2008-12-12
Ronaldo e o bailinho da Madeira
Como eu compreendo a arrogância do Ronaldo! Um dia desaparece mas, neste momento, é humana e psicologicamente compreensível. Há um anúncio genial do totoloto. Uma voz de aeroporto chama os passageiros pelo número dos voos e desatina. Goza com todos para terminar com um grito. Agora é a minha vez. Vou-me embora. Vou viajar. É o poder do dinheiro? É, sim senhora. Compra quase tudo, incluindo, por vezes, a liberdade de não depender de ninguém. Como entendo a "Dona" Dolores que de imagem nada sabe. Nem um corte de cabelo a jeito, nem uma roupinha de marca que esconda os altos e baixos da cintura larga. Que sentirá esta mulher quando hoje do alto da sua "mansão" olha para a baía do Funchal ao fundo e o mar ao largo, depois de ter vivido parte da infância num orfanato, um casamento com álcool partilhado nos becos favelados de Santo António, sem escola nem educação refinadas?
Que sentimentos saltam quando uma mulher passa da condição anónima da pobreza para os paços dos lambe-botas só porque o filho conquistou o mundo?
Cala-se ou deixa que o deslumbramento lhe inunde o corpo e a alma gritando aos sete ventos que, finalmente, existe e sempre existiu, vendo de cima os banqueiros, governantes e vips falidos, aos salamaleques engolindo sapinhos pirosos?
É de gritos. E dá gozo ver algumas cenas sobretudo aquelas em que o poder político regional tenta colar a imagem do craque ao «sucesso da governação», como se Ronaldo fosse mais um túnel, uma via-rápida. Mas o Ronaldo saíu desta cidade insular aos 11 anos e sabe que nada deve à Madeira.
Só quem conhece algumas zonas da ilha para compreender do que falo.