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2009-09-20

 

Desabafos e manifestos (4)



O caso da espionagem a órgãos de soberania e o da demissão de Domingos Lopes do PCP, têm em comum a circunstância de serem processos que se desenvolveram ou arrastaram durante certo tempo e só agora, à beira das eleições legislativas, terem sido, parcialmente, revelados.

Há quem se apresse, na tentativa de desmontá-los ou, com a estranha ambição de os tornar transparentes aos olhos dos que aguardam uma declaração, a acrescentar um elemento mais, para que a parte já vinda a lume faça algum sentido e possa ser razoavelmente interpretada, a última palavra dita, o assunto encerrado.

Mas não é assim tão fácil.

Bem vistas as coisas, a demissão de mais um ex-dirigente do PCP ou a denúncia de uma manifestação da extrema curiosidade dos titulares de um órgão de soberania relativamente a outro, não trazem nada de substancialmente novo. Imagino que qualquer militante, de qualquer partido, poderá sempre, antes ou depois das eleições, apontar velhas razões para sair do seu partido, expondo-se a acusações de grande facilidade inquisitorial. Perguntar a alguém porque não saiu mais cedo de um dado partido, esconde mal a tentação totalitária guiada por uma intrusividade extasiante (ou stasi-ante). A coerência, assim exigida, levaria a que não ficasse pedra sobre pedra no actual panorama partidário. Os miitantes pactuam, compreendem, perdoam, desvalorizam as atoardas e as traições dos seus líderes. Quando não aguentam ou não querem mais, saem.

Quanto às relações políticas entre Cavaco Silva e José Sócrates, era de esperar que, com o desgaste da acção governativa e com o braço de ferro, um tanto ou quanto tonto, a propósito da nova Lei da Autonomia dos Açores, as coisas azedassem. Não adianta tentar dividir o mundo entre virgens ofendidas e vilões corruptores. A separação dos poderes é uma história de vigilância recíproca, inquirição permanente e recolha de informação sistemática.

Percebia-se, de há muito, que após um apoio quase explícito de Cavaco a Sócrates, a família laranja reuniria as suas forças para tentar substituir o PS no poder. As queixas postas em banho-maria há cerca de um ano, deram agora os seus frutos confusos, obscuros e ambíguos.

Quando se afiam punhais na sombra e se prepara novo assalto, vale tudo.

Nas vésperas de eleições é que é uma chatice.

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