2007-12-18
Descompassados (7)
Jean Quatremer entrevistou o 1º Ministro José Sócrates para o Libération de ontem [ver aqui].
O entrevistador ficou surpreendido por, alguns dias antes do encontro, alguém lhe telefonar a perguntar o que queria para o jantar. Quatremer ficou surpreendido. Não só tinha conseguido a proeza de uma conversa "livre", ao jantar, com o Presidente em exercício da União Europeia (sem limites temáticos nem de duração!), como, ainda por cima, o deixavam escolher a ementa.
Optou pelas amêijoas (de entrada, ao natural, depreende-se ) e, convencido que se arriscava a levar com uma qualquer das mil maneiras de cozinhar bacalhau à la portugaise (que, pelo visto, não aprecia), escolheu pato.
Tão distintamente acolhido, Quatremer pôde, ainda, dar-se ao luxo de entalar no seu texto as frases de José Sócrates, sem ser submetido àquele sensaborão e maçador padrão da Pergunta-Resposta, as mais das vezes com "direito" a revisão por parte do entrevistado.
Fica-se a saber que Sócrates veio (quase) do nada. Um provinciano que hoje vive com uma jornalista do Diário de Notícias, privilegiando a "liberdade", se necessário, em detrimento da "igualdade"; conduzindo o PS ao "centro" e recordando enfaticamente o seu apego (de sempre) à social-democracia.
Já sabíamos que Sarkozy lhe invejava este modo peculiar de ser de "esquerda". Em tom de espanto e desabafo, o Presidente Francês reconhece que se fizesse um décimo do que Sócrates fez, a nação lhe caía em cima, quase em bloco, e o estrafegava.
Quanto à marca social das suas políticas, José Sócrates continua a sublinhar as Leis da Paridade, do Aborto e da Procriação Medicamente Assistida.
Eis, em resumo, o que Quatremer e Sócrates, depois de um bom jantar, resolveram filtrar para a "esfera pública" francesa.
Hoje, o DN, destaca, no topo, à esquerda, uma frase da entrevista. Não encontrando nada de mais assertivo na conversa que Quatremer coou para o Libération - desperdiçando, por isso, aquelas tiradas habituais da "teimosia", da "determinação", de "marcar o rumo e seguir em frente", etc - o jornal dirigido por João Marcelino trouxe esta terna confissão para a capa:
"José Sócrates:
Sou um provinciano"
Depois da aprovação do Tratado de Lisboa (já ratificado pelo Parlamento Húngaro) e da Cimeira Euro-Africana, que muito dificilmente poderia correr melhor do que correu, nada como um toque telúrico de regresso às raízes.
Impecável, Sr. 1º Ministro!
O entrevistador ficou surpreendido por, alguns dias antes do encontro, alguém lhe telefonar a perguntar o que queria para o jantar. Quatremer ficou surpreendido. Não só tinha conseguido a proeza de uma conversa "livre", ao jantar, com o Presidente em exercício da União Europeia (sem limites temáticos nem de duração!), como, ainda por cima, o deixavam escolher a ementa.
Optou pelas amêijoas (de entrada, ao natural, depreende-se ) e, convencido que se arriscava a levar com uma qualquer das mil maneiras de cozinhar bacalhau à la portugaise (que, pelo visto, não aprecia), escolheu pato.
Tão distintamente acolhido, Quatremer pôde, ainda, dar-se ao luxo de entalar no seu texto as frases de José Sócrates, sem ser submetido àquele sensaborão e maçador padrão da Pergunta-Resposta, as mais das vezes com "direito" a revisão por parte do entrevistado.
Fica-se a saber que Sócrates veio (quase) do nada. Um provinciano que hoje vive com uma jornalista do Diário de Notícias, privilegiando a "liberdade", se necessário, em detrimento da "igualdade"; conduzindo o PS ao "centro" e recordando enfaticamente o seu apego (de sempre) à social-democracia.
Já sabíamos que Sarkozy lhe invejava este modo peculiar de ser de "esquerda". Em tom de espanto e desabafo, o Presidente Francês reconhece que se fizesse um décimo do que Sócrates fez, a nação lhe caía em cima, quase em bloco, e o estrafegava.
Quanto à marca social das suas políticas, José Sócrates continua a sublinhar as Leis da Paridade, do Aborto e da Procriação Medicamente Assistida.
Eis, em resumo, o que Quatremer e Sócrates, depois de um bom jantar, resolveram filtrar para a "esfera pública" francesa.
Hoje, o DN, destaca, no topo, à esquerda, uma frase da entrevista. Não encontrando nada de mais assertivo na conversa que Quatremer coou para o Libération - desperdiçando, por isso, aquelas tiradas habituais da "teimosia", da "determinação", de "marcar o rumo e seguir em frente", etc - o jornal dirigido por João Marcelino trouxe esta terna confissão para a capa:
"José Sócrates:
Sou um provinciano"
Depois da aprovação do Tratado de Lisboa (já ratificado pelo Parlamento Húngaro) e da Cimeira Euro-Africana, que muito dificilmente poderia correr melhor do que correu, nada como um toque telúrico de regresso às raízes.
Impecável, Sr. 1º Ministro!