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2010-01-21

 

[1914] Obama, um ano depois

Barack Obama completou um ano de governo.Mudou os Estados Unidos? Sim e muito na sua imagem no mundo e na alma da América negra e de outras minorias. Mas ficou aquém do era possível ainda que o possível não pudesse ser muito.

Li uma biografia de Obama, de David Mendell, um jornalista do Chicago Tribune e também a sua autobiografia. Fica-se a gostar do homem. Pelo seu trajecto de vida, abnegação, recusa a uma vida fácil, (trocou uma carreira de sucesso e fortuna por trabalho voluntário no gueto de Chicago) pela sua inteligência e invulgares dotes comunicacionais. À comunicação ajuda muito ter ideias arrumadas.

Mas Obama é um conciliador e julga que o sucesso que obteve na direcção da consagrada e emblemática revista de Direito de Harvard, quando lá cursou, em que ficou célebre a sua escolha para a direcção democrata da revista de alguns republicanos poderia resultar aqui, nos assuntos de Estado, “naquilo que comanda a vida”, o dinheiro, o poder.

É um grave erro pensar que concilia os interesses das petrolíferas com a luta contra o aquecimento global, da indústria de armamento com a paz, das seguradoras com os dos 30 milhões de norte-americanos que não têm acesso à saúde, os fanáticos evangélicos neocons com os democratas, o Partido Republicano dominado pela extrema-direita com a esquerda ou o centro do Partido Democrático. É uma ilusão que já lhe está a sair cara e será fatal se não quiser ou não conseguir alterar o rumo.
Penso que tinha margem de manobra, ainda que não muita, para fazer valer uma política mais firme contra os grandes interesses financeiros que estão na raiz da crise mundial, uma política mais firme no conflito Israelo-Árabe onde está aquém das expectativas que ajudou a criar. Não chega o discurso na Universidade do Cairo por melhor que seja e foi.
Do Afeganistão e do Iraque necessita de sair o mais depressa possível ainda que se perceba que tente uma saída diferente da de Saigão.
Claro que apesar de tudo há uma situação incomparavelmente nova relativamente a W. Bush e sua entourage, de Dick Cheney a Donald Rumsfeld e Paul Wolfowitz.

O busílis está na superação da crise económica. Consegue ou não  pôr a economia a crescer e a dar emprego? It's the economy, stupid, explicou Bill Clinton.
A uma grande parte do seu eleitorado importa saber se consegue ou não dar um novo equilíbrio à sociedade norte-americana diminuindo o fosso crescente, desde os anos 80, entre uma restrita minoria escandalosamente rica e uma percentagem crescente da população empobrecida, marginalizada e abaixo do nível de pobreza.

A perda pelo Partido Democrático da maioria qualificada no Senado (de 60 para 59 senadores) com a vitória do candidato Republicano no Massachusetts, um feudo dos Kennedy desde 1972, vai criar maiores dificuldades a Obama e é um mau presságio para as eleições que se avisinham para a renovação do Congresso.

A sua eleição contou com a ala esquerda do Partido Democrático mas não só. Porque os grandes potentados do partido democrata a certa altura receando-lhe a vitória decidiram investir muito dinheiro na sua campanha como forma de o controlar.
Para a sua vitória foi decisivo o grande movimento popular que galvanizou os afro-americanos, mas também a juventude com o uso da internet e a grande mobilização pelo recenseamento das camadas mais marginalizadas que os neoconservadores do Partido Republicano procuraram eliminar do direito de voto (para além das fraudes eleitorais organizadas nos cadernos de recenseamento e na contagem de votos). Esta grande e rara  mobibilação popular foi decisiva para a vitória mas era sabido, por quem sabe, que se tais milhões de apoiantes não estivessem bem organizados seriam uma poderosa força mas… efémera. Dá para eleger mas não para sustentar uma governação - mudar Washington como dizia - que afronte os poderosíssimos lobbies que cercam a Casa Branca e condicionam os congressistas, sempre receosos de não terem os apoios financeiros suficientes para serem reeleitos.

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Comments:
Olá, Raimundo

Como vês, matéria não falta. A realidade inspira-te. além de que está muito bem escrito.
JMCPinto
 
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