2013-02-01
Fernanda Câncio no DN: "Do Rato e dos homens"
"Não fossem os portugueses ainda com emprego ficar mesmerizados com os recibos do
ordenado de janeiro, o PS encenou, esta terça-feira, um grandioso espetáculo no
Rato. Coisa shakespeariana: um rei fraco rodeado de lugares-tenentes aos gritos
de deslealdade e conspiração ante o anúncio de uma pretensão ao trono, uma
reunião à porta fechada e um final em que o monarca, depois de chamar e deixar
chamar tudo a quem possa pô-lo em causa, abraça o concorrente que não chega a
sê-lo e assume o compromisso de com ele trabalhar em prol da união do reino.
....
"Quanto a este, alcaide valoroso e respeitado, com legítimas aspirações ao trono,
renunciou a bater-se por ele quando ficou livre. Desde a coroação, porém, não
perde uma ocasião de demonstrar o seu desagrado e até desprezo pelo ora rei.
Era, pois, previsível que aglutinasse a esperança dos que consideram estar o
reino mal dirigido e veem nele a esperança da vitória contra o inimigo e a
salvação do povo. Como explicar, pois, que na famosa noite, quando todos
esperavam que se perfilasse como candidato ao trono - o que só pode decorrer do
facto de o ter confirmado aos próximos - se tenha ficado?
...
"Seja qual for a resposta certa (senão todas), sabemos, como sabem os
protagonistas, isto: que na noite de terça algo se partiu no PS, e não há
pantomina de união que o disfarce. O trono pode ter sido segurado, mas o reino
está longe de seguro."