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2007-12-03

 

Chávez perdeu o referendo

Há ditadores que dão que pensar. Por um lado organizam eleições e referendos. O que não é inédito. Salazar também fazia eleições. Mas este e os seus congéneres tinham o cuidado de garantir maiorias esmagadoras. Chávez não só não assegura uma vitória esmagadora como perde o referendo. Para maior estranheza reconhece a derrota e felicita os adversários como nas democracias. No entanto seria imprudência "democrática" deixar de o acusar de ditador enquanto não tomar medidas para que o dinheirinho volte todo às mãos onde sempre esteve.
Não sou, chavista, é claro, mas é por razões diferentes das que fazem espumar de raiva as boas consciências do neoliberalismo selvagem que aceitam resignadamente a miséria extrema e o empobrecimento da maioria da população como quem aceita a inevitabilidade do inverno e só vê democracia onde esteja garantido o "livre" jogo de forças entre os que têm quase tudo e os que não têm quase nada.
O chavismo tem, julgo que tem, propósitos e metas humanitárias que merecem simpatia. Mas a política, a percepção do mundo actual, a direcção económica, os métodos, o caminho, as alianças, o populismo, quase tudo me parece errado e destinado ao fracasso que só o petróleo tem, por enquanto, evitado.
Por isso esta derrota de Chávez talvez lhe faça bem e acabe por ser também uma vitória da população que no passado nunca deixou de ser vítima das oligarquias e votou Chávez.

Comments:
Outro golpe de Estado patrocinado pela CIA?
O dia D da Venezuela: Socialismo ou contra-revolução imperial
por James Petras

Manifestação pelo Sim. Em 26 de Novembro de 2007 o governo venezuelano divulgou um memorando confidencial da embaixada dos EUA para a CIA, o qual constitui uma revelação devastadora das operações clandestinas estado-unidenses a fim de influenciar o referendo deste domingo, 2 de Dezembro de 2007.

O memorando enviado por um responsável da embaixada, Middleton Steere, era dirigiado ao chefe da CIA, Michael Hayden. O documento intitula-se 'Avançando para a última fase da operação pinça' ('Advancing to the Last Phase of Operation Pincer') e coloca ao par da actividade de uma unidade da CIA com o acrónimo 'HUMINT' (Human Intelligence) que está empenhada em acções clandestinas para desestabilizar o referendo de domingo e coordenar a derrubada civil e militar do governo eleito de Chavez. A pesquisa de opinião da embaixada reconhece que 57% dos votantes aprovam as emendas constitucionais propostas por Chavez, mas também prevê uma abstenção de 60%.

Os operacionais americanos enfatizaram a sua capacidade para recrutar antigos apoiantes de Chavez entre os sociais democratas (PODEMOS) e o ex-ministro da Defesa Baduel, afirmando ter reduzido o voto 'sim' em 6% em relação à sua margem original. No entanto, os operacionais da Embaixada admitem que atingiram o seu teto, reconhecendo que não podem derrotar as emendas através da via eleitoral.

O memorando recomenda portanto que a Operation Pincer (OP) seja operacionalizada. A OP envolve uma estratégia de duas vias de impedir o referendo, rejeitar o resultado e ao mesmo tempo apelar a um voto 'não'. A campanha até o referendo inclui divulgar falsos inquéritos, atacar responsáveis eleitorais e divulgar propaganda através dos media privados acusando o governo de fraude e a apelar a um voto 'não'. As contradições, o relatório enfatiza cinicamente, não importam.

A CIA-Embaixada relata divisões internas e recriminações entre os oponentes das emendas, incluindo várias defecções do seu 'grupo de cobertura'. As ameaças chave mais perigosas para a democracia destacadas pelo membo da Embaixada apontam para o seu êxito em mobilizar estudantes de universidades privadas (apoiados pelos seus administradores de topo) para atacar edifícios governamentais chave incluindo o Palácio Presidencial, o Supremo Tribunal e o Conselho Nacional Eleitoral. A Embaixada elogia especialmente o grupo ex-maoista 'Bandeira Vermelha' pela sua violenta actividade no combate de rua. Ironicamente, pequenas seitas trotsquistas e seus sindicalistas juntaram aos ex-maoistas na oposição às emendas constitucionais. A Embaixada, deixando de lado a sua 'retórica marxista', percebe que a oposição destes grupos ajusta-se à sua estratégia geral.

O objectivo final da 'Operation Pincer' é ganhar uma base territorial ou institucional com o 'apoio maciço' da minoria eleitoral derrotada dentro de três ou quatro dias (antes ou após as eleições – não é claro, JP) respaldada por um levantamento de oficiais militares oposicionistas, principalmente na Guarda Nacional. Os operacionais da Embaixada admitem que os conspiradores militares incorreram em sérios problemas quando foram detectadas operações chave de inteligência, lojas de armas foram desactivadas e vários conspiradores estão sob vigilância apertada.

