2008-05-09
Nós cá somos mais portugueses
Imagine, caro leitor do PUXA, que se chegavam ao pé de si, na rua, e lhe perguntavam, de rompante: - Quantos países compõem actualmente a União Europeia?
Claro que sabe.
Não duvido.
Suponha, no entanto, que, logo a seguir, lhe pediam para nomeá-los. Seria um pouco mais trabalhoso, mas estou certo que, se necessário, com a ajuda de um mapa, lá chegaria também.
Admita, no entanto, que os entrevistadores, não satisfeitos com tanta ilustração, dessem em pedir-lhe os nomes de cada um dos chefes de estado, primeiros-ministros, área, etc., de cada um dos 27 países.
Atrevo-me a suspeitar que começaria a sentir algumas dificuldades...
Estou enganado?
Bom.
A bacoquice das provas de "cultura geral" dá nisto. Nós tendemos a saber muito sobre pouco e pouco sobre muito. O nosso enciclopedismo tem os seus limites, não é? Dispensamos, até, a memorização de toneladas de informação que sabemos hoje ter ao alcance de um click, tendendo a armazenar, com maior sistematização, o desenho e as coordenadas das rotas que nos permitem o acesso a numerosas bases de dados, para, em seguida, podermos correlacionar informação pesada, específica e dispersa.
Depois, correndo tudo pelo melhor, damos o passo seguinte, e interpretamos os resultados, transformando o jogo da informação em conhecimento. Por isso, temos hoje diferentes formas de saber, de resolver problemas e de "memorizar", que ainda não existiam nos tempos em que já se faziam as sapientes perguntas de "cultura geral", como aquela dos "cursos dos rios e seus afluentes", ou a das "linhas de caminhos de ferro e seus ramais".
Nem de propósito, a Marktest, a pretexto de celebrar o dia da Europa, lançou um inquérito para apurar várias coisas acerca do que os portugueses pensam (a quente) sobre a União.
Concluiu, por exemplo, que o caro leitor estaria entre os 25% de entrevistados que sabiam quantos países compõem a União. Porém não fez nenhuma das perguntas mais difíceis que eu alvitrei. Calculo que, se as fizesse, a percentagem tenderia a descer. Mas fez, entre outras, uma pergunta para a qual as respostas foram significativamente claras.
- "Considera-se mais português ou europeu?".
Aí, os entrevistados que se consideram "mais europeus" reduziram-se a 15%.
Depois da ratificação parlamentar que evitou perguntar aos portugueses o que pensavam do assunto; depois de uma política agrícola comum que nos deixou a pão e laranjas; depois dos sucessivos e rápidos alargamentos desligados de quaisquer debates abertos e sérios, estaria alguém à espera que os portugueses se sentissem "mais europeus"?
Francamente...
Não se pode negar a um povo a oportunidade de se pronunciar acerca da União em que o respectivo país se integra, e esperar, ao mesmo tempo, que ele se interesse.
Não nos deixam outra saída senão a de nos sentirmos... portugueses.
Claro que sabe.
Não duvido.
Suponha, no entanto, que, logo a seguir, lhe pediam para nomeá-los. Seria um pouco mais trabalhoso, mas estou certo que, se necessário, com a ajuda de um mapa, lá chegaria também.
Admita, no entanto, que os entrevistadores, não satisfeitos com tanta ilustração, dessem em pedir-lhe os nomes de cada um dos chefes de estado, primeiros-ministros, área, etc., de cada um dos 27 países.
Atrevo-me a suspeitar que começaria a sentir algumas dificuldades...
Estou enganado?
Bom.
A bacoquice das provas de "cultura geral" dá nisto. Nós tendemos a saber muito sobre pouco e pouco sobre muito. O nosso enciclopedismo tem os seus limites, não é? Dispensamos, até, a memorização de toneladas de informação que sabemos hoje ter ao alcance de um click, tendendo a armazenar, com maior sistematização, o desenho e as coordenadas das rotas que nos permitem o acesso a numerosas bases de dados, para, em seguida, podermos correlacionar informação pesada, específica e dispersa.
Depois, correndo tudo pelo melhor, damos o passo seguinte, e interpretamos os resultados, transformando o jogo da informação em conhecimento. Por isso, temos hoje diferentes formas de saber, de resolver problemas e de "memorizar", que ainda não existiam nos tempos em que já se faziam as sapientes perguntas de "cultura geral", como aquela dos "cursos dos rios e seus afluentes", ou a das "linhas de caminhos de ferro e seus ramais".
Nem de propósito, a Marktest, a pretexto de celebrar o dia da Europa, lançou um inquérito para apurar várias coisas acerca do que os portugueses pensam (a quente) sobre a União.
Concluiu, por exemplo, que o caro leitor estaria entre os 25% de entrevistados que sabiam quantos países compõem a União. Porém não fez nenhuma das perguntas mais difíceis que eu alvitrei. Calculo que, se as fizesse, a percentagem tenderia a descer. Mas fez, entre outras, uma pergunta para a qual as respostas foram significativamente claras.
- "Considera-se mais português ou europeu?".
Aí, os entrevistados que se consideram "mais europeus" reduziram-se a 15%.
Depois da ratificação parlamentar que evitou perguntar aos portugueses o que pensavam do assunto; depois de uma política agrícola comum que nos deixou a pão e laranjas; depois dos sucessivos e rápidos alargamentos desligados de quaisquer debates abertos e sérios, estaria alguém à espera que os portugueses se sentissem "mais europeus"?
Francamente...
Não se pode negar a um povo a oportunidade de se pronunciar acerca da União em que o respectivo país se integra, e esperar, ao mesmo tempo, que ele se interesse.
Não nos deixam outra saída senão a de nos sentirmos... portugueses.
Comments:
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Está mesmo convencido que se tivesse havido referendo os portugueses se sentiriam hoje mais europeus?
Francisco Ruivo
Francisco Ruivo
Tal como o amigo Ruivo, não acredito que me sentisse mais europeu... mas menos comido por parvo e gozado por um governo de aldrabões, isso seria bem capaz de me sentir.
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