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2012-09-18

 

No meio do desespero de um povo um gesto de amor

No meio do gigantesco protesto contra as políticas de Passos Coelho - um 1º M inebriado com o papel de capataz da tróica - no meio do desespero de um milhão de portugueses, nas ruas de 30 cidades, um parêntesis de amor, um traço de união entre povo e polícias que também são povo.
Três heróis na luta de um povo pelos seus direitos, revoltado contra o roubo dos seus salários, que não aceita a injustiça de ter de pagar a crise de que não é responsável e de que outros se aproveitaram e se aproveitam para enriquecer mais ainda.
Três heróis numa imagem que deu a volta ao mundo, dos EUA ao Brasil, da Europa à Nova Zelândia, que desde Sábado mobiliza as atenções das redes sociais e hoje está aí em vários jornais portugueses, do "Público" ao  " I ".
* Ela: Adriana Xavier, uma miúda de Lagos, aluna de artes, ar gentil e 18 anos, de passagem por Lisboa;
*Ele: José Manuel Ribeiro, o feliz repórter da Reuter, cuja fotografia deu, veloz, a volta ao globo pela internet, ainda mal refeito do surpreendente eco global do seu trabalho;
*Ele: Sérgio o polícia, firme e profissional, desses com viseira e farda blindada, do Corpo de Intervenção.
Ela:
“Por estar na capital decidiu participar na primeira manifestação da sua vida."
 “Decidi à última juntar-me à manifestação” contra as medidas de austeridade, ... “Estava a gostar de ver o povo unido, apesar de eu não ser de gritar. Mas é bonito ver o povo unido por uma causa.”...
“Já tinha olhado para ele, quando ele ainda não tinha a viseira. Tinha um olhar triste. Mas tinha um olhar aberto também ”...
"Porque é que estão aqui?” “Estou aqui porque é o meu trabalho.” “Mas não preferias estar connosco, deste lado?”
“Pensei uma, duas, três vezes. E aproximei-me dele. Acredito que se der amor, recebo amor. E foi por isso. Queria ter um gesto de amor.
Aproximei-me dele, abracei-o. Ele ficou estático. Depois afastou-se suavemente. Não me afastou, afastou-se.”
Ele:

“O momento em que isso se manifestou foi quando a Adriana se aproximou de mim e me perguntou porque estávamos ali. Respondi que era nossa função, que apesar de aceitar que as pessoas se manifestem, tinha que trabalhar. Ela perguntou-me então se não tinha vontade de me juntar à multidão e manifestar-me, e a minha reação foi olhar para ela com um ar de quem assume: ‘Sim, estou convosco no sentido da manifestação e sou parte do seu sentido’ e olhei em frente para a multidão. Momentos depois ela voltou e simplesmente abraçou-me. Fiquei estático e dois segundos depois disse-lhe ‘Já chega’ e recuei ligeiramente.”
No meio do desespero de um povo um gesto de amor. E o poder da imagem.

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