Além do profundo envolvimento dos EUA, a organização da elite dos negócios venezuelanos (FEDECAMARAS), bem como todos os grandes meios privados de televisão, rádio e jornais têm-se empenhado numa campanha de medo e intimidação. Produtores de alimentos, distribuidores por grosso e a retalho criaram escassez artificial de alimentos básicos e provocaram fugas de capitais em grande escala para semear o caos na esperança de colher um voto 'não'.

Contra ataques do Presidente Chávez

Num discurso aos meios de negócios nacionalistas favoráveis à emenda (Empresários por Venezuela – EMPREVEN), Chavez advertiu o presidente da FEDECAMARAS de que se continuasse a ameaçar o governo com um golpe ele nacionalizaria todos os negócios que lhe estão associados. Com a excepção dos trotsquistas e de outras seitas, a vasta maioria dos trabalhadores organizadores, camponeses, pequenos agricultores, conselho de moradores pobres, auto-empregados informais e estudantes de escolas públicas tem-se mobilizado e manifestado a favor das emendas constitucionais.

A razão para esta maioria popular encontra-se em algumas das emendas. Um artigo acelera a expropriação da terra facilitando a re-distribuição aos sem terra e pequenos produtores. Chavez já assentou mais de 150 mil trabalhadores sem terra sobre 2 milhões de acres [809,4 mil hectares) de terra. Outra emenda proporciona cobertura universal de segurança social a todos o sector informal (vendedores de rua, trabalhadores domésticos, auto-empregados) que representa 40% da força de trabalho. A semana de trabalho de trabalhadores organizados e não organizados será reduzida de 40 para 36 horas semanais sem redução de pagamento. A admissão aberta e universal à educação superior abrirá maiores oportunidades educacionais a estudantes das classes mais baixas. Algumas emendas permitirão que o governo ultrapasse os actuais bloqueios burocráticos para a socialização de indústrias estratégicas, criando portanto maior emprego e reduzindo custos de serviços públicos. A mais importante é uma emenda que aumentará o poder e o orçamento de conselhos de moradores a fim de legislar e investir nas suas comunidades.

O eleitorado que apoia as emendas constitucionais vai votar a favor dos seus interesses sócio-económicos e de classe; o problema da reeleição estendida do Presidente não é elevado nas suas prioridades. E esta é a questão que a direita tem enfatizado ao chamar Chavez de 'ditador' e o referendo de 'golpe'.

A oposição

Com forte apoio financeiro da Embaixada Americana (US$8 milhões só em propaganda, segundo o memorando da Embaixada) e da elite dos negócios e o 'tempo gratuito' nos media da extrema direita, o reacção organizou a maior parte dos estudantes da alta classe média da universidades privadas, apoiados pela hierarquia da Igreja Católica, grandes porções dos bairros da classe média rica, sectores inteiros das camadas médias ligadas aos sectores comercial, imobliário e financeiro e aparentemente sectores dos militares, especialmente oficiais na Guarda Nacional. Enquanto a direita tem o controle sobre maior parte dos media privados, a televisão pública e a rádio apoiam as reformas constitucionais. Enquanto a direita tem os seus seguidores entre alguns generais e a Guarda Nacional, Chavez tem o apoio das tropas de paraquedistas e legiões de oficiais de escalões médios e a maioria dos outros generais.

O resultado do Referendo de 2 de Dezembro é um acontecimento histórico decisivo, não só para a Venezuela como também para o restante das Américas. Um voto positivo (Vota 'Sim') proporcionará o quadro legal para a democratização do sistema político, a socialização de sectores económicos estratégicos, a delegação de poderes aos pobres e proporcionará a base para um sistema fabril auto-administrado. Um voto negativo (ou um levantamento civil-militar apoiado pelos EUA que tenha êxito) reverterá a mais prometedora experiência de autonomia popular, de bem estar social avançado e de socialismo com bases democráticas. Uma reversão, especialmente um resultado ditado pelos militares, conduzirá a um banho de sangue maciço, tal como os dos generais indonésios no golpe de 1966, que matou mais de um milhão de trabalhadores e camponeses, ou o golpe argentina de 1976, no qual mais de 30 mil argentino foram assassinados por generais apoiados pelos EUA.

Um voto decisivo pelo 'Sim' não acabará com as campanhas de desestabilização militar e política dos EUA mas certamente minará e desmoralizará os seus colaboradores. Em 2 de Dezembro de 2007 os venezuelanos têm um encontro com a história.
28/Novembro/2007
O original encontra-se em http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=7470

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
 
3 DE DEZEMBRO DE 2007 - 20h42
Referendo: conservadores comemoram vitória com cautela

Dentro e fora da Venezuela, diversas forças conservadoras festejaram os resultados do referendo deste domingo (2). "A Comissão Européia e os Estados Unidos mostraram satisfação", informa a CBN. "Igreja Católica comemora derrota de Chávez", destaca a agência Ansa. Em um comunicado, a sempre retrógrada Repórteres Sem Fronteiras (RSF) tratou logo de congratular a oposição.

