2010-10-09
A propósito da condecoração de Durão Barroso por Ramos Horta
Transcrevo para reflexão um Post Scriptum de Miguel de Sousa Tavares no seu artigo de hoje que nos faz pensar quanto escorregadia é a política. Os sublinhados são meus.
PS - Durante anos, como ministro dos Estrangeiros do governo de Cavaco Silva, Durão Barroso tentou por todos os meios conseguir uma saída airosa para reconhecer a anexação de Timor pela Indonésia ou então ir entretendo a questão para consumo interno. Ainda me lembro quando, à saída da reunião anual que tinha na ONU com o ministro da Indonésia, ele declarar, com ar de missão cumprida: "Concordámos em continuar a falar ... para o ano que vem". Tive o grande orgulho de ter usado permanentemente os espaços ao meu dispor para, em contracorrente, defender que Portugal não podia abandonar Timor e deixar de exigir a retirada da Indonésia - ao contrário do que defendia quase todo o establisment político representado por Durão Barroso. Vendo, esta semana, o presidente de Timor, Ramos-Horta, condecorar Durão Barroso pelo "contributo dado à independência de Timor", senti um vómito no estômago. Eu sei que ele é hoje, não o MNE de um país irrelevante na cena internacional, mas o poderoso presidente da toda poderosa UE, e sei que uma assinatura sua vale milhões. Sei que a política é feita de uma permanente espuma de hipocrisia que, não raro, falsifica a memória dos homens e os compêndios da história. Mas há limites e não foi assim há tanto tempo. Há limites para o despudor: de quem condecorou e de quem aceitou.
PS - Durante anos, como ministro dos Estrangeiros do governo de Cavaco Silva, Durão Barroso tentou por todos os meios conseguir uma saída airosa para reconhecer a anexação de Timor pela Indonésia ou então ir entretendo a questão para consumo interno. Ainda me lembro quando, à saída da reunião anual que tinha na ONU com o ministro da Indonésia, ele declarar, com ar de missão cumprida: "Concordámos em continuar a falar ... para o ano que vem". Tive o grande orgulho de ter usado permanentemente os espaços ao meu dispor para, em contracorrente, defender que Portugal não podia abandonar Timor e deixar de exigir a retirada da Indonésia - ao contrário do que defendia quase todo o establisment político representado por Durão Barroso. Vendo, esta semana, o presidente de Timor, Ramos-Horta, condecorar Durão Barroso pelo "contributo dado à independência de Timor", senti um vómito no estômago. Eu sei que ele é hoje, não o MNE de um país irrelevante na cena internacional, mas o poderoso presidente da toda poderosa UE, e sei que uma assinatura sua vale milhões. Sei que a política é feita de uma permanente espuma de hipocrisia que, não raro, falsifica a memória dos homens e os compêndios da história. Mas há limites e não foi assim há tanto tempo. Há limites para o despudor: de quem condecorou e de quem aceitou.