2008-01-16
Compassos (5)
Incapazes de se darem conta da vantagem poética que ganharam com a transição, desobrigados daquelas suspeitosas gritarias de "Às armas! Às armas", etc., alguns súbditos de Juán Carlos de Borbón, organizaram um concurso para dotar o Hino de uma letra "consensual". O Comité Olímpico de Espanha e a Sociedade Geral de Autores trataram de tudo. O Júri, depois de um árduo e criterioso trabalho, anunciou que encontrara finalmente o poema necessário.
¡Viva España!
Cantemos todos juntos
con distinta voz
y un solo corazón
¡Viva España!
Desde los verdes valles
al inmenso mar,
un himno de hermandad
Ama a la Patria
pues sabe abrazar,
bajo su cielo azul,
pueblos en libertad
Gloria a los hijos
que a la Historia dan
justicia y grandeza
democracia y paz.
E pronto. O autor do texto, Paulino Cubero (de Ciudad Real) poeta, desempregado, exultava; o Presidente do Comité Olímpico, (COE) parecia anteouvir já o coro, de cada vez que um atleta espanhol subisse ao pódium. Faltava "só" traduzi-la para as restantes línguas oficiais (catalão, basco e galego) e, claro, conseguir os votos dos deputados das Cortes Gerais, porque, para a aprovação ou alteração dos símbolos da pátria, é necessária uma inequívoca representatividade democrática.
Sonhadores, os entusiastas da nova letra, convenciam-se de que Placido Domingo já a cantaria, no próximo dia 21, no Palácio dos Congressos de Madrid, por ocasião do seu aniversário.
Qual quê!?
Começaram a manifestar-se os desacordos. Os dirigentes da Esquerda Unida não gostaram; a Ministra da Cultura também não lhe achou graça. De mal a pior, a letra foi execrada. Alejandro Blanco, Presidente do COE, desfeiteado, decidiu-se a retirar a proposta. O ABC de hoje titula "El Comité Olímpico anuncia la retirada de la letra del himno". A Marcha Granadera continuará a ser executada e entoada sem letra.
Os nossos vizinhos e irmãos não se dão conta do alcance do passo que deram ao excluir a letra do hino. Qualquer poema que imponha aos demais uma ideia de pátria ou de futuro, deve respeitar o silêncio das opções por fazer. Ninguém se revê completamente no passado que nos dividiu.
Não sabem a sorte que têm.
Vendo bem, até faz sentido"
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