2012-09-18
Infelizmente ... A Europa que temos
Haveria
tamanha crise se a União Europeia não andasse de abraços com o crime organizado,
a fraude e a corrupção? E o que é que Portugal tem a ver com
isso?
"Agora
sabemos que é tão perigoso ser governado pelo dinheiro organizado como pelas
máfias organizadas." Não, a frase não é atual. Quer dizer, atual até é, mas foi
proferida em 1936 pelo Presidente dos EUA, Roosevelt, na ressaca da Grande
Depressão. "É uma frase totalmente aplicável aos nossos dias", garante Carlos
Pimenta, do Observatório de Economia e Gestão de Fraude da Faculdade de Economia
da Universidade do Porto (OBEGEF).
As
palavras de Roosevelt podem até inspirar a conferência que o Observatório
organizará, por estes dias, no Porto, com a "nata" do País e do estrangeiro no
estudo e investigação da fraude e da corrupção. Afinal, "a crise que estamos a
viver está muito ligada a situações dessas. Começou nos EUA, com o subprime, mas
também é resultado das más políticas da União Europeia, promotora de medidas
que, do ponto de vista científico, foram abandonadas há muitos anos", resume
Carlos Pimenta.
Não se
assuste, mas o resultado é este: "A Europa concentra hoje um grande número de
off-shores e 'câmaras' de corrupção entre bancos sem qualquer registo de
movimentos. É benévola para o crime organizado e comporta-se como um grande
paraíso fiscal", resume o catedrático de Economia.
Faça-se
um exercício sobre o desconhecido: quem reparou na adesão ao euro de países que
não integram a UE e que, por vezes, nem nos lembramos que o são? Vaticano, São
Marino, Kosovo e outros territórios constituem, segundo Carlos Pimenta, "o
centro do tráfico internacional" e conquistaram o melhor de dois mundos: usam a
moeda única, mas não respondem perante as leis europeias. "O dinheiro que ali
circula fica automaticamente lavado." Não admira, pois, ver a Europa
"extremamente vulnerável".
Portugal,
galinheiro de serviço
Não
sendo ainda um paraíso para as máfias, a verdade é que a moldura europeia, mais
jeitinho menos jeitinho, cabe na perfeição a Portugal, país onde as raposas
encontram sempre o galinheiro aberto, e à discrição, para se empanturrarem.
Carlos Pimenta socorre-se da metáfora de Jean-François Gayraud - autor de
diversas obras sobre fraudes e crime organizado - para ilustrar o
nacional-porreirismo nestas matérias, conivente e irresponsável. "As crises e o
endividamento do Estado geram situações de grande fragilidade. Degrada-se a
situação social, abre-se a porta a negociatas", refere o economista. A
estratégia de rapina é fácil e dá milhões: "As organizações criminosas não têm
falta de liquidez. Além de facilitarem o crédito, tomam conta de empresas em
situação difícil e dos negócios legais, através de jogos de influência e de
branqueamento de capitais. As privatizações são um dos alvos", explica Carlos
Pimenta.
Os
sinais são variados e estão para durar. É "o cancro do off-shore da Madeira,
onde Portugal só tem a perder". São as Parcerias Público-Privadas (PPP´s), "onde
era bom saber quantas foram negociadas em situação de conflito de interesses".
São os negócios entre Portugal e Angola, com "exemplos de uma relação pouco
clara entre empresários portugueses e angolanos e onde a diplomacia secreta
aparece em grande". Há tempos, em Luanda, Carlos Pimenta ouviu mesmo da boca de
responsáveis da polícia económica angolana uma frase curiosa: "Disseram-se
espantados com o facto de empresários falidos em Portugal serem um sucesso por
lá." Por cá, valham-nos o Ministério Público e a PJ que, "mesmo sem recursos,
têm sido extremamente corajosos. Nos últimos anos, foram trazidos a público e
investigados casos que, noutros tempos, nunca viam a luz do
dia".
Neste
momento, de acordo com as estimativas de Carlos Pimenta, a "economia sombra"
representa já 35% do PIB. Em 2007, o cenário corresponderia a uma pilha de notas
de cem euros, quase do tamanho da Torre dos Clérigos. "Agora, são várias
torres", ironiza.
Entretanto,
"a comunidade pacífica de revoltados" de que falava Torga parece manter a
fervura, sem levantar a tampa. Somos até "muito tolerantes com a fraude e a
corrupção autárquica", sobretudo ao serviço da máxima "rouba, mas faz", mas
continuamos impressionáveis quando o aparelho de Estado dá nas vistas. Os
exemplos, esses, já não vêm de cima. "As revistas sociais alteraram o padrão de
ética das pessoas", afirma Carlos Pimenta. "As referências, hoje, são tipos que
vão à TV, alguns bandidos e vira-casacas." Tudo bons rapazes,
portanto.
(Citado de "Miguel Carvalho de texto publicado na Visão de 13 de Setembro)
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Todos os políticos, Ferreira Leite, Portas, A.J.Jardim, sindicalistas..., que se queixam da curta governação de Passos, são iguais àquele ministro que comeu o fígado da vaca louca.
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