Por André Cintra



Por ligeira maioria de votos, os venezuelanos rejeitaram, nas urnas, os 69 artigos da reforma da Constituição proposta pelo presidente Hugo Chávez. Os artigos mais ousados fortaleciam o poder popular, proibiam o monopólio e o latifúndio, reduziam a jornada de trabalho e asseguravam a Previdência a todos os venezuelanos, inclusive aos trabalhadores informais. Se aprovada, a proposta seria um golpe no coração nas elites venezuelanas - que reagiram de forma raivosa.

A união dos conservadores pelo "não" talvez só tenha sido inferior à de abril de 2002, quando um golpe liderado por setores militares - com apoio das elites do país, da Igreja Católica, da Casa Branca e da CIA - derrubou Chávez do poder. Na precipitada comemoração, houve cenas constrangedoras, como bispos abraçando militares efusivamente no Palácio de Miraflores. A investida, como se sabe, foi um fiasco: provocou uma grande reação popular e caiu de podre após dois dias.

Tensão continua

Certamente um filme do fracassado golpe de 2002 passou agora por essas cabeças retrógradas, que nem pensam em associar o resultado do referendo ao fim da era Chávez. O próprio presidente, embora tenha admitido a derrota, recomendou à oposição que "administre bem" o resultado de domingo.

As forças oposicionistas não constituem um grupo homogêneo, de interesses iguais. Mas a estratégia de Chávez - votar 69 artigos em apenas dois em dois blocos, sem enaltecer os objetivos sociais mais avançados - ajudou as tropas do "não". Antes do referendo, elas souberam "esconder" os trunfos da avançada proposta chavista, dando destaque a pontos menos relevantes e à proposta de reeleição indefinida. É o caso da ingerência religiosa. Conforme lembra a Ansa, a "Igreja Católica teve um papel ativo durante a campanha do referendo e pediu formalmente às pessoas que recusassem a proposta, juntando-se à oposição".

Para piorar, na reta final do referendo, Chávez monopolizou as atenções na mídia mais pelo entrave com o rei espanhol e com eventuais ameaças de retaliação. Sem contar uma abstenção que superou 44% do eleitorado (7,2 milhões). O "sim" teve no domingo cerca de 3 milhões de votos a menos que Chávez nas eleições presidenciais do ano passado, enquanto a oposição cresceu 300 mil.

Temor do futuro

O Miami Herald Tribune, um dos mais reacionários jornais americanos, ecoou a reação da Casa Branca: "A administração Bush considerou como uma vitória para a democracia a estranha derrota eleitoral do presidente venezuelano, Hugo Chávez, seu mais enérgico inimigo na América Latina". Já o Los Angeles Times falou em "derrota eleitoral horrível para o homem forte, sua primeira em nove anos no cargo".

Após a vitória do "não", o bispo Roberto Luckert acusou Chávez de "confrontação" e "beligerância". Mas ele mesmo partiu para a provocação ao bradar que o presidente não aceitará a derrota. Mirando os próximos embates eleitorais, Luckert esqueceu de vez que a Venezuela é um Estado laico e fez um apelo à oposição: "Deixe de besteira pensando quem vai ser o candidato. O que tem a maioria é o que tem que ir (à disputa), e todo mundo deve levar esse candidato ao governo ou à prefeitura."

Nenhum jornal ou especialista, porém, pode especular com precisão o futuro do governo Chávez, que vai até 2012. Lembrando 2002, a onda conservadora é muito mais contida, mesmo tendo atraído setores da classe média e, sobretudo, do movimento estudantil. Um dos novos líderes oposicionista, não por acaso, é Ricardo Sánchez, presidente da Federação de Centros Estudantis da Universidade Central de Venezuela.

Sánchez não repete euforia de cinco anos atrás. Seu discurso sobre "reconciliação" contém termos como "atitude ponderada, em términos de inclusão, de reconhecer erros e de capacidade de perdão". A oposição a Chávez parece ganhar mais força onde o discurso soa menos pretensioso - na aparência.
http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=29273
 
Valha-me deus ou lá quem for , tenho tanto trabalho de casa ... Vou ler, sou sempre tentado a ler , mas este fim de semana.
tenho algumas ideias sobre o assunto mas não leio jornais portugueses por uma questão de princípio. Nãoquero parecer petulante , não sou mas quem é que pode ler o público ou DN ?
A blogoesfere está a fazer uma concorrência danada, e já não falo dos jornais de distribuição dita gratuita, mas com esses posso bem.
Portanto pela minha parte estão arrumados... mas vá lá Luis deixe ó menos, os homens do blogue dizerem uma palavrinha... Abresse a porta a porta, e vem logo aquilo tudo, fica-se a ler um bocadinho. pensa-se, mais tarde depois de ir tomar café. Mas vou ler, prometo !
 
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