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2008-03-13

 

Como nós (8)



Um homem transtornado (no mínimo) abate outros dois, à facada, para os lados da Foz, no Porto. A relevância é óbvia (?). Se o hábito pegasse, a nossa demografia periclitante afundar-se-ia num pesadelo desertificador. Por isso, talvez, o assunto foi trazido para o rol de notícias que os nossos matutinos nos servem.


Porém, a atestar que é difícil relatar seja o que for sem contaminarmos a mensagem ideologicamente (sensibilidade, perspectiva, ânimo e estratégia), logo uns descobriram que o homem era irmão das vítimas (choque parental); que as vítimas eram proprietárias de uma padaria conhecida (choque económico); e que o alegado criminoso é professor (choque socio-profissional, ético e político).
As coisas podem ser chamadas pelos muitos nomes que lhes damos e as nossas escolhas podem, eventualmente, ser inadvertidas.
No caso da composição das 1ªs páginas dos jornais, o grau de probabilidade do preconceito falar mais alto do que a estratégia de vendas, é menor.



O Diário de Notícias coloca-o, na qualidade de "irmão", ao canto inferior esquerdo da capa; o Jornal de Notícias aboliu o sujeito (mostrando as mil maneiras de confeccionar um título) e noticia que [alguém] "Assassinou os irmãos à facada"; o PÚBLICO, passa por cima - fala de "faca" mas a propósito de Miguel Esteves Cardoso e de uma intervenção cirúrgica que se avizinha (o que seria de nós se não estivéssemos a par?);o Jornal de Notícias faz uma espécie de zoom out e prefere a fórmula "Duplo homicídio em Gondarém"; o 24Horas, falha este crime e prefere um diferente na sua semelhança "Médico mata dois irmãos por causa de dinheiro"; e, finalmente,
o Correio da Manhã ganhou o campeonato da objectividade: tratando-o por "professor", ampliando-o na sua manchete principal.

Acho que todos compreenderemos porquê.

Não é?

Comments:
Depois chamam tablóides a uns certos jornais ingleses...
 
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