2012-11-06
João Ferreira do Amaral arrasa política do governo
Extratos da entrevista a Dinheiro Vivo [Link para texto completo da entrevista Dinheiro Vivo ou aqui]
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Tem
defendido que Portugal deveria sair de uma forma organizada do euro. Mas
ninguém, nem os partidos mais à esquerda, parece defender isso. Vamos mesmo
acabar por sair de uma forma atabalhoada?
Há uma grande
probabilidade de isso acontecer porque, olhando friamente para as condições em
que Portugal está, não vejo como possa sustentar--se dentro da zona euro....
... Há vinte anos, quando
começou o caminho para a moeda única, o nosso sector industrial pesava 24% do
produto interno bruto (PIB). Hoje pesa 13 %, que é metade do que pesava em
1953, quando começou a haver contas nacionais. Nenhum país consegue prosperar e
crescer assim, é impossível.
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Nesta
semana, a maioria aprovou o Orçamento e o governo convidou o PS a participar de
forma ativa naquilo a que chamou refundação do acordo com a troika. São quatro
mil milhões de cortes permanentes na despesa a efetuar em 2013 e 2014. Há
alguma coisa que o Estado possa deixar de fazer? Ou cortar?
O Estado faz hoje, em Portugal, o
mesmo, e às vezes até menos, do que faz a generalidade dos Estados na União
Europeia.
Os Estados da UE têm as funções de
soberania, a segurança, a justiça, os negócios estrangeiros, etc. Depois têm as
funções sociais, educação e saúde. Não gastamos mais, nem por sombras, do que
se gasta por essa Europa fora. Pode-se, evidentemente, melhorar a eficiência e
reduzir as despesas para obter o mesmo resultado, mas não creio que isso sejam
quatro mil milhões de euros. Creio, sim, que isso é um absurdo e é preciso ver
como é que surgem esses quatro mil milhões de euros. Penso que aí o Partido
Socialista tem razão: isto resulta em grande parte da estratégia seguida de
provocar uma grande recessão.
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Ouvi que já estariam três
mil e quinhentos milhões de euros destinados a ser cortados nas funções
sociais, mas não nos esqueçamos de que a Segurança Social estava equilibrada. Só se desequilibrou este ano
devido justamente à recessão. Esta estratégia não tem futuro nenhum. Se estamos
agora a cortar quatro mil milhões, daqui a dois anos estamos a cortar seis mil
milhões. Isto vai ser uma bola de neve que nunca mais acabará. Não faz sentido.
Voltando
ao início desta entrevista, e ao início também da sua história... Esteve em
1977 com o FMI, esteve em 1983 com o FMI, tem olhado de fora para o trabalho do
Fundo. Este FMI é menos esclarecido? São tecnocratas de quinta ou sétima linha,
como disse Fernando Ulrich?
Não sei o que é a
responsabilidade do governo ou do FMI na forma como o memorando foi delineado.
Agora que estes programas não fazem sentido nenhum, não fazem. Para mim, pior
ainda é a
Comissão Europeia, que se tornou numa espécie de capataz da Alemanha em conflito com os países mais
débeis, quando não era nada disso que a Comissão Europeia fazia no passado.
[Nota: os sublinhados são do blog.]
Entrevista na TSF: