2008-03-06
Como nós (1)
"Lamentamos que em Portugal uma classe qualificada seja empurrada para a rua para fazer valer os seus direitos, apresentar os seus argumentos e exigir respeito", terá declarado um professor de Vila Real, numa das numerosas manifestações de protesto contra a intransigência ministerial. [Notícia Aqui]
Convenhamos que isto começa a evocar um filme cujos efeitos especiais têm tanto de surpreendente como de déjà vu.
A "rua", que nos códigos mais conservadores continua a ser o lugar do povo, apoiando caudilhos ou desafiando poderes, é tratada por muitos professores como a última trincheira de um protesto que não deveria ter existido.
Essa ideia de uma "classe qualificada" "empurrada para a rua" deixa entrever que alguns (muitos?) professores se entregaram à onda contestatária com uma evidente relutância. Para "exigir respeito" tiveram, parece, de comungar de uma prática onde não seria de bom-tom ver gentes de uma "classe qualificada".
Na dobra dos slogans, algo vai ficando: a "rua", essa rua onde as gentes furiosas ou eufóricas relembram, de vez em quando, que a expressividade popular também tem lugar na democracia, deveria ser o lugar dos outros.
E os outros, de repente, transfiguraram-se. Começaram a falar e a sentir-se empurrados para a rua, como se, afinal, também fossem como nós.
Convenhamos que isto começa a evocar um filme cujos efeitos especiais têm tanto de surpreendente como de déjà vu.
A "rua", que nos códigos mais conservadores continua a ser o lugar do povo, apoiando caudilhos ou desafiando poderes, é tratada por muitos professores como a última trincheira de um protesto que não deveria ter existido.
Essa ideia de uma "classe qualificada" "empurrada para a rua" deixa entrever que alguns (muitos?) professores se entregaram à onda contestatária com uma evidente relutância. Para "exigir respeito" tiveram, parece, de comungar de uma prática onde não seria de bom-tom ver gentes de uma "classe qualificada".
Na dobra dos slogans, algo vai ficando: a "rua", essa rua onde as gentes furiosas ou eufóricas relembram, de vez em quando, que a expressividade popular também tem lugar na democracia, deveria ser o lugar dos outros.
E os outros, de repente, transfiguraram-se. Começaram a falar e a sentir-se empurrados para a rua, como se, afinal, também fossem como nós.