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2011-02-06

 

A Guerra Colonial e o seu grande desconhecimento

Nestes últimos dias, a propósito do 4 de Fevereiro de 1961, - data tida como o arranque da guerra em Angola - falou-se da guerra colonial. Em algumas revistas de jornais saíram até reportagens fotográficas e escritas.

Hoje precisamente quando fui tomar o café da manhã, onde habitualmente tomo, aproveitando quase sempre para uma meia horita de leitura pelos jornais. Foi o que hoje fiz.

Quando ia pagar, a gerente do café estava horrorizada a contemplar uma dessas revistas, com fotos onde se via uma mortandade atribuída à tropa portuguesa e dispara para mim:

Isto foi feito por portugueses?

Eu digo-lhe sim. As tropas portuguesas também provocaram massacres que correram mundo, denunciados alguns deles por missionários que actuavam no terreno.

A senhora continua a conversa e de novo dispara?

Mas está aqui na legenda e lê em voz alta: mas eram trabalhadores de café, como podiam fazer mal às nossas tropas e quem os mandou fazer isso?

Lá expliquei a situação de forma resumida, imputando a orientação ao sistema político e ao governo de então, voltando ela a dizer-me a meio da conversa breve, mas Salazar e Marcelo mandavam mesmo fazer isso?

Resumindo, a gerente deve ter cerca de 45 anos e realmente desconhece quase tudo sobre a guerra colonial e sobre o Estado Novo.

Tanto se invoca o 25 de Abril, imputando-lhe o que aconteceu de melhor neste País e eu interrogo-me: Será que alguma vez se tentou seriamente dar uma visão da guerra colonial, das suas causas e nas escolas como se explica isto aos jovens?

Esta senhora frequentou o ensino no pós 25 de Abril e a sensação que fiquei é que tudo isto lhe passou ao lado.

Não será que para não tocar em comportamentos sensíveis de gente importante, se procurou antes "abordar "os erros da descolonização fazendo esquecer o que se passou na guerra, ou melhor dito, promovendo o seu branqueamento?

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Comments:
Caro João Abel de Freitas
O tema que para aqui traz é pertinente. De facto tem havido ao longo destes anos um branqueamento em relação às atrocidades cometidas pelas tropas coloniais.
Parece-me que as gerações nascidas depois do 25 de Abril e as que ainda eram crianças, não conhecem esta faceta do comportamento do regime Salazarista.
Na recente campanha eleitoral, os detractores de Manuel Alegre, usaram e abusaram do seu papel Anti-Guerra Colonial e essa difamação fez mossa.
Cabe à nossa geração não "deixar apagar a memória".
Abraço
Rodrigo
 
Meu caro Rodrigo,

Este tema faz parte da nossa história e não devia denegrir a esquerda analisar esta situação.

Mas temo que a esquerda tenha contribuído para o branqueamento da guerra naquela perspectiva de que não se pode tocar nos militares que fizeram o 25 de Abril. E assim tudo se branqueou confundindo os estrategas políticos do regime ditatorial e os executores que em vários casos se excederam, mesmo estando obrigados na guerra.
João Abel de Freitas
 
Carissimos bom seria que nós estivessemos disponíveis para dizer a verdade aos jovens sobre a "verdadeira história de Angola" e já agora da "guerra" em Angola, sem recorrer a falácias que já nada servem a ninguèm, a não ser a um certo tipo de pseudo progressistas com problemas de consciência. Eu nasci e vivi em Angola, eu lutei em Angola, por uma Angola dos verdadeiros Angolanos.

Muitos dos que agora ignorantemente se dizem angolanos genuínos, desconhecem ou omitem que os seus antepassados, os povos Bantu ocuparam os territórios que actualmente compõem Angola, no (sec XIII formando o reino do Congo) pouco antes e alguns pouco depois dos portugueses. Os únicos angolanos genuínos e que foram chacinados pelos Bantus, são curiosamente os mais marginalizados dos nativos: os Khoisans (bosquímanes e hotentotes) que se fixaram em Angola à mais de 11 mil anos e os Vátuas que habitaram a sua região o deserto do Namibe, à mais de 3 mil anos, todos os outros povos se fixaram em Angola a partir das migrações da população Bantu e foram-se cruzando entre si, incluindo os portugueses.
Os Bantu vieram do norte, provavelmente da região da actual República dos Camarões. Esses povos, ao chegarem a Angola, encontraram os Bochimanes e outros grupos bem mais primitivos, impondo-lhes facilmente a sua tecnologia nos domínios da metalurgia, cerâmica e agricultura. A instalação dos Bantu foi gerando diversos grupos que vieram a estabilizar-se em etnias que perduram aos dias de hoje.

A verdade é que os portugueses perderam o direito histórico e a soberania, de territórios que ocuparam e conquistaram, em favor de povos que quando muito teriam igual direito histórico, porque nuns casos os seus antepassados chegaram um pouco antes, ao mesmo tempo ou depois dos portugueses, no caso de Angola e noutros a terra era deserta, casos de Cabo Verde e S. Tomé e Principe.
Mesmo que os Bantus tivessem chegado um pouco antes, não tinham direito ao território. Se isso fosse licito, com base na mesma "teoria" os marroquinos defenderão o seu direito histórico a este rectângulo ou a parte dele, porque aqui chegaram antes de nós e aqui permaneceram 800 anos. O fascismo e a ditadura eram odiosos, mas em Angola lutava-se paradefender as populações, contra ataques de gente que vinha do exterior, e que tinha "chefes" na URSS, como se provou mais tarde.

Não eram de facto heróis os que atacaram em 4 de Fevereiro, e em 15 de Abril, mas sim Bantus a fazerem o que lhes permitiu ao longo dos séculos aumentar o seu domínio da Àfrica, desde que saíram dos Camarões, atacar, matar e chacinar outros povos.
De resto para se compreender melhor a história teriamos que nos reportar à Conferência de Berlim, à guerra fria e ao apetite das superpotências pelos recursos naturais de Angola...
Na realidade o povo Bantu mantêm o poder em Angola através de uma cleptocracia, milhares de Angolanos vivem na diáspura, e nós nestas datas limitamo-nos a omitir a verdadeira história aos jovens...afinal colonialistas são aqueles que agoram dizem que libertaram o país dos portugueses, vieram dos Camarões e chegaram no sec XIII.
 
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