2012-05-08
O Pingo Doce e os corvos-marinhos
um ponto é tudo
por FERREIRA FERNANDES

por FERREIRA FERNANDES
Guilin, no Sul da China, é o lugar mais belo onde já fui, as aguarelas
fazem-lhe justiça.
Em Guilin vi a mais dura das metáforas. À noite, no rio Li,
os pescadores saem em jangadas de bambu e levam cormorões, corvos-marinhos, aos
quais atam o longo pescoço com um fio. O pássaro mergulha, apanha um peixe e
atrapalha-se, não consegue engolir, sufoca. O pescador iça o cormorão para a
jangada, tira-lhe o peixe da garganta estreitada pelo fio. O cormorão, aliviado,
olha grato o pescador que o vai explorar outra e outra vez. Entre uma e outra, o
dono dá-lhe um pedaço de peixe, uma promoção de 50 por cento. Eu conhecia os
cormorões de uma canção, Siracusa, que Yves Montand canta como ninguém,
e, claro, dos desenhos em Corto Maltese. Mas o olhar explorado e grato dos
corvos-marinhos de Guilin vai acompanhar-me pela vida. Como poderia eu criticar
os homens e mulheres que foram anteontem ao Pingo Doce? Seria como criticar os
anões que aceitam entrar em concursos de lançamento. E eu quantas vezes engoli o
que não queria, ao contrário (e igual) da metáfora do cormorão? Mas o
protagonista desta história é quem fez a asneira (se calhar nem intenção houve)
de humilhar num dia que foi conquistado para o respeito. Por isso, na crónica de
ontem, falei da fundação ligada ao Pingo Doce (porque quem faz fundações não
pode fazer lançamentos de anões) e falei do Dia de Natal (porque há dias
especiais, esse e outros, na vida dos homens).
_______________________________
Está aqui no DN e também aqui no Blog da Joana Lopes de onde roubei a fotografia

_______________________________
Está aqui no DN e também aqui no Blog da Joana Lopes de onde roubei a fotografia