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2007-12-19

 

Luís Pacheco só há um. Ele e mais nenhum



Quando fiz zap lá estava ele com os seus 82 anos e a aquela sua cara mordaz e inconfundível. O grande Luís Pacheco.
Falava-se da sua obra maior Comunidade. E ele explicava como foi. Como se lembrou de passar aquilo, aquela sua realidade madrasta ao papel. Eles cinco na cama, na mesma cama, que não tinham mais nenhuma. "Cinco na mesma cama, um rapaz e uma rapariga com a cabeça para os pés eu, ela e o bebé mas de maneira honesta não era lá maluqueira" - dizia ele hoje, ali na televisão.

«Somos cinco numa cama. Para a cabeceira, eu, a rapariga, o bebé de dias; para os pés, o miúdo e a miúda mais pequena. Toco com o pé numa rosca de carne meiga e macia: é a pernita da Lina, que dorme à minha frente. Apago a luz, cansado de ler parvoíces que só em português é possível ler, e viro-me para o lado esquerdo: é um hálito levemente soprado, pedindo beijos no escuro que me embala até adormecer. Voltamo-nos, remexemos, tomados pelo medo de estarmos vivos, pela alegria dos sonhos, quem sabe!, e encontramos, chocamos carne, carne que não é nossa, que é um exagero, um a-mais do nosso corpo mas aqui, tão perto e tão quente, é como se fosse nossa carne também: agarrada (palpitante, latejando) pelos nossos dedos; calada (dormindo, confiante) encostada ao nosso suor.» (Aqui há mais)


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