal um alinhamento anti-Chávez que, na circunstância, reconhece ao rei um sonoro direito à indignação, apesar de, na diplomática ocorrência, ter passado por cima da autoridade da Presidente da Sessão, Michelle Bachelet (também Presidente do Chile). Quer isto dizer que há informalidades admissíveis e outras que não o são, com base em critérios que não lembram ao diacho...
À informalidade e destemperança do acto, respondeu Hugo Chávez com o protesto do direito que lhe assistia de dizer mal de Aznar quantas vezes quisesse. O Rei saiu, pouco depois, da sala onde decorria a cimeira, tendo regressado mais tarde, para assistir à sessão de encerramento. É claro que em matéria de representação internacional, Chávez teve também de enfrentar os protestos de Zapatero, que acorreu em defesa do bom nome de José Maria Aznar, espanhol, politicamente seu distante, mas igualmente merecedor de deferência institucional. Ao discordar dele, Chávez deveria ter-se recordado de que o dirigente do PP fora eleito pelo povo espanhol.
Todas estas argumentações e incontinências verbais não acrescentaram nada ao que sabemos sobre o mundo. Todavia, acentuaram os traços de meia dúzia de aspectos que teimamos em não enfrentar. As tensões do passado continuam a condicionar as vozes do presente. Chávez, tão pródigo em apartes e dixotes como o "nosso" Alberto João Jardim ou qualquer deputado da Assembleia da República em boa maré, não pode deixar de ver em Aznar um dos "demónios" que estendeu a Bush a passadeira para uma das mais estúpidas, inconsequentes e irresponsáveis guerras do novo milénio. A cimeira dos Açores, (Bush, Blair, Aznar e Barroso) que justificou e precedeu de algumas horas a invasão do Iraque, dificilmente poderá ser esquecida.
Um pouco mais atrás, na impressão que o passado nos deixa, está o império espanhol.
Face ao proverbial exibicionismo de Chávez, Juan Carlos de Borbón, magnânimo na sua real informalidade, deveria também ter-se lembrado disso.
Quanto mais não fosse porque, nesse preciso momento, era uma republicana que ocupava a presidência da sessão.
Que um castrista, como o efervescente Chávez, se agite, interrompa e barafuste, nada traz de inesperado ao concerto das nações. Agora que um rei desautorize uma senhora e interpele, fora da ordem, um outro chefe de estado, já a coisa fia mais fino.
Há títulos que não se devem confundir.
O PÚBLICO ajeita a prancha da titulação na mesma onda - Cimeira Ibero-Americana. Juan Carlos manda calar Hugo Chávez e abandona o plenário. Certamente para se redimir, na página 20, mais circunspecto, revela que "Juan Carlos pediu a Hugo Chávez para se calar na sessão plenária da Cimeira Ibero-Americana".
Esta diferença entre "mandar" e "pedir" que anima a arte de titular e constitui a projecção ideológica de mundividências dispares, disfarça mal um alinhamento anti-Chávez que, na circunstância, reconhece ao rei um sonoro direito à indignação, apesar de, na diplomática ocorrência, ter passado por cima da autoridade da Presidente da Sessão, Michelle Bachelet (também Presidente do Chile). Quer isto dizer que há informalidades admissíveis e outras que não o são, com base em critérios que não lembram ao diacho...
À informalidade e destemperança do acto, respondeu Hugo Chávez com o protesto do direito que lhe assistia de dizer mal de Aznar quantas vezes quisesse. O Rei saiu, pouco depois, da sala onde decorria a cimeira, tendo regressado mais tarde, para assistir à sessão de encerramento. É claro que em matéria de representação internacional, Chávez teve também de enfrentar os protestos de Zapatero, que acorreu em defesa do bom nome de José Maria Aznar, espanhol, politicamente seu distante, mas igualmente merecedor de deferência institucional. Ao discordar dele, Chávez deveria ter-se recordado de que o dirigente do PP fora eleito pelo povo espanhol.
Todas estas argumentações e incontinências verbais não acrescentaram nada ao que sabemos sobre o mundo. Todavia, acentuaram os traços de meia dúzia de aspectos que teimamos em não enfrentar. As tensões do passado continuam a condicionar as vozes do presente. Chávez, tão pródigo em apartes e dixotes como o "nosso" Alberto João Jardim ou qualquer deputado da Assembleia da República em boa maré, não pode deixar de ver em Aznar um dos "demónios" que estendeu a Bush a passadeira para uma das mais estúpidas, inconsequentes e irresponsáveis guerras do novo milénio. A cimeira dos Açores, (Bush, Blair, Aznar e Barroso) que justificou e precedeu de algumas horas a invasão do Iraque, dificilmente poderá ser esquecida.
Um pouco mais atrás, na impressão que o passado nos deixa, está o império espanhol.
Face ao proverbial exibicionismo de Chávez, Juan Carlos de Borbón, magnânimo na sua real informalidade, deveria também ter-se lembrado disso.
Quanto mais não fosse porque, nesse preciso momento, era uma republicana que ocupava a presidência da sessão.
Que um castrista, como o efervescente Chávez, se agite, interrompa e barafuste, nada traz de inesperado ao concerto das nações. Agora que um rei desautorize uma senhora e interpele, fora da ordem, um outro chefe de estado, já a coisa fia mais fino.
Há títulos que não se devem confundir.
Comments:
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Parecem esquecer, que quem estava a falar era o Zapatero... que o democrata Chàvez estava a interromper o Primeiro Ministro espanhol...talvez o Rei devesse ter tido: "Porque não deixas o orador falar".
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