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2007-12-07

 

Descompassados (4)


Alain Touraine veio, de novo, a Lisboa, ao Instituto de Ciências Sociais, proferir uma palestra, por ocasião da abertura do ano académico. Do alto dos seus tantos anos de experiência sociológica, caracterizou como excepcionais os últimos 40 anos de história do pensamento social francês. Pela negativa.
Segundo ele, o mundo estava a mudar muito, muito depressa, e os intelectuais franceses (como os restantes, aliás) não se deram conta de que o mundo, visto pelo prisma da "dominação" das "vítimas" (os trabalhadores, as mulheres, os pobres e todo o tipo de excluídos) era um mundo "determinista", sem esperança nem espaço para a acção individual.
Diferentemente, a sua "Sociologia da Acção", faz coro com os que preconizaram "le retour de l'acteur". O sujeito regressava, assim, à análise sociológica...
Touraine tem piada. Procede a um ping-pong intelectual com Marx, referindo amiúde as limitações doutrinárias, mas estribando-se, frequentemente, nos métodos de abordagem e nalgumas categorias de análise criadas ou adoptadas por Marx e Engels.
A inescapável inspiração marxista voltou ao seu discurso quando recordou as ideias gerais em que baseou um dos seus últimos livros, - Le monde des femmes (Fayard, 2006). A condição da mulher como barómetro civilizacional.
Ora quem se der ao trabalho de (re)ler o trabalho de Friedrich Engels, The Condition of the Working Class in England, publicado na Alemanha em 1845, poderá facilmente aperceber-se da originalidade de Touraine.
Pela condição das mulheres e das crianças (de preferência, já agora, as de menores recursos...) pode deduzir-se o grau de civilização de uma sociedade.
Há coisas que mudam e outras que não. Esta parece que se mantem vai para mais de século e 1/2.

É obra!

Comments:
Touraine diz, diz, escreve e profere , mas regressa sempre lá. Essa é que é essa... Nos anos oitenta havia escolas e disciplinas onde não entrava sequer.
Lembro-me de alguém dizer, prof, vá lá , ele aqui e agora pode falar mas sobre a morte,... Gargalhada Geral.
Bem haja a professora tinha uma ironia engraçada.
Se veio a Lisboa porque não ficou mais uns dias para a sardinha assada, as marchas , os santos populares, uma conversa com berardo sobre o futuro do Banco , a cimeira, uma andança de camelo , um golinho de petróleo, eu sei
lá...
 
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